SÍNTESE ECONÔMICA DE DEZEMBRO
Brasil: Copom reforça cenário de estímulos. PIB do 3º trimestre apresentou alta de 7,7%.
Mundo: China continua recuperação. Fed mantém estímulos. Com avanço da pandemia, BCE amplia estímulos.
Comitê de Política Monetária (Copom) reafirma cenário em que grau de estímulo elevado é mantido e esclarece condições que modificariam o compromisso de manter a taxa de juros no atual patamar. Em dois documentos divulgados no mês, o Banco Central avaliou a evolução da inflação e da atividade econômica no país e detalhou as projeções e perspectivas para os próximos trimestres. Em ata de reunião na qual a Selic foi mantida em 2,00% a.a., os membros enfatizaram que as condições para manter o compromisso de não elevar a taxa de juros (o “forward guidance”) podem, em breve, não ser mais satisfeitas. Dentre as condições, duas foram destacadas: 1) as expectativas e projeções para a inflação de 2021 e 2) a mudança no horizonte relevante de política monetária. O segundo documento divulgado, o Relatório Trimestral de Inflação, trouxe a abertura da projeção do Banco Central para a inflação, que foi revisada para cima e se situa pouco abaixo da meta para 2021 e próxima à meta para 2022.
Em linhas gerais, os dois documentos reforçam o cenário no qual uma elevação da taxa de juros não acontecerá nos primeiros meses do próximo ano. O movimento dependerá, a nosso ver, da evolução da atividade e da inflação no começo de 2021, quando os efeitos dos auxílios emergenciais se dissiparão e o nível de mobilidade se recuperará.
O PIB do 3º trimestre de 2020 registrou alta de 7,7% na margem, abaixo das expectativas. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve recuo de 3,9%. Na comparação trimestral, pela ótica da demanda, houve crescimento do consumo das famílias (7,6%), do investimento (11,0%) e do consumo do governo (0,9%). Desempenho líquido do setor externo também foi positivo, apesar de queda nas exportações (-2,1%), as importações apresentaram recuo maior (-9,6%). Pela ótica da oferta, apenas a agropecuária apresentou queda (-0,5%). Os setores de serviços avançaram 6,3% e indústria, 14,8%. O resultado do 3º trimestre reflete a flexibilização das medidas de isolamento e retomada das atividades no país.
A atividade econômica avançou em outubro. O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br), indicador prévio do PIB, cresceu 0,9% na margem, refletindo as altas da indústria (1,1%), do comércio (2,1%) e do setor de serviços (1,7%) no mês. Na comparação interanual, o índice mantém queda de 2,6%. O indicador se situa 2,0% abaixo do patamar pré-pandemia. Com os últimos dados de atividade divulgados, nosso tracking do PIB do 4º trimestre permanece em 2,0% na margem. Para 2020, esperamos queda do PIB de 4,5%.
IPCA de novembro e prévia de dezembro (IPCA-15), mantiveram cenário benigno para a inflação. A inflação de novembro variou 0,89% na margem, acumulando alta de 4,3% nos últimos 12 meses. Já a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) de dezembro variou 1,06%, abaixo do esperado, com a média dos principais núcleos, que excluem ou suavizam itens voláteis, variando 0,39%. Em termos anuais, o IPCA-15 acumulado alta de 4,2%, mas os núcleos seguem abaixo da meta do Banco Central, crescendo 2,5% em doze meses. Isso sinaliza um cenário em que a inflação permanece comportada no próximo ano, em especial quando os choques que elevam a inflação corrente se dissiparem. Nossas projeções para o IPCA em 2020 e 2021 estão em 4,3% e 3,3%, respectivamente.
Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e apontou continuidade dos programas de estímulo (compra de ativos). Como sinalização, o Fed afirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da estabilidade de preços. As expectativas do Fed para a economia apresentaram melhora na reunião de dezembro. A projeção de contração do PIB americano em 2020 passou de 3,7%, na reunião de setembro, para 2,4% agora. A projeção para o desemprego em 2020 também melhorou, passando de 7,6% para 6,7%. Diante de toda a incerteza oriunda do vírus e do impacto sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão por um período prolongado.
Com a ressurgência de casos de Covid-19, Banco Central Europeu (BCE) ampliou políticas de compra de ativos e refinanciamento. O BCE manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. A novidade veio com a ampliação e extensão das políticas de compra de títulos e refinanciamento que o banco já vinha implementando. O Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi expandindo em 500 bilhões de euros, chegando à 1,85 trilhões em compra de ativos ,e o horizonte de compras foi estendido até março de 2022. O banco também anunciou a ampliação das políticas de refinanciamento de longo prazo (TLTRO III e PELTROs). Na entrevista após a reunião de dezembro, a presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou que a segunda onda de COVID-19 e as novas medidas de restrição adotadas para conter a economia podem resultar em contração significativa na região. Por outro lado, a inflação se mantém baixa. Diante desse cenário, Lagarde deixou claro que o BCE segue determinado a manter o grau necessário de política monetária acomodatícia.
Indicadores econômicos de novembro da China reforçam a rápida recuperação econômica do país. A produção industrial chinesa cresceu 7,0% em relação a novembro do ano passado, após alta de 6,9% em outubro. Já as vendas no varejo cresceram 5,0% na mesma métrica, uma aceleração frente ao avanço de 4,3% em outubro. Novembro foi o quarto mês consecutivo de alta do comércio, importante indicador da tendência de consumo no país asiático. A China deve manter trajetória de aceleração da retomada, crescendo cerca de 2,5% em 2020.