SÍNTESE ECONÔMICA DE NOVEMBRO
Brasil: Ata reforça o cenário de Selic em patamar significativamente contracionista
Mundo: FOMC anuncia o início do processo de redução das compras de ativos
Na ata da última reunião do comitê de política monetária (COPOM), na qual a Selic foi elevada de 6,25% para 7,75%, os membros reforçaram que o grau de aperto monetário deverá ser significativamente mais contracionista do que o utilizado no cenário básico. Essa percepção decorre dos recentes questionamentos fiscais que, ao elevar o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentaram a assimetria altista no balanço de riscos. Com isso, cenários alternativos, com taxas de juros neutras mais elevadas, aumentaram sua probabilidade de ocorrência na visão do Comitê. Diante desse cenário, diversas simulações foram realizadas com diferentes trajetórias de política monetária para avaliar a convergência da inflação para as metas, inclusive cenários com ritmos de ajuste maiores que 1,5 p.p. A trajetória de 1,5 p.p foi a escolhida, pois é consistente, nesse momento, com a convergência para a meta em 2022. Reconhecendo a piora no balanço de riscos para a inflação, revisamos a nossa projeção de Selic para o final do atual ciclo de aperto de juros de 10,50% para 11,75%.
Em novembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA- 15) variou 1,17%, ante avanço de 1,20% em outubro. O resultado veio acima da nossa projeção (1,14%) e da mediana do mercado (1,12%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração, de 10,34% no fechado de outubro para 10,70% em novembro. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a desaceleração frente ao mês de outubro foi menos intensa do que o esperado. Em novembro, a média da variação dos núcleos desacelerou de 0,95% para 0,87%, ante expectativa de 0,78%. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 7,1%. De maneira geral, o cenário inflacionário segue desafiador. Ocorreram surpresas em praticamente todas aberturas. A reversão esperada da alta de bens industriais não está ocorrendo. Inclusive, voltou a acelerar na última divulgação, aumentando a preocupação em relação a possibilidade de ver a dissipação desse choque de preços nos primeiros meses de 2022. Diante desse cenário, revisamos nossa projeção para o IPCA deste ano para 10,3%.
O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) teve retração de 0,3% na margem em setembro. O indicador prévio do PIB registrou resultado em linha com a nossa projeção e um pouco melhor do que as expectativas do mercado (-0,4%). Na comparação interanual, o índice teve alta de 1,5%. O indicador repercutiu a queda do volume de serviços (-0,6%), das vendas do varejo (-1,1%) e da produção industrial (-0,4%) na margem em setembro. Com o resultado, o IBC-Br se encontra próximo ao nível pré-crise. A média do 3º trimestre representou queda de 0,3% em relação à média do 2º trimestre. De forma geral, o resultado corrobora a expectativa de desaceleração do PIB no 3º trimestre.
Nos EUA, o Fed anunciou o início do processo de redução do programa de compras de ativos. Conforme amplamente esperado, o Comitê anunciou que a partir do final de novembro as compras de títulos (atualmente em US$ 80 bilhões ao mês) serão reduzidas mensalmente em US$ 10 bilhões, enquanto os títulos do mercado imobiliário (atualmente em US$ 40 bilhões ao mês) serão reduzidos mensalmente em US$ 5 bilhões. Nesse ritmo, que poderá ser alterado segundo o comunicado, o programa de compras seria finalizado em meados do próximo ano. A respeito do cenário, a leitura de que a inflação é majoritariamente transitória ainda prevalece. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, defendeu a necessidade de ser paciente quando perguntado sobre a possiblidade de alta de juros imediatamente após o fim do programa de compras, reforçando em sua argumentação o quadro de incerteza sobre a dissipação dos choques de inflação, assim como a recuperação plena do mercado de trabalho.
A ata dessa reunião do Fed revelou uma maior preocupação com o cenário de inflação, com alguns membros defendendo uma redução mais rápida do programa de compra de ativos. Nesse contexto, avaliamos que o Fed deverá acelerar a retirada dos estímulos, muito provavelmente encerrando as compras de ativos em março, e iniciando o ciclo de alta de juros em julho, com uma nova alta no mês de novembro. Evidentemente, essa reação do Fed está condicionada ao cenário da nova variante do coronavírus. Caso os efeitos sobre a confiança e atividade se revelem permanentes, o Fed adotaria uma postura mais cautelosa na retirada dos estímulos.
Por fim, na China, os dados de atividade surpreenderam as expectativas em outubro. A maior surpresa ficou por conta das vendas no varejo. Na comparação interanual, o indicador apresentou expansão de 4,9%, acima da expectativa (3,6%), o que representou melhora diante da persistente desaceleração entre março e setembro deste ano. Essa perda de força repercutia as medidas de restrições à mobilidade em decorrência do aumento do número de casos de Covid-19 desde julho. A produção industrial avançou 3,5%, acima do consenso de mercado (3,0%), enquanto os investimentos em ativos fixos (FAI) expandiram 6,1%, ante expectativa de 6,4%. Nossa expectativa é de crescimento de 8,1% para a economia chinesa em 2021, embora as recentes frustrações no setor imobiliários insiram viés de baixa para a projeção. Esse viés de baixa também se mantém para a projeção de 5% em 2022.