Retrospectiva Econômica Mensal – Bradesco Asset

RETROSPECTIVA ECONÔMICA MENSAL
Agosto de 2024

Ata do Copom reforçou diligência e cautela na condução da política monetária. O documento complementou a visão contida no comunicado da reunião de julho, na qual os membros do comitê decidiram unanimemente pela manutenção da taxa Selic. De acordo com o Copom, o cenário internacional segue adverso e incerto, aguardando definições a respeito da política monetária nos EUA. Foi frisado que, embora não haja relação mecânica entre os juros americanos e domésticos, uma conjuntura com movimentos cambiais mais abruptos requer maior cautela na condução da política monetária. Em relação ao cenário doméstico, o comitê avaliou que a atividade econômica, em especial o mercado de trabalho, tem surpreendido por sua resiliência e divergido da expectativa de desaceleração, ao mesmo tempo em que as expectativas de inflação seguem desancoradas e se observa arrefecimento do processo desinflacionário sugerido pelos dados correntes.

Assim, os membros reforçaram a necessidade de uma política monetária ainda mais cautelosa e de acompanhamento diligente do desenrolar do cenário. Ao se tornar mais dependente dos dados, o comitê preferiu não se comprometer com estratégias futuras, avaliando a cada reunião se permanecerá com a estratégia atual de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo ou se será necessária a elevação de juros, sempre com o firme objetivo de convergência da inflação à meta no horizonte relevante. Vale ainda destacar que a comunicação de diversos membros do Copom, ao longo do último mês, deu destaque para os crescentes desafios para a condução da política monetária, como a desancoragem das expectativas e a atividade econômica ainda aquecida. Nesse cenário, entendemos que a probabilidade de alta de juros vem crescendo.

Núcleos da inflação seguiram acelerando na prévia da inflação de agosto. O IPCA-15 avançou 0,19% no mês e a principal contribuição positiva partiu do setor de Transportes, influenciado pela alta da gasolina, seguido por Educação, enquanto o grupo de Alimentação e bebidas apresentou deflação pelo segundo período seguido. O item de Seguro voluntário de veículos voltou a deflacionar, trazendo alguma volatilidade para o dado. O mesmo vale para Passagem Aérea.

Em relação às principais métricas observadas pelo Banco Central, houve continuação no processo de aceleração da média móvel de três meses com ajuste sazonal anualizada dos cinco núcleos acompanhados pela autoridade monetária, passando de 4,1% para 4,3%, mesmo movimento dos serviços subjacentes, que foram de 4,4% para 4,9%. Por outro lado, bens duráveis e semiduráveis seguem relativamente bem comportados, com variação em torno de 1,5%. Vale acompanhar as aberturas ligadas a bens industrializados, diante da forte depreciação cambial observada ao longo do ano. Entendemos que os núcleos de inflação devem permanecer relativamente estáveis no patamar atual nos próximos meses, deixando de contribuir para uma visão mais positiva para inflação. Para o ano de 2024, projetamos alta do IPCA de 4,3%.

Indicadores de atividade seguiram mostrando um quadro aquecido em junho, reforçando os desafios da política monetária. De acordo com os dados do IBGE, o volume de serviços prestados no mês teve alta de 1,7% na margem. Todos os setores tiveram contribuição positiva, com as maiores vindo dos segmentos relacionados às empresas: transportes, que reverteram a queda de maio influenciada pelas enchentes no RS, serviços de informação e comunicação e serviços profissionais, administrativos e complementares. Os serviços prestados às famílias tiveram crescimento mais modesto, de 0,3%. Por sua vez, as vendas no varejo em junho tiveram resultado mais moderado. De um lado, as vendas no conceito restrito recuaram 1,0% em relação a maio, puxadas por segmentos ligados à renda, em especial supermercados, que se normalizaram após alta motivada por compras emergenciais no RS no mês anterior,  e outros artigos de uso pessoal e doméstico. O varejo ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacarejo, registrou crescimento de 0,4% na margem. Por fim, de acordo com os dados Banco Central, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) avançou 1,3% em junho na série ajustada sazonalmente. Com isso, a média de abril a junho do IBC-Br representa alta de 0,4% em relação ao 1º trimestre deste ano, corroborando nossa visão de crescimento ainda forte no 2º trimestre. Nas próximas leituras, esperamos moderação da atividade, mas o patamar ainda aquecido do mercado de trabalho deverá amenizar os efeitos contracionistas da política monetária.

Mesmo com maiores sinais de moderação, mercado de trabalho seguiu aquecido em julho. De acordo com os dados da PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego atingiu 6,8% no trimestre encerrado em julho. Na métrica dessazonalizada, a taxa também passou de 6,9% para 6,8%, em virtude do recuo de 0,1% da força de trabalho em meio a estabilidade da ocupação. Vale notar que a taxa de participação, razão entre força de trabalho e população em idade de trabalhar, segue bastante abaixo da média histórica, o que tem gerado uma taxa de desemprego menor. O rendimento médio habitual teve queda de 0,6% na margem em termos reais, enquanto a massa de rendimentos, de 0,8%. Na mesma direção, os dados do Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostraram a criação de 188 mil vagas de emprego formal no mês. Na série com ajuste sazonal, o saldo se elevou de 136 mil para 150 mil vagas, embora a média móvel de três meses tenha recuado de 151 mil para 141 mil. Em suma, ainda que o mercado de trabalho siga em patamar aquecido, acreditamos que as próximas leituras seguirão trazendo resultados mais moderados, em linha com a desaceleração lenta da atividade esperada para este semestre.

Cenário de inflação nos EUA seguiu tendência de desaceleração e o Fed indicou maior disposição em iniciar o ciclo de cortes. O núcleo da inflação medido pelo PCE teve avanço de 0,16% em julho e de 2,6% na comparação interanual, os mesmos números observados em junho. A média móvel dos últimos três meses anualizada desacelerou de 2,1% para 1,7%. Na métrica preferida do Fed, a inflação de serviços que exclui aluguéis avançou 0,21%, com a média móvel de três meses anualizada recuando de 2,7% para 2,3%. O relatório de emprego de julho, por sua vez, mostrou esfriamento do mercado de trabalho nos EUA, com 114 mil vagas criadas no mês, ante 179 mil no mês anterior. A taxa de desemprego também aumentou, passando de 4,1% para 4,3%, e o crescimento dos salários se reduziu de 0,3% para 0,2% na margem.

Na ata da última reunião do banco central americano, o progresso no processo desinflacionário e o afrouxamento do mercado de trabalho nos últimos meses foi reconhecido pelos membros, e foi considerado que a ameaça para o objetivo de máximo emprego compatível com a meta de 2% do Fed passou a ser maior, enquanto o perigo de intensificação da inflação foi reduzido. Com esse pano de fundo, vários membros discutiram a possibilidade de redução de juros já na reunião de julho. No entanto, a “grande maioria” dos integrantes do FOMC entendeu que, uma vez que os dados não fiquem distantes do esperado, o ciclo de redução na taxa básica de juros deverá ser apropriado na reunião de setembro. Mantemos a expectativa de início de corte mais agressivo pelo Fed (50 pb.) em setembro, mas reconhecemos a necessidade de nova deterioração no relatório de emprego de agosto. Caso contrário, o ciclo deverá iniciar de forma mais cautelosa com 25 pb.

Economia chinesa seguiu fraca em julho. Na comparação interanual, as vendas no varejo avançaram 2,7%, em resposta aos estímulos para troca de eletrodomésticos. A produção industrial mostrou expansão de 5,1%, mantendo o ritmo dos meses anteriores, ainda favorecida pelas exportações de manufaturados. Como destaque negativo, os investimentos em ativos fixos cresceram 3,6% no acumulado do ano, com desaceleração das inversões em infraestrutura. Por fim, os indicadores do mercado imobiliário continuaram piorando: as vendas e os lançamentos registraram quedas respectivas de 21% e 24% no ano e os preços dos imóveis caíram 5,3% na comparação com o mesmo mês de 2023. Nossa avaliação continua cautelosa e entendemos que os riscos para a economia chinesa são baixistas levando em conta a não estabilização do setor imobiliário e a sinalização de que os estímulos econômicos seguirão contidos no restante deste ano.

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