Retrospectiva Econômica Mensal – Bradesco Asset

RETROSPECTIVA MENSAL

Outubro de 2024

O IPCA-15 de outubro mostrou um quadro ainda pressionado de inflação. O indicador avançou 0,54% no mês, acima da projeção mediana do mercado (0,50%). A principal contribuição partiu do setor de Habitação (1,72%), influenciado pela vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em outubro. A seguir, alimentação e bebidas (0,87%) avançaram após três meses de preços mais favoráveis, por influência de carnes (4,18%), leite e derivados (1,49%) e menor queda de tubérculos, raízes e legumes (-6,14%). Outro destaque foi o grupo de despesas pessoais, com a devolução dos descontos em cinema, teatro e concertos (1,06%).  Em relação às principais métricas observadas pelo Banco Central, os núcleos seguiram pressionados de modo geral. A média móvel de três meses da média dos cinco núcleos, com ajuste sazonal e em termos anualizados, atingiu 4,1% outubro, enquanto os serviços subjacentes variaram 3,9% na mesma métrica. Em suma, a leitura prévia da inflação de outubro mostra um quadro ainda pressionado, corroborando nossa projeção de IPCA de 4,6% neste ano.

Mesmo com recuo do comércio e serviços, a atividade econômica avançou na margem em agosto. Houve crescimento modesto de 0,1% da produção industrial no mês, provocado pelo desempenho da indústria extrativa, que mais do que compensou a queda da indústria de transformação. Por outro lado, as vendas no varejo ampliado tiveram retração (-0,8%), principalmente pelos setores de outros artigos de uso pessoal e doméstico e de veículos, motos, partes e peças. O volume de serviços também recuou (-0,4%), com serviços de informação e comunicação e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio compensando o avanço nos outros setores. Ainda assim, o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) teve crescimento de 0,2% na margem, próximo às expectativas, o que representa avanço de 3,9% na comparação interanual Em termos de carrego, a média de julho e agosto representa crescimento de 0,6% em relação à média do segundo trimestre do ano. Diante do observado, mantemos nossa expectativa de crescimento de 0,5% do PIB do 3º trimestre.

Ata do Fed revelou o debate acerca do início do ciclo do corte de juros em setembro. No documento, apesar de reconhecerem que a inflação segue relativamente elevada, os membros expressaram confiança de que o processo desinflacionário está convergindo à meta de 2%. Os participantes também observaram a expansão sólida da economia, mas destacaram o arrefecimento da criação de vagas, implicando o aumento da taxa de desemprego. Diante do progresso na redução das pressões inflacionárias, a maioria do FOMC entendeu que os riscos para os objetivos de inflação e de emprego estavam mais balanceados, o que tornaria apropriado afrouxar a política monetária, levando-a para um patamar mais próximo do neutro, caso os dados venham de acordo com o esperado. O documento mostrou que o debate sobre o início do ciclo do corte entre 50 pb e 25 pb foi mais intenso do que a decisão em si revelou (apenas um membro votante votou por corte de 25 pb). Embora alguns membros tenham dito que havia plausibilidade em uma redução de 25 pb, dado o quadro de inflação e atividade econômica exigirem cautela, o temor preponderante foi de uma desaceleração mais intensa do mercado de trabalho, o que determinou o corte de 50 pb.

Inflação nos EUA apresentou leve aceleração na margem. O núcleo da inflação medido pelo PCE avançou 0,25% no mês, ante 0,16% em agosto, enquanto o crescimento na comparação interanual se manteve em 2,7%. A composição mostrou deflação de 0,1% em bens após redução de 0,2% no mês anterior, enquanto os serviços aceleraram, passando de 0,2% para 0,3% na passagem de agosto para setembro. Na métrica preferida do Fed, a inflação de serviços que exclui aluguéis acelerou para 0,30%, com a média móvel de três meses anualizada passando de 2,5% para 2,7%. Em relação à atividade, o consumo cresceu 0,4% na margem em termos reais, com crescimento de 0,7% em bens e de 0,2% em serviços, enquanto a média do aumento do consumo do 3º trimestre (0,3%) superou a observada no 2º trimestre do ano (0,2%).

Banco Central Europeu reduziu a taxa de juros, com indicação de continuidade nas próximas reuniões. O BCE optou por reduzir novamente a taxa de depósito em 25 pb, para 3,25% a.a., em linha com as expectativas. No comunicado, o banco central justificou a decisão ressaltando o cenário prospectivo para a inflação, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão de política monetária. Somado a isso, a presidente da instituição destacou a evolução dos dados desde a última decisão, com os indicadores de inflação e atividade surpreendendo para baixo, em toda a região. Esse contexto justificou a calibragem da estratégia do banco central, de cortes consecutivos. O BCE notou que as condições financeiras continuam restritivas e assim permanecerão enquanto for necessário para que se chegue à meta de inflação. Ainda que não haja o comprometimento com as próximas decisões, esperamos cortes de 25 pb nas reuniões seguintes. Isso deve levar a taxa de juros terminal a 2,0% no ano que vem.

Retomada da economia chinesa no terceiro trimestre se deu de forma espalhada. O PIB chinês avançou 4,6% entre julho e setembro, em relação ao mesmo período do ano passado, levemente acima do esperado (4,5%). Na comparação trimestral e em termos anualizados, o PIB acelerou de um crescimento de 2,0% no segundo trimestre para 3,6% no terceiro. Analisando os resultados de setembro, houve melhora da indústria, do comércio varejista e dos investimentos em ativos fixos, com taxas de expansão interanual de 5,4%, 3,2% e 3,4%, nessa ordem. Os indicadores do mercado imobiliário, por outro lado, seguiram fracos no mês passado. Olhando à frente, temos perspectivas mais favoráveis para a economia chinesa, especialmente para 2025, diante da mudança da política econômica do país. Desde o final de setembro, diversas medidas concretas (como corte de juros, alívio condições financeiras para setor imobiliário e estímulo para mercado acionário) foram anunciadas. Somado a isso, o governo tem sinalizado amplo espaço para expansão fiscal, com aceleração de recursos já aprovados e não utilizados e novas linhas, ainda que os montantes não tenham sido divulgados. Com base no que já foi anunciado e principalmente na sinalização de novas medidas, esperamos melhora gradual da confiança e de alívio da situação financeira dos governos locais.

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