SÍNTESE ECONÔMICA DE JANEIRO

SÍNTESE ECONÔMICA DE JANEIRO

BRASIL: Ata do Copom sinaliza remoção gradual do estímulo monetário extraordinário.

MUNDO: China cresce acima do esperado. Fed e ECB mantém estímulos.

 

Comitê de Política Monetária (Copom) indica em ata que alguns membros questionam a manutenção do grau de estímulo extraordinariamente elevado. Na ata da última reunião, na qual a Selic foi mantida em 2,00%, o Comitê afirmou que, neste momento, considera adequado tal nível de estímulo monetário, mas que as condições de manutenção do forward guidance deixaram de ser satisfeitas. Sobre essas condições, o Copom destaca as projeções e expectativas de inflação, que já se encontram suficientemente próximas da meta para o horizonte relevante de política monetária. Com isso, o Copom deixa de se comprometer a não reduzir o grau de estímulo monetário, conduzindo a política monetária de acordo com a análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos. De toda forma, o Banco Central defende que a retirada do forward guidance não implica mecanicamente em uma elevação da taxa de juros, mas a ata revelou que alguns membros do comitê julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial. Diante de um cenário mais pressionado de inflação, antecipamos o início do ciclo de retirada do estímulo extraordinário para a próxima reunião, em março. Para o encerramento do ano, mantivemos a Selic em 4%.

IPCA de dezembro e prévia de janeiro (IPCA-15) mostram cenário de inflação pressionada no curto prazo. A inflação de dezembro variou 1,35% na margem, acima do esperado, com o IPCA fechando o ano de 2020 em 4,52%. Já a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de janeiro variou 0,87%, abaixo do consenso de mercado, mas com uma abertura desfavorável. A surpresa baixista ficou concentrada em alimentos e combustíveis, componentes que costumam ter grande flutuação e, por isso, não compõem as principais medidas de núcleo de inflação. A média desses núcleos, que são métricas que justamente excluem ou suavizam itens voláteis, registrou variação um pouco acima do projetado, sinalizando alguma pressão à frente. A nossa perspectiva é de novas escaladas da inflação interanual nos próximos meses, subindo para próximo de 6% em meados do ano. Para o fim do ano, projetamos variação de 3,6% para o IPCA, valor próximo à meta do BCB, de 3,75%.

Atividade tem avanço adicional em novembro. O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br), o indicador prévio do PIB, avançou 0,6% na margem em novembro. O resultado refletiu as altas da indústria (1,2%), do comércio (0,6%) e do setor de serviços (2,6%) no mês. Na comparação interanual, o índice teve queda de 0,8%. O indicador se situa 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia. Com os últimos dados de atividade divulgados, nosso tracking do PIB do 4º trimestre passou para 2,2% na margem. Para 2020, esperamos queda do PIB de 4,5%.

Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% e 0,25% e indicou que o ritmo de recuperação econômica moderou recentemente, com perda de força concentradas nos setores mais atingidos pela pandemia. O banco central americano reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da estabilidade de preços. O presidente do Fed, Jerome Powell, declarou em entrevista que segue com a avaliação de que a pandemia ainda apresenta riscos consideráveis para a economia no médio prazo e que, portanto, qualquer discussão sobre retirada de estímulos é prematura. Nesse sentido, o presidente do Fed reforçou a importância do estímulo fiscal. Sobre a dinâmica de inflação, Powell defende que o Fed deve ser paciente, não reagindo a prováveis movimentos transitórios de alta nos preços. Diante de toda a incerteza oriunda da trajetória da epidemia e do impacto sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão presentes por um período prolongado.

Já na Zona do Euro, após o anúncio de estímulos na reunião de dezembro, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a política de juros e de compra de ativos. O BCE não alterou o Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês), mantido em € 1,85 trilhão em compra de ativos, com horizonte de compras até março de 2022 ou até o BCE julgar que a crise tenha se encerrado. Em entrevista, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu que os riscos negativos prevalecem, mas se tornaram menos pronunciados. De um lado, os riscos positivos contemplam o inicio da vacinação, a resolução do Brexit e das eleições do EUA, bem como a resiliência da indústria. Do lado negativo, Lagarde pontou a extensão das medidas restritivas de mobilidade, a variante mais contagiosa do coronavírus e a inflação persistentemente baixa. Avaliamos que as medidas de restrição terão impacto menor sobre a atividade em relação ao que foi observado na primeira onda.

O PIB da China surpreendeu positivamente no 4º trimestre. Houve alta de 6,5% na variação anual, ante alta de 4,9% no 3ª trimestre. Com essa variação, o PIB avançou 2,3% no ano. Segundo os nossos cálculos, o nível do PIB já se encontra em patamar acima do pré-crise. Reforçando a composição do ano, os indicadores de dezembro revelaram novo avanço da indústria e frustração com a demanda. A produção industrial avançou 7,3% em termos anuais, ante alta de 7% em novembro. As vendas no varejo apresentaram crescimento de 4,6%, após alta de 5% no mês anterior. Já o dado de investimento mostrou alta acumulada até dezembro de 2,9%, ante 2,6% até novembro. Em 2020, a atividade contou com uma política creditícia expansionista, além do impulso externo bastante favorável em decorrência da maior demanda global por bens. Nesse esse ano, a expectativa é que a normalização do consumo interno seja o principal vetor para o crescimento esperado de 8% do PIB.

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