RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic ao menor patamar da história e sinalizou novos cortes, reconhecendo a melhora no balanço de riscos. Em decisão unânime, o Copom reduziu a Selic de 6,5% a.a. para 6,0% ao ano. Embora a expectativa fosse de corte de juros, a magnitude de 50 p.b. superou a nossa previsão de 25 p.b. de corte. O Copom avalia que o avanço das reformas prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, e que o cenário benigno prospectivo para a inflação permitirá reduções adicionais da taxa Selic.  

No comunicado, o Copom menciona que o processo de recuperação da atividade ocorrerá em ritmo gradual. Com relação ao nível de preços, a inflação e os seus núcleos seguem bem-comportados, em níveis considerados confortáveis, bem como as expectativas seguem ancoradas. Ademais, o Copom reconhece que o cenário global mostra-se benigno, em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias, embora os riscos associados a uma desaceleração global permaneçam. Sobre o balanço de riscos, o Copom manteve preponderante o risco relacionado ao avanço das reformas estruturais para a redução dos prêmios de risco. Em um segundo plano, foi mantido o risco relacionado à retomada gradual da atividade, assim como a possibilidade de uma deterioração do cenário externo.

Sobre as projeções, considerando os cenários de inflação com trajetórias de taxas de juros e câmbio da pesquisa de mercado (Focus), a inflação se situa em torno de 3,6% em 2019 e 3,9% em 2020. No cenário com Selic (6,5% a.a.) e câmbio (R$/US$ 3,75) constantes, as projeções ficam em torno de 3,6% para 2019 e 2020. Vale notar que em qualquer cenário do horizonte de projeções, a inflação se encontra abaixo da meta. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo. Com um início de ciclo de corte de juros mais rápido do que projetávamos, alteramos a projeção da Selic para o final do ano de 5,5% a.a. para 5,0% ao ano.

Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), a indústria recuou 0,6% na margem em junho, encerrando em queda pelo terceiro trimestre consecutivo. O resultado veio em linha com a nossa expectativa e a mediana do mercado, ambas de queda de 0,5%. Em 2019, a indústria acumula queda de 1,6%. A maioria dos setores sofreu contração no mês, com exceção da produção extrativa mineral, com alta de 1,4% na margem, porém com ritmo de recuperação gradual. Esse resultado corrobora o nosso cenário de crescimento modesto do PIB nesse ano.

O setor público consolidado apresentou déficit de R$ 12,7 bilhões em junho. Em 12 meses, o déficit primário acumulado foi de R$ 99,6 bilhões (1,4% do PIB). O resultado nominal, que inclui o cálculo dos juros, se encontra deficitário em R$ 456,9 bilhões (6,54% do PIB). A dívida bruta manteve-se estável em 78,7% do PIB de maio para junho e, apesar de alta, deverá ceder nas próximas leituras em decorrência das devoluções do BNDS. Para o ano, avaliamos que o déficit primário encerrará em R$ 116 bilhões (1,5% do PIB), ante meta estipulada pelo governo de R$ 132 bilhões (1,8% do PIB). Já a dívida bruta deverá alcançar o patamar 78,1% do PIB, incluindo devoluções do BNDES de RS 100 bilhões.

No ambiente global, a tensão comercial teve nova escalada com a ameaça pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de uma nova rodada de aumento de tarifas sobre a China. Trump anunciou que em virtude da ausência de avanços das negociações com a China, irá tarifar em 10% o restante (US$ 300 bilhões) das importações do país a partir de 1º de setembro, com a possibilidade de aumento para 25%. Em maio, Trump já havia anunciado tarifas de 25% sobre outros US$ 200 bilhões de produtos importados. Ainda sem anunciar medidas específicas, a China prometeu retaliar. Essa nova rodada contemplará tarifas sobre bens finais, com implicações mais diretas sobre os EUA, como por exemplo o aumento da inflação e a consequente perda do poder de compra pelo consumidor.

Nos EUA, o Fed reduziu a taxa básica de juros e reforçou a preocupação com o cenário global e suas implicações para a demanda doméstica. Em reunião que contou com a dissidência de dois votos para a manutenção da taxa de juros, os membros do FOMC decidiram reduzi-la em 25 p.b., levando-a para o intervalo entre 2% e 2,25% ao ano. Em sua entrevista após o comunicado, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que o movimento não significa o início de um longo ciclo de corte de juros, embora também tenha defendido que esse corte de juros não é único. Diante dessa sinalização e da expectativa de que a tensão comercial não terá resolução no curto prazo, avaliamos que o cenário é de nova redução de 25 p.b. na próxima reunião.

Ainda nos EUA, condição do mercado de trabalho segue robusta, com a criação de 164 mil vagas de trabalho em julho. A taxa de desemprego, por sua vez, se manteve em 3,7%. Outro fator que corrobora dinâmica positiva é o crescimento dos salários, que aceleraram de 3,1% para 3,2% em termos anuais. Os dados do relatório de emprego reforçam a postura cautelosa do Fed na condução da política monetária diante da dicotomia entre riscos associados ao ambiente global e as condições favoráveis de demanda interna.

Na Zona do Euro, o PIB desacelerou no 2º trimestre e a inflação novamente apresentou surpresa baixista. Na margem, o PIB expandiu 0,2%, abaixo do crescimento no trimestre anterior (0,4%). Ainda sem divulgar a composição dos números, esse resultado é compatível com uma expansão de 0,8% em termos anualizados, distante do potencial de 1,2%. Sobre a dinâmica de preços, o núcleo da inflação (exclui alimentos e energia) ao consumidor registrou alta de 0,9% em termos anuais em julho, desacelerando em relação ao patamar de junho (1,1%). O cenário corrobora a nossa visão de adição de estímulos pelo Banco Central Europeu (BCE) na reunião de setembro.

Na Ásia, o Banco Central do Japão (BoJ) manteve inalterada a política monetária. Em linha com o previsto, o comitê do BoJ manteve a taxa de depósito em -0,1% e o rendimento dos títulos (JGBs) de dez anos em torno de zero, preservando também o ritmo de compra de ativos em ¥80 trilhões/ano. Em seu comunicado, o BoJ incorporou a mensagem de que não hesitará em adotar estímulos caso os riscos para o alcance da meta de inflação se materializem.  Acreditamos que o BoJ aguardará a ação dos demais bancos centrais para modificar a estratégia de sua política monetária, em especial no caso de uma valorização mais intensa do iene.

No calendário da próxima semana, os destaques ficam por conta da ata do Copom na terça-feira e para o IPCA na quinta-feira, para o qual projetamos alta de 0,24%. Ademais, as vendas no varejo de junho serão conhecidas na quarta-feira. Na agenda global, a China divulgará os números da balança comercial de julho.

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