No Brasil, a reforma da Previdência avançou na Câmara. Nos EUA, a ata do Fed fortaleceu a perspectiva de corte na taxa de juros.
A reforma da Previdência foi aprovada em 1º turno na Câmara dos Deputados. O texto-base da reforma da Previdência foi aprovado com 379 votos a favor e 131 contra a proposta. Eram necessários pelo menos 308 votos (3/5 dos deputados) para aprovar o texto. O 2º turno, que também necessita da mesma quantidade mínima de votos, deve ser votado nas próximas semanas. Depois disso, a proposta segue para o Senado, onde também será votada em dois turnos. A aprovação dessa reforma é importante para o ajuste fiscal de médio prazo, com a manutenção do teto dos gastos e a convergência da dívida pública para patamares menores nos próximos anos. Além disso, em sua última reunião o Banco Central considerava que a frustração sobre a continuidade das reformas estruturais (principalmente a da Previdência) era o risco preponderante em seu balanço de risco para inflação. Com avanço da reforma, em linha com nosso cenário, abre-se espaço para redução da taxa Selic em 100 pontos-base nesse ano, atingindo 5,5% a.a. em 2019.
A inflação ao consumidor (IPCA) registrou alta acima do esperado em junho, mas permanece com quadro benigno. O IPCA subiu 0,01% na margem em junho, acima da nossa expectativa (-0,04%) e do mercado (-0,03%). Em relação ao que projetávamos, as maiores surpresas ocorreram nos grupos de Alimentação, Vestuário e Saúde. Em 12 meses, o IPCA desacelerou de 4,7% para 3,4%. Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (que exclui itens voláteis) desacelerou de 3,44% em maio para 3,26% em junho. Por sua vez, o índice de difusão (exclui alimentação) ficou em 50,7%, abaixo do patamar de 66,0% no mesmo período em 2018. Para o mês de julho, projetamos alta de 0,29%, levando o IPCA em 12 meses para 3,30%. Mantemos a projeção em 3,7% para 2019 e 2020.
As vendas no varejo de maio reforçaram o ritmo fraco do consumo no 2º trimestre. Após registrar queda de 0,4% em abril, o volume de vendas do varejo contraiu 0,1% na margem em maio, abaixo da nossa expectativa (+0,3%). Entre os setores, destaque para o recuo de 1,4% na venda de artigos de uso pessoal e doméstico (vendas online) e da queda de 0,8% de combustíveis e lubrificantes. Por outro lado, as vendas em supermercados cresceram 1,4% na margem, mas não compensaram o fraco desempenho dos últimos três meses. As vendas ampliadas (inclui automóveis e material de construção), por sua vez, aumentaram 0,2%. Avaliamos que após um ritmo fraco no 2º trimestre, o consumo deve acelerar nos próximos meses.
O setor de serviços, por seu turno, teve desempenho melhor do que o esperado. Em maio, o volume de serviços registrou estabilidade na margem, acima da nossa expectativa (-0,5%) e da mediana do mercado (-0,3%). Os destaques foram os serviços de comunicação (+1,7%), prestados às empresas (+0,7%) e prestados às famílias (+0,5%). Com esse resultado e o das vendas no varejo o nosso tracking do crescimento do PIB no 2º trimestre se manteve em 0,3% na margem.
Nos EUA, a ata do FOMC reiterou a perspectiva de corte na taxa de juros na reunião desse mês. No documento, os membros avaliaram que as incertezas e os riscos negativos, principalmente relacionados à desaceleração global, para a economia norte-americana aumentaram substancialmente desde maio. Por outro lado, o consumo tem acelerado em comparação ao 1º trimestre e o mercado de trabalho segue robusto, porém sem pressionar a inflação que segue inferior à meta de 2,0%. Além disso, Jerome Powell (presidente do Fed), em seu depoimento no Congresso, enfatizou que os dados mais fortes de emprego nos EUA divulgados na última semana não são suficientes para alterar a perspectiva do Fed sobre a economia do país. Nesse cenário, os membros concordaram sobre a necessidade de maior acomodação monetária no caso de prolongamento dos riscos do cenário global à economia dos EUA. Tendo em vista a perspectiva de continuidade das incertezas que cercam a atividade, bem como o horizonte de inflação contida, avaliamos que o Fed reduzirá em 100 pontos-base a taxa de juros nesse ano, com corte de 25 pontos-base na reunião de julho.
Ainda nos EUA, o núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) teve variação acima do esperado em junho. No mês, o CPI total subiu 0,1% na margem, ante expectativa de estabilidade. A aceleração do índice foi mais limitada devido aos preços mais baixos da gasolina e de alimentos. Ao excluir alimentação e energia, a variação do núcleo de inflação avançou 0,3% no período, acima da expectativa de 0,2%. Na comparação anual, o núcleo do CPI subiu de 2,0% em maio para 2,1% em junho. Apesar do aumento do núcleo no mês, a inflação segue moderada, e contribui para o discurso mais acomodatício do Fed no curto prazo.
Na Zona do Euro, a produção industrial apresentou crescimento acima do esperado em maio. Após dois meses consecutivos em queda, a indústria apresentou elevação de 0,9%, ante expectativa de alta de 0,3%. Em sua abertura, a recuperação foi disseminada, com recuo apenas na produção de bens intermediários. Apesar da melhora em julho, os dados de confiança da indústria em junho e as incertezas oriundas da tensão comercial inserem um viés de baixa para o setor nos próximos meses. Avaliamos que diante do risco baixista para a atividade e da inflação contida, o Banco Central Europeu adotará novas medidas de estímulo nesse ano.
Na China, houve aumento no superávit comercial em junho, impulsionado pela queda nas importações. O saldo comercial atingiu US$ 51 bilhões no mês, acima da expectativa do mercado (US$ 45 bilhões). Esse resultado foi impulsionado pela queda de 7,3% das importações, ante expectativa de redução de 3,8%. Em sua abertura, as compras de commodities foram modestas, o que pode ser um sinal que os estímulos do governo podem estar perdendo força. Por outro lado, as exportações também cederam 1,3%, porém menor do que o esperado (-2,0%). Em meio à guerra comercial, o comércio com os EUA mostram contração de 8,1% das exportações e queda de 29,9% das importações do país na comparação anual. De modo geral, os dados revelam um quadro de demanda doméstica e externa frágil, o que implicará novos estímulos fiscais e monetários nos próximos meses.
Na próxima semana, os destaques da agenda ficam por conta dos números de atividade. No Brasil, o indicador mensal de atividade (IBC-Br) será divulgado na segunda-feira, projetamos alta de 0,8% na margem. No âmbito global, na China os dados de atividade e o PIB do 2º trimestre serão divulgados no início da semana. Na terça-feira serão publicados os dados de vendas no varejo e produção industrial dos EUA. Por fim, a inflação da Zona do Euro de junho será divulgada na quarta-feira.