RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS
No Brasil, os dados de comércio e serviços surpreenderam positivamente no início do 3º trimestre. No âmbito global, sinais de trégua na guerra comercial e novos estímulos monetários na Europa.
As vendas no varejo apresentaram crescimento de forma disseminada entre os setores e acima do esperado em julho. O volume do comércio varejista registrou aumento de 1,0% na margem, acima da nossa expectativa e do mercado (ambas em 0,2%). Na comparação anual, a alta foi de 4,3%. A recuperação foi difusa entre os setores, principalmente dos ligados ao aumento do crédito. As vendas ampliadas (inclui automóveis e material de construção) cresceram 0,7% na comparação com junho e 7,7% na comparação com julho de 2018. Para os próximos meses, a liberação dos saques do FGTS e o crédito devem colaborar para a continuidade dessa aceleração.
Na mesma direção do comércio, o setor de serviços expandiu 0,8% na margem em julho. O crescimento surpreendeu a expectativa do mercado, que esperava alta de 0,3%. Destaque para serviços de comunicação e informação que registrou alta de 1,8%. Em termos anuais, o volume de serviços expandiu 1,8%, após contração de 3,5% no mês anterior. A melhora dos indicadores de atividade afasta o risco de novas revisões baixistas do PIB. Com esse resultado, o tracking do PIB do 3º trimestre passou de 0,1% para crescimento 0,2%, na variação trimestral.
No ambiente global, a tensão comercial entre EUA e China arrefeceu com medidas construtivas de ambas as partes. Após o aumento da tensão no mês de agosto com uma nova rodada de tarifas, o presidente Donald Trump anunciou que postergará em duas semanas o aumento programado das tarifas sobre as importações chineses (de 25% para 30% sobre US$ 250 bilhões) que entraria em vigor em 1º de outubro. Do outro lado, a China anunciou a isenção das tarifas suplementares sobre os produtos importados dos EUA, incluindo a compra de soja, produto sensível para parcela do eleitorado norte-americano. O sinal de trégua antecede a reunião entre as autoridades no início de outubro. Embora a probabilidade de um grande acordo ainda seja baixa, a interrupção da escalada das tensões reduz a chance de uma desaceleração mais pronunciada da economia global.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou um pacote de estímulos à economia, enfatizando seu objetivo de convergir a inflação para a meta. Conforme esperado, o BCE reduziu a taxa de depósito de -0,40% para -0,50% a.a. e anunciou a retomada do programa de compra de títulos (quantitative easing) a um ritmo de € 20 bilhões por mês. Em seu comunicado, o BCE não especificou o prazo em que pretende encerrar a compra de títulos, enfatizando que ela será mantida até que a taxa de inflação convirja de forma robusta para a meta. Ademais, em sua entrevista após a reunião, o presidente do BCE, Mario Draghi defendeu que a política monetária permanecerá acomodatícia até o momento em que a inflação superar significativamente 1,5%. A ação mais agressiva do BCE se insere no contexto de desaceleração da atividade na região, que sofre com sua maior exposição ao cenário de incerteza global.
Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) apresentou uma leitura mais pressionada em agosto. No mês, o núcleo do CPI (exclui alimentos e energia) acelerou de 2,2% para 2,4%, acima da expectativa do mercado. Em sua composição, o CPI de serviços acelerou de 2,8% para 2,9%, enquanto o CPI de bens teve alta de 0,8%, o patamar mais alto desde julho de 2012. Por sua vez, os dados de vendas no varejo em agosto confirmaram a robustez do consumo. Em termos anuais, as vendas no varejo cresceram 4,1%, acima da variação de julho (3,6%). As vendas do grupo de controle, que possui maior aderência com o PIB, acelerou de 4,9% para 5,3%. Embora a economia norte-americana não sinalize uma desaceleração iminente, em nossa avaliação, o Fed dará continuidade ao ciclo do corte de juros, atuando com precaução diante dos riscos presentes na economia global e suas repercussões sobre a atividade nos EUA.
Na China, a inflação ao consumidor de agosto manteve-se em 2,8% em termos anuais, acima da estabilidade em 2,6% esperada pelo mercado. Fundamentalmente, esse resultado foi o reflexo da elevação do preço da carne suína, que acelerou de 27% em julho para 47,6% em agosto. Apesar da aceleração inesperada, o núcleo do CPI (exclui alimentos e energia) se manteve em patamar baixo, com variação de 1,5%. O cenário de choques negativos para a atividade decorrentes da guerra comercial e a inflação acomodada oferecem espaço para novas rodadas de estímulo pelas autoridades chinesas nos próximos meses.
Ainda na China, o saldo comercial ficou abaixo do esperado em agosto e o fluxo de comércio com os EUA teve nova queda. O superávit comercial atingiu US$ 34,8 bilhões em agosto, abaixo do esperado pelo mercado (US$ 43 bilhões). As exportações declinaram 1,2%, enquanto que as importações recuaram 5,0% na comparação anual. Com relação ao comércio com os Estados Unidos, as exportações para o país entre janeiro e agosto caíram 9,3% na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto as importações de produtos americanos registraram retração de 27,6%.
No calendário da próxima semana, destaque para as decisões de política monetária no Brasil e nos EUA, ambas na quarta-feira. Para o Copom, acreditamos que o cenário de inflação baixa e expectativas ancoradas, assim como o ritmo lento de recuperação da atividade, corroboram o corte de 50 pontos-base da Selic. No EUA, a incerteza sobre a economia global será o principal fator para o corte de 25 pontos-base em nossa avaliação. Além disso, na agenda internacional, haverá a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra e do Banco do Japão na quinta-feira.