SÍNTESE ECONÔMICA | MAIO 2020
BRASIL: Copom reduz Selic em 75 p.b. 1,2 milhão de empregos formais destruídos em meio à pandemia
MUNDO: EUA registram retração da atividade e mantêm estímulos. China tem início de retomada
O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic em 75 p.b. e sinalizou novo corte na próxima reunião, de magnitude não superior à atual. Em decisão unânime, a Selic passou de 3,75% para 3,00% a.a.. A avaliação do Copom é de que a pandemia está provocando efeitos superiores em termos de desaceleração do crescimento global, queda dos preços das commodities e aumento da volatilidade dos preços de ativos financeiros, o que torna o ambiente desafiador para as economias emergentes. Com relação ao cenário básico para a inflação, o Comitê avalia que existem riscos em ambas as direções. De um lado, o nível elevado de ociosidade, com a redução da demanda por conta dos efeitos do isolamento social, deve produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Por outro lado, uma maior deterioração da trajetória fiscal, em função do aumento de gastos relacionados à pandemia, bem como a incerteza em relação às reformas podem elevar os prêmios de risco para o país, elevando a taxa de juros estrutural. Assim, o Comitê indicou que esse cenário prescreve estímulo monetário elevado, mas a magnitude dos ajustes adicionais dependerá tanto dos desdobramentos de política fiscal como da evolução dos indicadores de atividade.
O PIB do 1º trimestre de 2020 registrou queda de 1,5%. Em relação ao mesmo período do ano passado, o recuo foi de 0,3%. Na comparação trimestral, pela ótica da demanda, houve queda do consumo das famílias (-2,0%) e das exportações (0,9%). Pela ótica da oferta, apresentaram queda os setores de serviços (-1,6%) e indústria (-1,4%), enquanto agropecuária apresentou crescimento (0,6%). O impacto das medidas de isolamento social sobre o crescimento do 1º trimestre de 2020, que afetou apenas 1/6 do trimestre, corrobora nossa expectativa de queda de magnitude expressiva da atividade no 2° trimestre. Para 2020, nossa projeção para o PIB é de -7,6%.
Houve destruição recorde de 1,2 milhão de empregos formais nos meses de março e abril. Segundo os indicadores do Caged e com o nosso ajuste sazonal, o saldo negativo de criação de vagas de emprego formal foi de 222 mil em março e de 958 mil em abril, o pior mês já registrado. Adicionalmente, segundo os dados da PNAD, que abrangem também o setor informal, quase 3 milhões de pessoas deixaram de ser ocupadas em abril. No entanto, o fato de muitos trabalhadores deixarem de ter procurado emprego no mês fez com que a elevação do desemprego tenha sido pequena. Se mantivéssemos a taxa de participação constante, a taxa de desemprego com ajuste sazonal seria de 14,2%, ante os 12,0% efetivamente registrados no mês. Os números mostram a magnitude do efeito das medidas de isolamento social sobre a atividade, e consequentemente, sobre o mercado de trabalho. Segundo dados do Ministério do Trabalho, 8,1 milhões de trabalhadores tiveram redução de jornada ou suspensão temporária do mercado de trabalho até maio. Nas próximas leituras, os indicadores de emprego devem continuar repercutindo a evolução desfavorável da atividade.
A inflação ao consumidor (IPCA) apresentou deflação em abril e na prévia (IPCA-15) de maio. Em abril o índice variou -0,31%, Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) registrou deflação, de -0,01%, ao passo que, em doze meses, houve desaceleração de 2,8% para 2,4%. Já o IPCA-15 de maio variou -0,59%. Ambos resultados sinalizam continuidade do cenário benigno para a inflação. Para esse ano, nossa projeção é de 1,6%, abaixo do piso da meta do Banco Central (de 2,5%).
Nos EUA, atividade econômica sofreu retração histórica em abril. O país registrou destruição de 20,5 milhões de vagas de emprego no mês, levando a taxa de desemprego a 14,7%. A medida mais ampla de desemprego, considerando aqueles que deixaram de buscar trabalho, alcançou 22,8%. O resultado significou a maior alta desde 1939. As vendas no varejo recuaram 16,4% e a produção industrial recuou 11,2% em abril, ambos em comparação com março. Os resultados são compatíveis com retração da ordem de 10% do PIB, em função dos impactos da pandemia.
Nesse cenário, o Fed indicou que o momento prescreve estímulos monetários. Em ata da reunião na qual o Banco manteve a taxa de juros no intervalo de 0,25% a.a. e 0% a.a., os membros reforçaram que o cenário ainda contempla uma incerteza extraordinária para a economia, decorrente da evolução da pandemia. Sobre a atividade, há o risco de manutenção da taxa de desemprego em patamar elevado e de queda do consumo das famílias. Já a inflação deve se manter abaixo da meta, com queda da demanda, fortalecimento do dólar e redução do preço do petróleo. Com isso, parte do comitê prevê a possibilidade de aumento dos estímulos e de sua duração. Ainda em um cenário bastante incerto, o Fed deverá manter ou acelerar os estímulos nos próximos meses.
Na China, começa a retomada gradual da atividade, mas diante das incertezas autoridades decidem não fixar meta de crescimento para o ano. A produção industrial do país se elevou 3,9% na comparação anual em abril e as vendas no varejo recuaram 7,5%, após queda de 15,8% em março. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, defendeu que o país deve priorizar a estabilização do emprego e a redução da pobreza. Nesse sentido, o governo não adotou meta de crescimento, mas fixou como objetivo a criação de 9 milhões de empregos neste ano, com aumento dos gastos em infraestrutura. De modo geral, os dados diários de atividade na China sugerem uma retomada gradual, compatível com crescimento de cerca de 2% do PIB em 2020.