SÍNTESE ECONÔMICA DE FEVEREIRO
BRASIL: Banco Central eleva taxa Selic para 10,75% a.a. e indica redução do ritmo de ajuste
MUNDO: Fed sinaliza que alta de juros está próxima e inflação nos EUA surpreende
O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 150 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 9,25% para 10,75% em fevereiro. O Copom indicou que a magnitude do ajuste é adequada para garantir a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2022 e, em maior grau, de 2023. O Comitê manteve a avaliação de que é apropriado avançar significativamente em território contracionista, principalmente diante do risco de desancoragem das expectativas de inflação mais longas e da piora das medidas subjacentes de inflação corrente. Para os próximos passos, o Banco Central indicou redução no ritmo de ajuste dos juros. Mantendo a linha dos comunicados anteriores, o Copom enfatiza que as próximas decisões poderão ser ajustadas em função da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções de inflação para o horizonte relevante. Com isso, esperamos elevação da taxa de juros em 100 pb na reunião de março e finalize o atual ciclo de aperto monetário em junho de 2022, com a taxa básica de juros em 12,75%.
Incorporando as surpresas positivas do setor de serviços e indústria em dezembro, o Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) teve avanço de 0,3% na margem. Na comparação interanual, o índice teve alta de 1,3%. O indicador repercutiu o crescimento na margem do volume de serviços (1,4%), da produção industrial (2,9%) e das vendas do varejo ampliado (0,3%) no mês. Com o resultado, o IBC-Br se encontra 0,5% acima do nível pré-crise. A média entre outubro e dezembro representa estabilidade em relação à média do 3º trimestre. De forma geral, o resultado mostra um quadro mais favorável para o PIB no 4º trimestre. Com isso, nossa projeção de PIB para o ano de 2021 permanece em 4,6%.
Em fevereiro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,99%, ante avanço de 0,58% em janeiro. A inflação acumulada em 12 meses apresentou aceleração, de 10,20% no IPCA-15 de janeiro para 10,76% em fevereiro. Em relação as projeções, o resultado veio acima da mediana do mercado (0,87%). Os maiores desvios vieram tanto de alimentação no domicílio como de bens industriais, com destaque para automóveis. Em serviços, o principal destaque foi educação (5,64%), com avanço dos cursos regulares de 6,69%, além de alimentação fora do domicílio (0,45%). Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal voltou a avançar, de 9,27% para 9,8%, refletindo a maior pressão em serviços. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 8,31%. Nossa expectativa é que o IPCA encerre 2022 com variação de 5,7%.
Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de janeiro, na qual sinalizou alta de juros em breve. Em linhas gerais, o comitê comunicou que, diante de uma leitura de inflação mais persistente e elevada, somada ao quadro de mercado de trabalho bastante apertado, o processo de normalização da taxa de juros deverá ocorrer em breve. Além de ressaltarem que o atual cenário econômico prescreve um ciclo de alta de juros mais rápido do que em 2015, os membros destacam que a retirada dos estímulos poderá ser acelerada caso o processo de desinflação esperado não se confirme. Em linha com o comunicado, o comitê defende que a redução do balanço patrimonial deva ocorrer de modo mais rápido do que o observado entre 2017 e 2019. Como novidade, muitos membros mostraram preferência pela redução da participação relativa dos títulos imobiliários (MBS) no balanço.
A inflação ao consumidor (CPI) nos EUA apresentou variação acima da expectativa em janeiro. O CPI variou 0,6% na comparação mensal, enquanto o núcleo, métrica que exclui alimentos e combustíveis, avançou 0,5%. Em termos anuais, o núcleo do CPI teve variação de 6,0%, com alta de 4,1% em serviços e de 11,7% em bens, distantes da meta de 2%. A notícia negativa no mês ficou por conta da aceleração no núcleo de serviços, pressionado por itens de transportes (1,02%) e recreação (0,81%). Em relação aos indicadores de atividade econômica, a produção da indústria surpreendeu positivamente em janeiro, avançando 1,4% e com alta de 0,2% da indústria de transformação. O resultado ficou acima da mediana do mercado (0,4%), após recuo de 0,1% do índice em dezembro. Acompanhando a surpresa da indústria, as vendas no varejo tiveram alta na margem de 3,8% no mês, ante expectativa de 1,8%.
Na contramão do tônica global, os números de inflação na China seguem contidos. A inflação ao consumidor (CPI) apresentou alta de 0,9% em janeiro na comparação anual. O resultado ficou abaixo do esperado pelo mercado (1,0%), representando desaceleração em relação ao mês de dezembro, contando com deflação de alimentos. O núcleo da inflação apresentou alta de 1,2%, mesma variação do mês anterior. A inflação ao produtor (PPI), por sua vez, registrou desaceleração no índice para 9,1% em termos anuais ante 10,3% em dezembro, também abaixo da expectativa do mercado de 9,5%. A transmissão da inflação mais alta ao produtor para os preços ao consumidor segue bastante comedida e o núcleo de inflação estável, abaixo da meta de 2%. Com problemas de demanda interna, as autoridades chinesas deverão adotar novas medidas de estímulo fiscal e monetário nos próximos meses.