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RETROSPECTIVA MENSAL

Setembro de 2024

Resultado do PIB do segundo trimestre novamente superou as expectativas, favorecido pelo consumo e pelos investimentos. Pela ótica da oferta, dentre os três grandes setores, apenas a agricultura teve retração na margem (-2,3%), afetada por quedas na produção de soja e milho e pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A indústria, por outro lado, avançou 1,8% em relação ao 1º trimestre, puxada pela indústria de transformação (1,8%), enquanto houve aumento disseminado dos serviços (1,0%), com maiores contribuições positivas do comércio (1,4%), intermediação financeira (2,0%), administração pública (1,0%) e outros serviços (1,6%). Pela ótica da demanda, a maior contribuição partiu do consumo das famílias (1,3%), repercutindo o aumento da massa real de salários e das transferências governamentais no período. A formação bruta de capital fixo também mostrou avanço expressivo, impactada sobretudo pela construção civil, que contou com expansão da oferta de crédito e investimentos em infraestrutura no ciclo pré-eleitoral. A maior surpresa consistiu no crescimento de 3,1% do consumo do governo no trimestre. O setor externo, em sentido oposto, contribuiu negativamente mais uma vez, com a alta das exportações sendo amplamente compensada pelo crescimento das importações.

Em suma, além da surpresa positiva, a composição do crescimento do PIB reforça o quadro de demanda doméstica ainda bastante aquecida, o que indica uma desaceleração mais lenta à frente do que inicialmente previsto. Com isso, revisamos nossa projeção de crescimento para 3,0% em 2024.

O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic para 10,75%, conforme as expectativas. No comunicado após a decisão, o Banco Central entendeu que o ambiente externo permanece desafiador diante das dúvidas sobre a postura do Fed adiante. Sobre o cenário doméstico, o Comitê julgou que a atividade econômica e o mercado de trabalho estão mais dinâmicos do que esperado e que as últimas leituras do IPCA, incluindo suas medidas subjacentes, permanecem acima da meta de inflação. Em relação ao balanço de riscos, o Copom avaliou que há uma assimetria altista, destacando a desancoragem das expectativas por período mais prolongado, a maior resiliência da inflação de serviços e uma taxa de câmbio depreciada de forma persistente. Diante da resistência da atividade econômica, das pressões no mercado de trabalho e das elevações nas projeções de inflação, o Copom entendeu que o cenário exige uma política monetária mais restritiva e decidiu, unanimemente, elevar a taxa Selic em 25 pb, para 10,75%. Para a próxima reunião, avaliamos que o Copom deverá elevar a Selic para 11,25%.

A prévia da inflação de setembro mostrou arrefecimento dos núcleos. O IPCA-15 avançou 0,13% no mês, surpreendendo favoravelmente a nossa projeção e a mediana do mercado (ambas de 0,28%). Em relação às principais métricas observadas pelo Banco Central, houve leve descompressão dos núcleos, interrompendo a tendência dos últimos meses. A média móvel de três meses, com ajuste sazonal anualizada, passou de 4,2% para 4,0%. Os serviços subjacentes tiveram desaceleração mais acentuada devido à volatidade em cinema e seguro de veículos, atingindo 4,0% na mesma métrica após o registro de 4,7% no IPCA-15 de agosto. Por outro lado, apesar da continuidade do alívio em bens semiduráveis, os bens duráveis permaneceram com variação de preços mais intensa em setembro. Desse modo, esperamos que o IPCA de 2024 encerre o ano com alta de 4,3%.

Mesmo com maiores sinais de moderação, mercado de trabalho seguiu aquecido em julho. De acordo com os dados da PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego atingiu 6,8% no trimestre encerrado em julho. Na métrica dessazonalizada, a taxa também passou de 6,9% para 6,8%, em virtude do recuo de 0,1% da força de trabalho em meio a estabilidade da ocupação. O rendimento médio habitual teve queda de 0,6% na margem em termos reais, enquanto a massa de rendimentos, de 0,8%. Na mesma direção, os dados do Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostraram a criação de 188 mil vagas de emprego formal no mês. Na série com ajuste sazonal, o saldo se elevou de 136 mil para 150 mil vagas, embora a média móvel de três meses tenha recuado de 151 mil para 141 mil. Em suma, ainda que o mercado de trabalho siga em patamar aquecido, acreditamos que as próximas leituras seguirão trazendo resultados mais moderados, em linha com a desaceleração lenta da atividade esperada para este semestre.

Fed reduziu a taxa de juros em 50 pb, para o intervalo entre 4,75% e 5,00%. A redução foi maior que a expectativa da maioria das casas de corte de 25 pb. No comunicado após a decisão, o comitê de política monetária (FOMC) reconheceu a desaceleração na criação de vagas e a elevação na taxa de desemprego. O comitê entendeu que o processo desinflacionário em direção à meta de 2% teve mais progresso, adquirindo confiança de que a inflação está convergindo ao seu objetivo de forma sustentável. Além de entender que os riscos para inflação e mercado de trabalho estão balanceados, o comitê apontou que está comprometido em dar suporte para o ‘máximo emprego’. Em relação às projeções, houve revisão para baixo para a taxa de juros de 2024, 2025 e 2026. O Fed prevê mais 50 pb de corte nesse ano (temos reuniões em novembro e dezembro), e mais 100 pb de corte em 2025. 

Banco Central Europeu manteve tom de cautela. Em sua reunião de política monetária, ocorrida nesta semana, o BCE optou pela redução da taxa de depósito, em 25pb, para 3,5% a.a., dentro das expectativas. Analisando o comunicado, a revisão das projeções do banco e a coletiva de imprensa a mensagem dos últimos meses segue inalterada. Destacamos o não comprometimento com decisões futuras, que serão dependentes dos dados e serão tomadas a cada reunião. Sustentam essa avaliação de que os juros podem ser reduzidos gradualmente a expectativa que a desinflação acontecerá aos poucos e a convergência para a meta de 2% ainda levará tempo (em meados de 2026, segundo projeções do BCE). Além disso, a visão de que a desaceleração da economia europeia é explicada por questões estruturais e que ainda reflete a alta passada dos juros sugere que não há urgência para cortes mais agressivos e/ou tempestivos. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de que a redução da taxa de juros seguirá de forma alternada entre reuniões e, sendo assim, o próximo corte deve acontecer em dezembro e taxa ao final de 2025 chegará a 2,0%.

A despeito do arrefecimento da demanda interna chinesa, exportações seguiram fortes em agosto. Os dados da balança comercial, conhecidos nesta semana, reforçaram a tendência dos últimos meses. As vendas externas do país cresceram 8,7% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado, superando o esperado e o verificado no mês anterior. Por outro lado, as importações mostraram elevação de 0,5% na mesma base de comparação, frustrando as expectativas e desacelerando ante o ritmo dos meses anteriores. De forma geral, esses resultados sugerem que a demanda global continua aquecida e a China vem mantendo sua competitividade no comércio mundial, sustentando o crescimento da indústria. Os vetores domésticos mais fracos, por sua vez, em especial o setor de construção e o consumo das famílias, continuam pesando sobre a atividade. Os dados de inflação confirmam esse quadro: no atacado, a deflação chegou a 1,8% em agosto na comparação interanual e o índice de preços ao consumidor avançou 0,6% na mesma base de comparação, impulsionado pelos preços de alimentos ao mesmo tempo em que a variação do núcleo da inflação segue muito contida (0,3%).

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