SÍNTESE ECONÔMICA DE OUTUBRO

SÍNTESE ECONÔMICA DE OUTUBRO

Brasil: Selic é mantida em 2,0% a.a e Copom sinaliza estabilidade por período prolongado

Mundo: EUA e Zona do Euro mostram recuperação do PIB no 3º trimestre

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 2,00% a.a., e sinalizou que a taxa de juros deve permanecer próxima do patamar atual por período prolongado. No comunicado, o Comitê afirma que a forte retomada nas principais economias parece ter sofrido alguma desaceleração por conta da ressurgência da pandemia. Ademais, há incerteza frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia. Com relação à inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, o maior nível de ociosidade, especialmente no setor de serviços, pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, risco que se intensifica em ambiente de alta incerteza e maior poupança precaucional. Por outro lado, o prolongamento de medidas fiscais em resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país ou frustrações em relação às reformas podem elevar os prêmios de risco.  Nesse sentido, o risco fiscal gera uma assimetria altista no balanço de riscos. Mantendo a cautela necessária por razões prudenciais e de estabilidade financeira, o Copom segue com a “prescrição futura” (o “forward guidance”) que a Selic deve permanecer onde está por período prolongado, frisando que as condições para a política seguem satisfeitas, a saber, expectativas de inflação abaixo da meta e ancoradas e regime fiscal inalterado. Avaliamos que a Selic deva permanecer nesse patamar até pelo menos o 2° semestre de 2021.

Mesmo com alta de preços no atacado, o cenário para inflação ainda segue benigno. A prévia da inflação de outubro (IPCA-15) variou 0,94%, em comparação a 0,45% na leitura de setembro, com surpresas altistas em transportes (+1,34%) e artigos de residência (+1,41%). O grupo alimentação também seguiu pressionando o índice, com inflação de 2,24%. A respeito das medidas de inflação subjacente, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) registrou alta de 0,54% no mês e de 2,3% em 12 meses. Em nossa visão, a normalização da demanda, com a retomada de atividades interrompidas no começo da pandemia, pode manter a inflação um pouco pressionada.  Nossa projeção para 2020 é de 3,1%.

Os índices de atividade econômica de agosto apontam retomada econômica, mesmo que ainda em nível abaixo do patamar pré-crise. O Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), que atua como prévia do PIB, variou 1,1% na margem em agosto. O indicador refletiu as altas da indústria (3,6%), do comércio (4,6%) e do setor de serviços (2,9%) no mês. Na comparação interanual, houve recuo de 3,9%. O indicador se situa 4,0% abaixo do patamar pré-crise. Como apontado por indicadores de alta frequência, o 3º trimestre do ano deve registrar significativa recuperação da grande queda do PIB no 2º trimestre decorrente das medidas de contenção da epidemia. Para 2020, esperamos queda de 4,7% do PIB.

No cenário global, EUA e Zona do Euro apresentaram crescimento recorde do PIB na margem. EUA teve crescimento de 7,4% na margem no 3º trimestre, após uma queda de 9% no trimestre anterior. Por outro lado, o PIB do país ainda se mantém 3,5% abaixo do nível do final de 2019. Na Zona do Euro, o PIB do 3º trimestre mostrou expansão recorde de 12,7% na margem.  Por país, o crescimento mais expressivo ocorreu na França (18,2%), seguida pela Espanha (16,7%) e Itália (16,1%). Na Alemanha, maior PIB da região, a expansão foi de 8,2%. O ritmo de continuidade da retomada econômica em ambas regiões ainda permanece incerto, dependendo do controle da pandemia e da dinâmica econômica após a retirada de estímulos fiscais. Para 2020, esperamos queda de 5,2% do PIB dos EUA, e contração de 8% para o PIB da Zona do Euro.

Diante desse cenário, bancos centrais reforçaram necessidade de manutenção de política econômica acomodatícia. Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros no intervalo de 0%a 0,25% e adotou de forma unânime a introdução da política de ‘forward guidance’. Os membros do comitê também demandaram maiores discussões sobre compra de títulos nas próximas reuniões. O comitê segue preocupado com a possibilidade de menor suporte fiscal no país, bem como com o aumento do risco financeiro decorrente do aumento da inadimplência e vulnerabilidade dos pequenos negócios nos próximos meses. Na Zona do Euro, o BCE manteve a política emergencial de compra de títulos e ativos financeiros além de manter o patamar da taxa de depósito em -0,5% a.a., da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. ,5% a.a., da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou que a recuperação econômica na região se torna incerta com segunda onda de COVID-19 e as novas medidas de restrição adotadas na França e Alemanha para conter a pandemia. Com essa perspectiva, o BCE indicou que a probabilidade é elevada de anunciar novos estímulos na reunião de dezembro.

Na China, o PIB surpreendeu negativamente no 3º trimestre, apesar de indicadores de setembro apresentarem continuidade da recuperação.  Houve alta de 4,9% na variação anual, ante queda de 3,2% no 2ª trimestre. Na contramão dessa frustração com o PIB, os indicadores de setembro superaram as expectativas. A produção industrial avançou 6,9% e as vendas no varejo apresentaram crescimento de 3,3% em termos anuais. Já o dado de investimento, após recuo de 0,3% em agosto, teve expansão de 0,8%. Segundo os nossos cálculos, o nível do PIB já se encontra no mesmo patamar do pré-crise. Os indicadores antecedentes mostram que essa recuperação terá continuidade.  No ano, a China deverá crescer ao redor de 2,5%.

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