RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS

No Brasil, o Banco Central reiterou que alterações na política monetária dependem do avanço concreto das reformas estruturais. Na Zona do Euro, a inflação se manteve abaixo da meta em junho.

A ata do Copom e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) reforçaram a possibilidade de corte de juros dependente da evolução das reformas. Na ata da reunião em que o Banco Central manteve a Selic em 6,5% a.a., os membros enfatizaram que o cenário de inflação permanece benigno e a atividade segue com desempenho modesto. Desde a última reunião, o balanço de riscos evoluiu favoravelmente, com o ambiente externo menos adverso, devido à perspectiva de redução de juros nas principais economias. Do lado doméstico, os dados de atividade indicaram interrupção do processo de recuperação da economia brasileira, mantendo o nível de ociosidade elevado. Dessa forma, o risco preponderante para alterações na política monetária é a evolução das reformas estruturais, fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva. Diante disso, o Copom avaliou que a conjuntura atual prescreve a manutenção da taxa de juros em 6,5% a.a., considerada estimulativa. No RTI, as projeções de inflação de médio prazo permanecem benignas e abaixo do centro da meta em 2019 (4,25%) e 2020 (4,0%). O cenário com taxas de juros e câmbio constantes indica que a inflação irá atingir 3,6% em 2019 e de 3,7% em 2020. Enquanto isso, o cenário com câmbio e juros do mercado sugere altas de 3,6% e 3,9%, respectivamente. Além disso, houve redução na projeção de PIB de 2019 de 2,0% no RTI de março, para 0,8% no documento desse mês. Portanto, consideramos que a avaliação do Banco Central do balanço de riscos para a inflação abre a possibilidade de corte de juros nos próximos meses, condicionado, entretanto, à aprovação da reforma da previdência. Acreditamos que a reforma será encaminhada nos próximos meses, bem como a continuidade da ociosidade elevada permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo. Diante disso, mantemos o cenário de cortes na taxa Selic no segundo semestre, atingindo 5,5% a.a. ao final de 2019.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) continuou o processo de redução da meta de inflação. Nessa semana, o CMNdefiniu a meta de inflação para 2022 em 3,5%, com o intervalo de tolerância mantido em 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Após permanecer em 4,5% por 14 anos, a meta começou a ser reduzida recentemente, com metas fixadas em 4,25% em 2019, 4,0% em 2020 e 3,75% em 2021. Com isso, o Brasil se aproxima das metas de inflação de outros países emergentes, em torno de 3,0%.

A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) registrou a menor alta para junho em 13 anos. No mês, o IPCA-15 variou 0,06%, resultado ligeiramente abaixo da nossa projeção e das expectativas do mercado, ambas em 0,07%. No acumulado em 12 meses, o indicador desacelerou de 4,9% em maio para 3,8% em junho. Em relação aos grupos, os destaques foram Alimentação no domicílio (-0,82%) e Transportes que desacelerou de 0,65% em maio para 0,25% em junho, influenciado pela queda nos combustíveis. Em termos qualitativos, a média dos núcleos (que exclui itens voláteis) acelerou de 0,16% para 0,19% no período. Para o fechamento do mês, projetamos deflação de 0,05%. Com relação ao ano, esperamos que o IPCA encerre com variação de 3,7%, abaixo da meta do Banco Central para 2019, de 4,25%.

Com relação ao mercado de trabalho, a criação de vagas formais teve desempenho fraco em maio, segundo o CAGED. No mês, foi registrada a criação de 32,1 mil vagas formais, abaixo de nossa projeção e da expectativa do mercado, de abertura de 78,0 mil e 65,5 mil vagas, respectivamente. Em termos dessazonalizados, o saldo em maio foi de fechamento de 2,2 mil vagas formais. Com isso, a média móvel de três meses passou de abertura de 30,8 mil em abril para fechamento de 4,8 mil vagas em maio. Nos setores, destaque para o modesto desempenho de serviços e da indústria. O resultado do mês reforça a dificuldade de se manter uma tendência de retomada do emprego, inserindo um viés negativo na projeção do PIB do 2º trimestre, para qual esperamos alta de 0,3%, na margem.

Em termos fiscais, o setor público consolidado apresentou déficit em maio e a dívida bruta caiu devido às devoluções do BNDES. No mês, o déficit primário ficou em R$ 13,0 bilhões, em linha com a nossa projeção (R$ 13,8 bilhões). Em 12 meses, o déficit acumulado atingiu R$ 100,4 bilhões (1,4% do PIB). O resultado nominal, que inclui o cálculo dos juros, se encontra deficitário em R$ 484,7 bilhões em 12 meses (6,96% do PIB). Por sua vez, a dívida bruta reduziu de 79,0% para 78,7% do PIB entre abril e maio, em parte reflexo das devoluções de R$ 30 bilhões do BNDES ao Tesouro no mês. As contas fiscais mostram que o ajuste fiscal permanece gradual, baseado no maior controle das despesas do governo. Para o ano de 2019, nossa projeção de déficit primário é de R$ 110 bilhões (1,5% do PIB), ante meta estipulada pelo governo de R$ 132 bilhões (1,8% do PIB). Por sua vez, a dívida bruta deve encerrar o ano em 78,5% do PIB, apesar da trajetória ainda ascendente, as novas devoluções do BNDES ao Tesouro devem manter a dívida praticamente estável.

Com o investimento direto no país (IDP) elevado e superávit sazonal em conta corrente, as contas externas permaneceram favoráveis em maio. No mês, o saldo em conta corrente foi superavitário em US$ 662 milhões, acima da nossa projeção (US$ 500 milhões). Em 12 meses, o déficit de permaneceu em patamar muito próximo ao de abril, de US$ 13,9 bilhões (-0,73% do PIB). Quanto ao fluxo financeiro, o IDP somou US$ 7,1 bilhões no mês. O saldo acumulado em 12 meses é de US$ 96,6 bilhões (5,2% do PIB). Já o fluxo líquido de renda fixa, ações e fundos foi negativo em US$ 285 milhões, com entrada líquida de US$ 9,7 bilhões no ano. Por sua vez, a  taxa de rolagem ficou em 86%, ante 43% em abril. Avaliamos que o déficit em conta corrente deverá encerrar o ano em US$ 22,3 bilhões (1,2% do PIB).

Os indicadores de crédito seguem em ritmo robusto de crescimento. No mês de maio, o estoque total de crédito somou R$ 3,3 trilhões, aumento de 5,5% em termos anuais (ante 5,4% em abril), com alta de 9,9% no saldo de pessoa física (9,5% em abril) e aumento de 0,3% em pessoa jurídica (0,5% em abril). Como proporção do PIB, o estoque de crédito atingiu 47,2% no período. Por fim, a taxa de inadimplência total permaneceu em 3,0%. O mercado de crédito se mantém em recuperação consistente dado o baixo nível da taxa de juros e a diminuição do nível de alavancagem das empresas e famílias. Além disso, o desempenho do mercado de crédito para pessoas jurídicas reflete o menor dinamismo da atividade econômica, que segue em recuperação lenta e gradual.

Na Zona do Euro, o núcleo da inflação ao consumidor (CPI) apresentou elevação em junho, mas o nível de preços segue abaixo da meta. O CPI subiu 1,2% na comparação anual, permanecendo no mesmo nível de maio e em linha com o esperado pelo mercado. Vale destacar que o Banco Central Europeu (BCE) tem meta de inflação próxima a 2,0%. Por sua vez, o núcleo da inflação, exclui preços de energia e alimentos, acelerou para 1,1% em junho, ante 0,8% em maio. Apesar do aumento no núcleo, a inflação segue baixa. Além disso, a atividade econômica da região continua sem apresentar perspectiva de recuperação, o que reforça a possibilidade de aumento dos estímulos por parte do BCE. Avaliamos que o BCE reduzirá a taxa de depósito em 10 pontos-base (para -0,5% a.a.) na reunião de setembro.

Na agenda, destaque para a reunião do G-20 durante os dias 29 e 30 de junho. No Brasil, destaque para a divulgação dos dados da produção industrial na terça-feira, projetamos queda de 1,0% na margemNo calendário global, nos EUA será divulgado o indicador de confiança da indústria (ISM) na segunda-feira e dados do mercado de trabalho na sexta-feira. Na Zona do Euro, será divulgado o PMI industrial da região na segunda-feira e os dados de vendas no varejo na quinta-feira.

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