SÍNTESE ECONÔMICA DE JUNHO
BRASIL: Copom manteve Selic em 13,75%, com sinalização de corte em agosto
MUNDO: Fed realizou pausa na elevação de juros, mantendo a taxa em 5,25%
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 13,75%, o Banco Central sinalizou a possibilidade de início de cortes na próxima reunião. Sobre o cenário externo, o Comitê destacou que os principais bancos centrais continuam determinados em conter a inflação, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em alguns casos. Em relação ao cenário doméstico, o Copom considerou que, apesar da surpresa positiva do PIB no primeiro trimestre, os indicadores recentes sugerem uma desaceleração gradual da atividade econômica, além de ressaltar que, não obstante o arrefecimento apontando pelos índices cheios de inflação, diversas medidas de inflação estão acima da meta. Na avaliação do cenário, o Comitê optou por elevar a estimativa da taxa de juros real neutra de 4,0% para 4,5%, influenciado pela possível elevação na taxa neutra dos principais países e pela persistência da atividade no Brasil, acompanhada de uma desinflação lenta, com componentes mais sensíveis à política monetária permanecendo acima do compatível com o cumprimento da meta. Por fim, na discussão sobre a condução da política monetária, a avaliação predominante foi de que o atual processo de desinflação poderia possibilitar um começo de ciclo de corte de juros na próxima reunião, enquanto o grupo minoritário apresentou uma postura mais cautelosa.
A respeito dos dados econômicos, a prévia da inflação mensal continuou a desacelerar em maio, com alta de 0,04% no mês. O IPCA-15 ficou levemente acima da expectativa do mercado e da nossa projeção (ambas de 0,02%), chegando a uma variação acumulada em 12 meses de 3,4%, ante 4,1% abril. Com relação aos núcleos da inflação, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou recuo de 5,4% em abril para 4,9% em maio. Em linha com esse resultado, a variação acumulada em doze meses seguiu desacelerando em comparação com o mês anterior (6,2% ante 6,8%). Dessa forma, mantemos nossa projeção de 2023 em 5,0% e revisamos nossa projeção de 2024 de 3,6% para 3,5%, diante do recuo relevante das projeções de 2023 e da definição quanto a manutenção da meta oficializada pelo Conselho Monetário Nacional.
O PIB do 1º trimestre registou avanço de 1,9% na margem, superando a nossa projeção mediana das expectativas do mercado (1,2%). Pela ótica da oferta, a agropecuária teve o melhor desempenho e foi responsável por 1,7 p.p. do crescimento total no trimestre, com alta de 21,6% na margem derivada da safra recorde de soja e milho no período. Em serviços, houve avanço de 0,6%, com as contribuições mais relevantes derivadas de intermediação financeira (1,2%) e administração pública (0,5%). Por sua vez, os destaques negativos vieram de outros serviços (-0,5%) e serviços de informação (-1,4%). Pela ótica da demanda, o maior destaque foi o desempenho líquido do setor externo, com queda de 0,4% na margem das exportações inferior à de 7,1% das importações na comparação com o trimestre anterior. Tanto o consumo das famílias como o do governo tiveram alta, avançando respectivamente 0,2% e 0,3% na margem. O destaque negativo foi a queda de 3,4% da formação bruta de capital fixo, decorrente do menor consumo aparente de bens de capital e da construção civil. Com isso, realizamos uma revisão altista da projeção do PIB para este ano, esperando crescimento de 1,9%, porém ainda considerando um cenário de desaceleração mais intensa da atividade para as próximas leituras.
No cenário internacional, o Banco Central americano (Fed) interrompeu a sequência de alta da taxa de juros e a manteve no intervalo entre 5,00% e 5,25%, conforme a expectativa do mercado. Em relação ao cenário, o comitê de política monetária (FOMC) reafirmou a continuidade da expansão moderada da atividade, a condição apertada do mercado de trabalho e o nível elevado da inflação. Novamente, apesar de ressaltar a solidez do sistema bancário, o comitê chamou atenção para a possibilidade de condições de crédito mais apertadas e a incerteza dos efeitos desse panorama. Com viés de alta para a reunião de julho, o Fed justificou a opção por pausar a alta de juros como uma estratégia que possibilitará uma avaliação do efeito defasado do aperto monetário. Em relação às projeções, houve alta para crescimento do PIB e inflação, e redução para a projeção da taxa de desemprego. Como implicação desse cenário, o comitê ainda projeta duas altas de juros de 25 pb nesse ano.
Na Europa, por sua vez, o Banco Central Europeu (BCE) desacelerou o ritmo e elevou a taxa de juros em 25 pontos-base. A inflação ainda pressionada, combinada com o aperto em curso do mercado de crédito, foi determinante para a decisão do BCE, dentro do esperado pelo mercado e desacelerando em relação à alta de 50 pb das reuniões anteriores. Com isso, a taxa de juros aplicável às operações de refinanciamento e as taxas de juros aplicáveis às linhas permanentes de liquidez e de depósito subiram para 3,75%, 4,00% e 3,25%, respectivamente. Além de reforçar que a inflação está e seguirá elevada por algum tempo, a presidente da instituição Christine Lagarde destacou, na coletiva de imprensa após a decisão, que os juros continuarão subindo nas próximas reuniões, dado que a política monetária não está em nível suficientemente restritivo para trazer o índice de preço de volta para a meta de 2%. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de mais 2 altas dos juros, de 25 pb, em junho e julho, levando a taxa básica para 3,75%.
Por fim, após forte crescimento da economia chinesa, observado no primeiro trimestre do ano, os sinais de moderação da atividade têm se consolidado. Dentro do esperado, o índice PMI do setor de manufatura mostrou leve alta de 48,8 para 49,0 pontos e o indicador dos setores não industriais (que consideram serviços e construção) recuou de 54,5 para 53,2 pontos, entre maio e junho. Somado a isso, dados de alta frequência apontam que o arrefecimento das vendas de imóveis não foi interrompido, aumentando as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento. A moderação da indústria e a piora do setor imobiliário residencial justificam nossa expectativa mais cautelosa para o crescimento deste ano. Mesmo esperando medidas de estímulos, essas devem ser contidas e serão capazes apenas de estancar a desaceleração em curso.