No Brasil, o Copom manteve a taxa Selic em 6,5% a.a e abriu a discussão sobre o corte de juros nos próximos meses. No âmbito global, os bancos centrais sinalizaram a disposição em adotar novos estímulos.
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 6,5% a.a. e condicionou alterações na política monetária ao avanço concreto das reformas estruturais. No comunicado, o Copom avaliou que o processo de recuperação da atividade foi interrompido. Com relação ao nível de preços, a inflação e os seus núcleos seguem bem-comportados, bem como as expectativas permanecem ancoradas. Ainda, o comitê reconhece que o cenário global se tornou menos adverso devido à alteração das expectativas em relação à política monetária, apesar do risco ainda presente de uma desaceleração global. Nesse contexto, defendeu como preponderante a necessidade de avanço das reformas estruturais para a redução dos prêmios de risco. Em um segundo plano, foi mantido o risco relacionado à retomada gradual da atividade, assim como a possibilidade de uma deterioração do cenário externo. Por fim, o parágrafo que indicava prudência e defendia a ‘necessidade do Copom avaliar a evolução da economia brasileira sem os efeitos dos diversos choques e da incerteza’ foi excluído. Deste modo, avaliamos que o atual balanço de risco para a inflação abre a possibilidade de corte de juros nos próximos meses, condicionado, entretanto, à aprovação da reforma da previdência. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo. Diante disso, mantemos o cenário de cortes na taxa Selic no segundo semestre, atingindo 5,5% a.a. ao final de 2019.
O cenário econômico segue com a inflação em patamar baixo e a recuperação da atividade em ritmo inferior ao esperado. A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) registrou a menor alta para junho em 13 anos. No acumulado em 12 meses, o indicador desacelerou de 4,9% em maio para 3,8% em junho. Para 2019, esperamos que o IPCA encerre com variação de 3,7%, abaixo da meta do Banco Central para 2019, de 4,25%. Em termos de atividade, o indicador mensal de atividade (IBC-Br) registrou nova queda em abril. Após recuo de 0,3% em março, o IBC-Br caiu 0,5% em abril, resultado abaixo da nossa estimativa (-0,4%) e do mercado (-0,2%). Na margem, o índice registrou queda de 1,5% no acumulado do trimestre até abril, resultado que reforça a tendência apresentada por outros dados de atividade, que mostram uma dinâmica moderada da economia no 2º trimestre, porém condizente com a nossa expectativa de crescimento do PIB de 0,8% em 2019.
Nos EUA, o banco central (Fed) manteve a taxa de juros, mas sinalizou a possibilidade de alterações nas próximas reuniões. Os juros permaneceram entre 2,25% a.a. e 2,50% a.a., conforme o esperado, em decisão que contou com uma dissidência para corte de 25 pontos-base. No comunicado, permaneceu a avaliação de que a atividade segue robusta e a trajetória esperada da inflação permanece ao redor da meta (2,0%) no final do ano. No entanto, o Fed reconheceu que as incertezas aumentaram. Diante disso, foi excluído do comunicado a necessidade de ‘paciência’ quanto aos próximos passos da política monetária, substituída pela necessidade de ‘monitorar atentamente’ as implicações do aumento de risco para o cenário. Além disso, entre os membros do Fed houve redução da expectativa de taxa de juros para 2020, que agora contempla um corte na taxa. Tendo em vista a perspectiva de continuidade das incertezas que cercam a atividade, bem como o horizonte de inflação contida, avaliamos que o Fed reduzirá em 100 pontos-base a taxa de juros nesse ano.
O Banco Central Europeu (BCE) demonstrou confiança no cenário de recuperação da atividade e de convergência da inflação, mas afirmou que todas as opções de estímulo estão em aberto. Conforme o esperado, o BCE manteve a taxa de juros básica (0,00% a.a.), assim como as taxas de depósito (-0,40% a.a.) e de empréstimos (0,25% a.a.). No comunicado, o BCE prorrogou o prazo de manutenção dos juros nesse patamar para ’pelo menos até o 1º semestre de 2020’. Já no Fórum Anual do BCE, Draghi demonstrou desconforto com o fato de a inflação estar convergindo para a meta de forma mais lenta do que o esperado, enfatizando também os riscos baixistas em torno da atividade. Com esse pano de fundo, o presidente do Banco Central Europeu demonstrou que pretende adotar novos estímulos nas próximas semanas caso o cenário não melhore. Medidas como o corte da taxa de juros e até mesmo a retomada das compras de títulos estariam sendo analisadas pelo BCE. Após o discurso enfático de Draghi, avaliamos que o BCE reduzirá a taxa de depósito em 10 pontos-base (para -0,5% a.a.) na reunião de setembro.
Na China, a atividade continuou desacelerando em maio, com exceção das vendas no varejo. No período de janeiro a maio, os investimentos em ativos fixos (FAI) expandiram 5,6% na comparação anual, desacelerando em relação à alta de 6,1% no resultado até abril. Com relação à indústria, houve crescimento de 5,0% em termos anuais, abaixo da expectativa do mercado e do registrado no mês anterior (ambos de 5,4%). As vendas no varejo, por seu turno, voltaram a acelerar, com alta de 8,6% em maio, acima da expectativa (8,1%) e do registrado em abril (7,2%), na mesma base de comparação. Esses dados mostram um menor dinamismo da economia doméstica mesmo após estímulos do governo nos últimos meses. Diante da escalada da guerra comercial e da desaceleração das concessões de crédito, o governo deverá adotar novas medidas de estímulo para a atividade, tendo em vista atingir a meta do governo de crescimento no intervalo entre 6,0% e 6,5% para o ano.