SÍNTESE ECONÔMICA DE OUTUBRO
Brasil: Copom eleva a Selic para 7,75% e indica alta de mesma magnitude em dezembro
Mundo: Fed reforça intenção de reduzir em breve o programa de compra de ativos
O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 150 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 6,25% para 7,75%, confirmando as expectativas do mercado. O Copom indicou que, diante da deterioração do balanço de riscos e elevação das projeções de inflação, o ritmo de 150 pb de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que contempla 2022 e 2023. De acordo com o comunicado, parte da piora recente do balanço de riscos se deve a recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal, os quais elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação.
O Copom indicou ser apropriado que a taxa de juros avance ainda mais no território contracionista. Na avaliação sobre o cenário, o comitê pontuou que indicadores recentes mostram evolução da atividade econômica aquém da esperada. Na conjuntura externa, a avalição é de que o ambiente tem se tornado menos favorável, pois a inflação mais persistente deve ensejar reação por parte dos bancos centrais, tornando o ambiente mais desafiador para economias emergentes. A pressão inflacionária interna segue elevada, com alta principalmente em componentes voláteis, embora também se observem pressões em itens associados à inflação subjacente. Para a próxima reunião, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. Mantendo a linha dos comunicados anteriores, o comitê enfatizou que os próximos passos poderão ser ajustados em função da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções de inflação para o horizonte relevante. Esperamos que o Banco Central eleve a taxa de juros novamente em 150 pb na reunião de dezembro, encerrando o ano com a taxa Selic em 9,25% ao ano. O atual ciclo de aperto monetário deverá ser finalizado em março do próximo ano, com a taxa básica de juros em 10,50%.
Em outubro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 1,20%, apresentando aceleração em relação ao avanço de 1,14% no IPCA-15 de setembro. A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração, de 10,08% no fechado de setembro para 10,34% em outubro. A maior surpresa se concentrou no item passagens aéreas, que fez com o núcleo de serviços acelerasse de 0,63% para 1,03%. No entanto, mesmo quando descontamos esse item volátil, a medida de serviços subjacentes também teve aceleração relevante (0,37% para 0,66%), com inflação disseminada entre itens ligados à reabertura econômica, como no caso de alimentação fora do domicílio (0,97%). No sentido oposto, a inflação de bens industriais teve desaceleração (0,98%, ante 1,05%), puxada por bens duráveis e produtos de higiene pessoal, os quais foram parcialmente compensados pela expressiva aceleração de itens de vestuário. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a leitura de outubro corroborou essa piora do quadro inflacionário. A média da variação dos núcleos acelerou de 0,68% para 0,82%, alcançando 6,7% em 12 meses. Projetamos que o IPCA encerre o ano com variação de 9,5%.
Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de outubro, na qual os membros reafirmaram a intenção de iniciar em breve o processo de redução dos estímulos. Em linhas gerais, o comitê defende que, diante da evolução da economia, o início da redução da compra de ativos no mercado americano poderá ter início já em meados de novembro. A redução seria composta pela diminuição mensal de US$ 10 bilhões nas compras de títulos públicos (atualmente em US$ 80 bilhões ao mês) e US$ 5 bilhões em títulos do mercado imobiliário (atualmente em US$ 40 bilhões ao mês). O programa de compras seria finalizado em meados do próximo ano. A necessidade de aumento de juros em 2022, no entanto, não é defendida de maneira majoritária pelo comitê. Sobre o cenário econômico, os membros seguem com a avaliação de que a aceleração recente da inflação reflete um movimento temporário, ainda que reconheçam o prolongamento acima do esperado dos choques. Na atividade, a avaliação é de continuidade da expansão, ainda que com alguma perda de força na margem em decorrência dos efeitos da variante Delta.
Ainda nos EUA, o PIB do 3º trimestre avançou abaixo do esperado na margem. No 3º trimestre, o crescimento anualizado de 2% veio abaixo da expectativa de mercado (2,6%). A desaceleração em relação ao 2º trimestre (6,7%) foi reflexo sobretudo do consumo das famílias (1,6%, ante 12%), que contou com contribuição positiva de serviços (sobretudo viagens, transporte e saúde) e negativa de bens. Investimentos residenciais se retraíram 1,97% por conta da oferta limitada de material de construção, mas foram compensados pelo crescimento de investimentos não-residenciais. Por fim, a contribuição positiva dos estoques foi inferior ao esperado. No ano, a expectativa para o PIB dos EUA é de crescimento de 5,8%.
Na China, o PIB avançou 4,9% no terceiro trimestre, ante 7,9% no trimestre anterior, abaixo da expectativa do mercado (5,0%). Com relação ao desempenho da atividade em setembro, a produção industrial, na comparação interanual, avançou 3,1%, abaixo do consenso de mercado (3,8%). Já as vendas no varejo tiveram expansão de 4,4%, acima da (3,5%), enquanto os investimentos em ativos fixos (FAI) expandiram 7,3%, ante expectativa de 7,9%. Nossa expectativa é de crescimento de 8,1%, embora as recentes frustrações insiram viés de baixa para a projeção. Esse viés de baixa também se mantém para a projeção de 5% em 2022, decorrente da incerteza que envolve o desempenho do mercado imobiliário.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve a política monetária inalterada, com o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. O total do Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP, na sigla em inglês) foi mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE considerar encerrado o cenário de crise do coronavírus. Em sua entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, ressaltou que a inflação mais alta é fenômeno temporário, devendo avançar ainda mais no curto prazo, mas desacelerar no próximo ano. Nesse contexto de inflação mais pressionada, o BCE não deverá renovar o PEPP após março do próximo ano. Ainda assim, com a projeção de inflação no horizonte mais longo (2023) distante da meta (1,5% ante 2%), o BCE deverá manter a política monetária acomodatícia por um período prolongado.