Nossa Visão – 03/02/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco sofreram fortes perdas na semana por conta da disseminação do vírus “coronavírus”, que já atingiu mais de 17.000 pessoas e matou mais de 360, a maior parte delas na província de Hubei, localizada no centro da China. No retorno dos mercados financeiros da China após as comemorações pelo feriado do Ano Novo Lunar, os investidores em pânico venderam posições e a bolsa de Xangai recuou 7,72%, ainda que o governo chinês tenha injetado US$ 174 bilhões para garantir a liquidez dos mercados.
As medidas de contenção anunciada pelos governos das principais economias mundiais acalmaram um pouco os mercados, especialmente as barreiras de entradas de asiáticos pelas fronteiras de seus países, com atenção especial aos aeroportos. A Organização Mundial da Saúde – OMS decretou “estado de emergência sanitária global”, com objetivo de gerar uma mobilização global para impedir a disseminação fora de controle.
No campo da economia, destaque para a reunião do Federal Reserve (FED, na sigla em inglês), que manteve inalterada a taxa básica de juro norte-americana no intervalo entre 1,50% a 1,75%, a segunda reunião seguida sem mudança. No comunicado pós-reunião, o comitê informou considerar que “o patamar atual da política monetária é apropriado para apoiar a expansão sustentada da atividade econômica, fortes condições do mercado de trabalho, e inflação retornando ao objetivo simétrico de 2%”. Sem mencionar qualquer mudança, o FED manterá o programa de compra de US$ 60 bilhões mensais em títulos do Tesouro para garantir liquidez de curto prazo adequada.
Ainda nos EUA, foi revelado que o PIB do 4º trimestre cresceu a taxa anualizada de 2,1%, conforme divulgou o Departamento de Comércio em primeira prévia do número. Com isso, o avanço no acumulado do ano foi de 2,3%. Em 2018, a economia americana cresceu 2,9% enquanto em 2017 a alta foi de 2,4%.
No campo da inflação, foi divulgado que os gastos com consumo pessoal nos EUA (PCE, na sigla em inglês) avançaram 0,3% em dezembro, em linha com as expectativas, porém menor que o avanço registrado em novembro, de 0,4%. No quarto trimestre, o índice subiu 1,6% anualizado, acelerando em relação à leitura do terceiro trimestre, de 1,5%. O núcleo do PCE, que exclui os elementos voláteis como energia e alimentos, indicou uma desaceleração ao registrar 1,3% no período, ante 2,1% da leitura anterior. O dado fraco eleva mais uma vez a perspectiva de novos cortes de juros pelo FED ao longo de 2020.
Para os mercados de ações internacionais a semana foi de fortes desvalorizações, na medida em que a disseminação do “coronavírus” avançava. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -4,38%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou 3,95%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, caiu -2,12% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, retrocedeu -2,61%.
Por aqui, foi divulgado que o IGP-M, considerado a inflação do aluguel, avançou 0,48% em janeiro, desacelerando em relação a dezembro quando o indicador registrou avanço de 2,09%, em queda puxada pelo recuo nos preços da carne.
Conforme divulgou o IBGE, a taxa de desemprego recuou no trimestre encerrado em dezembro para 11,0%. A média anual de desemprego ficou em 11,9%, um recuo comparado ao ano anterior, quando ficou em 12,3%. O número da população desempregada recuou para 11,6 milhões de pessoas. No ano, foram 12,6 milhões de desempregados em média. O trabalho informal atingiu seu maior número, com 41,1% da população ocupada.
Para a bolsa brasileira a semana foi de queda, acompanhando os mercados internacionais. O Ibovespa recuou -3,90% na semana, aos 113.760 pontos, acumulando desvalorização no ano de 1,63%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 4,286 para a venda. Na semana, a moeda norte-americana avançou 2,39%, a quinta semana consecutiva em alta.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro reduziram a estimativa para o IPCA deste ano pela quinta semana consecutiva, para 3,40% ante os 3,47% da pesquisa anterior. O resultado continua abaixo da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa de inflação em 3,75%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado financeiro manteve nesta semana suas apostas em relação à taxa de juros, informando que ao final de 2020 a taxa estará em 4,25%. Um mês atrás a previsão era de 4,50%. Para 2021, a previsão para a Selic foi ajustada em 6,00%, uma queda em relação à projeção anterior que era de 6,25%. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Bacen se reúne para decidir sobre o rumo do juro no país.
A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi ajustada para 2,30%, enquanto na semana anterior a expectativa era de 2,31%. Há um mês, a estimativa era a mesma. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.
A projeção para o dólar no fim de 2020 foi mantida em R$ 4,10. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,09. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi levemente alterada para R$ 4,05, ante R$ 4,00 da estimativa anterior.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00 bilhões, os mesmos US$ 80,00 bilhões de um mês antes. Para 2021, a expectativa também foi mantida em US$ 84,50 bilhões.
Perspectiva
A semana inicia um pouco mais calma, após os fortes ajustes do mercado acionário chinês na volta do feriado do Ano Novo Lunar. Os investidores permanecerão atentos à evolução do quadro de disseminação do “coronavírus” e seus impactos na economia mundial, fazendo as contas do quanto à paralisação das atividades chinesas afetarão os negócios.
Nos EUA, destaque para a divulgação do relatório de emprego (payroll) referente ao mês de janeiro. No campo da política, terão inicio as primárias do partido dos democratas para a disputa as eleições presidenciais de novembro, em meio ao processo de impeachment do presidente Donald Trump que corre no Senado.
Ainda lá fora, serão conhecidos dados da atividade econômica medidos pelo PMI dos EUA, Japão, zona do euro e China.
Por aqui, destaque para a reunião do Comitê de Política Monetária – COPOM que decidirá sobre o rumo do juro doméstico. As apostas atuais são para um corte de 0,25 ponto percentual, o que levaria a taxa Selic para o patamar de 4,25% ao ano. O recuo do juro futuro negociado nesta segunda-feira já reflete a expectativa do mercado para uma Selic menor.
Além da decisão sobre o juro, será conhecido o IPCA de janeiro, que deve confirmar os sinais de desaceleração após a forte alta no final do ano, já antecipados pelo IPCA-15.
Para os mercados de ações, além do noticiário recheado, continua a temporada de divulgação de resultados corporativos das empresas listadas relativos ao 4º trimestre, tanto aqui quanto lá fora. Espera-se que, até o final da semana, mais de dois terços das empresas listadas no S&P 500 divulguem seus números.
Em relação às aplicações dos RPPS aconselhamos o investimento de 25% dos recursos em fundos de investimento em títulos públicos que possuem a gestão do duration, produto a ser acompanhado com a devida atenção por conta das posições assumidas pelo gestor.
Para os vértices de longo prazo (especificamente o IMA-B Total) recomendamos um aumento da exposição para 15%, em razão do prêmio que ainda poderá ser capturado devido à taxa básica de juros na mínima histórica, além da pauta de reformas que deverão refletir na melhora do quadro fiscal do país.
Para os vértices médios (IMA-B 5, IDkA 2A e IRF-M Total), a recomendação é para uma redução na exposição para 20%, e para os vértices de curto prazo, representados pelos fundos DI, pelos referenciados no IRFM-1 e pelos CDBs, a alocação sugerida passa a ser de 5%. Ambas as reduções estão relacionadas à taxa de juros doméstica na mínima histórica, com objetivo de redirecionar os recursos para os mercados com maiores possibilidades de ganhos.
Quanto à renda variável, recomendamos uma exposição máxima de 30%, por conta da melhora do ambiente econômico neste ano, que já se refle em um melhor comportamento dos lucros das empresas e, portanto, da Bolsa de Valores e também pelo fato da importância do produto como fator de diversificação de portfólio, em um momento em que as taxas de juros dos títulos públicos não mais superam a meta atuarial.
Para a alocação em fundos multimercado a nossa sugestão é uma redução para 5% dos recursos e de 2,5% a alocação em FII e FIP, respectivamente, dada a pouca disponibilidade de produtos no mercado enquadrados para os RPPS. Para o investimento em ações, a nossa recomendação é de aumento da exposição para 20% dos recursos, tendo-se em vista o potencial de crescimento das empresas neste e nos próximos anos em uma conjuntura de baixa inflação e taxas de juros nas mínimas históricas.
Para aqueles clientes que já contam com investimento de 5% tanto em FII, quanto em FIP, o ajuste das recomendações se dará através da redução no teto dos investimentos em ações.
Adicionamos na estratégia a recomendação de investimentos no segmento de investimentos no exterior, com um percentual máximo de 5%, devido à necessária diversificação da carteira na busca por investimentos descorrelacionados da taxa de juros doméstica, além do recente surgimento de produtos direcionados a este segmento.