Nossa Visão – 27/07/2020
Retrospectiva
Os ativos de risco fecharam a semana em queda, com as tensões políticas envolvendo as duas grandes potências econômicas mundiais, EUA e China, no radar dos investidores e levando preocupações diante do nível da agressividade diplomática. Na quarta-feira, os EUA determinaram o fechamento do consulado chinês em Huston, no estado do Texas. Ao justificar o ato, o Departamento de Estado americano afirmou que a medida tem por objetivo proteger a propriedade intelectual e as informações privadas dos americanos, após dois hackers chineses serem suspeitos de roubar informações sobre projetos de vacinas contra o “coronavírus”. Em retaliação, a China determinou o fechamento do consulado dos EUA em Chengdu, na província de Sichuan, no sudoeste da China.
No campo da economia, destaque para a divulgação de um pacote de ajuda bilionário pelos governos dos países que integram a União Europeia. Pelo acordo, será criado um fundo de 750 bilhões de euros, equivalente a R$ 4,6 trilhões, dos quais metade será direcionada para os países mais afetados economicamente pela pandemia.
Em semana de agenda externa vazia, destaque para a divulgação do índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) em algumas regiões. Nos EUA, foi divulgado que o PMI composto, que engloba os setores industrial e de serviços, avançou a 50,0 pontos em julho, ante 47,9 pontos em junho, marcando o fim de cinco contrações mensais consecutivas. O número foi puxado pelo setor industrial, que registrou 51,3 pontos no mês. Na zona do euro, o PMI composto preliminar subiu de 48,5 pontos em junho para 54,8 pontos, nível mais alto desde meados de 2018 e bem acima da expectativa de 51,1 pontos.
Do lado da demanda, o Reino Unido reportou que as vendas no varejo subiram 13,9% em junho, na comparação com o mês anterior, acima da expectativa do mercado, porém é fato que o consumo está bem abaixo dos níveis anteriores a pandemia.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de desvalorizações. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -0,63%, e o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou -2,65%, o índice SP 500, da bolsa norte-americana, caiu -0,28% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, avançou 0,24%.
No Brasil, conforme divulgou o IBGE, o IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, ficou em 0,30% em julho, abaixo das expectativas do mercado que apontavam alta entre 0,40% a 0,55%. O número foi puxado pela alta dos combustíveis. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, cinco apresentaram alta em julho, sendo que o maior impacto (0,22 ponto percentual) e a maior variação positiva (1,11%) vieram dos Transportes, que teve alta após quatro meses de quedas. Em junho, a alta havia sido de 0,02%. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 0,67% e, nos últimos 12 meses, a variação acumulada é de 2,13%.
A confiança dos consumidores manteve em julho a tendência de recuperação, motivada principalmente pela melhora das expectativas em relação à economia. Conforme divulgou a FGV, o Índice de Confiança do Consumidor, que mede a disposição do consumidor em comprar e demandar produtos e serviços, subiu 7,7 pontos em julho, para 78,8 pontos. Após três meses em alta, o índice agora está 9,0 pontos abaixo de fevereiro, último mês antes de a pandemia atingir a economia brasileira.
No campo político, repercutiu sobre o mercado a proposta de reforma tributária, apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao Congresso Nacional. Pela proposta em primeira fase, o governo quer unificar o PIS/Cofins em um único imposto, denominado CBS – Contribuição sobre Operações com Bens e Serviços. O texto base recebeu críticas de diversos setores, principalmente sobre aumento da carga tributária.
Para a bolsa brasileira a semana foi de queda, acompanhando os movimentos das bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com recuo de -0,49%, aos 102.381 pontos, acumulando valorização de 7,71% no mês, e desvalorização de -11,47% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,2070 para a venda. Na semana, a moeda recuou -3,26% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 29,76%. Já o IMA-B Total encerrou a semana avançando 0,34%, enquanto no mês acumula alta de 3,19% e no ano valorização de 1,48%. Em 12 meses a valorização é de 6,88%.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. O documento revela que a expectativa, na mediana das projeções, para o IPCA deste ano foi reduzida para mantida em 1,67%, ante projeção de 1,72% uma semana atrás. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,63%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve pela sexta semana seguida a expectativa de que a inflação encerre o ano em 3,00%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve pela quarta semana consecutiva a estimativa de que a taxa encerre o ano em 2,00% ao ano. O número projeta um novo corte da Selic na próxima reunião do Copom, em agosto, o que implicaria em uma redução de 0,25 ponto percentual frente ao atual patamar. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 3,00% pela sexta semana consecutiva.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic ao final do ano foram reduzidas para 1,88% na mediana das coletas. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,25% na mediana das coletas.
Os analistas do mercado financeiro voltaram a reduzir a expectativa de contração da economia brasileira medida pelo PIB. O mercado estima que o PIB brasileiro encolha -5,77% neste ano, ante expectativa de -5,95% uma semana atrás. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -6,54%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB pela nona semana consecutiva em 3,50%. Em junho, o Bacen atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de variação zero para retração de -6,4%.
O documento mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi mantida em R$ 5,20 pela sexta semana seguida. Para 2021, a projeção para o câmbio foi mantida em R$ 5,00. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,00.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, o mercado manteve a projeção de queda no ingresso de recursos de fora do país. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 53,95 bilhões, mesmo número da semana anterior, enquanto que para 2021 a expectativa foi mantida em US$ 64,10 bilhões. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 57,50 bilhões e US$ 72,50 bilhões, respectivamente.
Perspectiva
Os mercados de risco mantém certo otimismo, com os investidores na expectativa do anúncio de um pacote de estímulos econômicos que está em discussão no Congresso dos EUA. Conforme informou o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, o texto, de autoria dos Republicanos, prevê uma ajuda de US$ 1 trilhão. No final do mês vence o prazo da ajuda aos cidadãos mais vulneráveis, que inclui cerca de 30 milhões de americanos desempregados, e a prorrogação depende da aprovação do pacote no Congresso.
Ainda por lá, os investidores estarão de olho na reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês), que divulga na quarta-feira sua decisão sobre política monetária, com a estimativa dos analistas apontando para manutenção da taxa de juros no atual patamar, em torno de zero.
O mercado também mantém suas atenções ao clima de tensão entre EUA e China, após a ação americana de fechar o consulado chinês em Huston, e a imediata reação chinesa na mesma moeda. Os investidores ficarão atentos para possíveis novas medidas, no que está sendo chamado de “guerra fria” entre as duas nações.
Na agenda de indicadores, destaque especial para a divulgação do PIB do segundo trimestre dos EUA, com estimativa de queda anualizada de 35%, segundo dados compilados pela Bloomberg. Na região do euro, também será divulgado o PIB do bloco, e a estimativa é de recuo de 12% no comparativo trimestral. Atenção também para os PMIs de julho na China, com estimativas de atividade perto dos mesmos níveis de junho.
Por aqui, as atenções se voltam para os dados de emprego de junho, a serem divulgados na quarta-feira, após o índice de desemprego em maio subir para 12,9%. Entre outros indicadores relevantes sobre o último mês do segundo trimestre estão previstos o resultado fiscal, a conta corrente e os números de crédito, além do IGP-M de julho.
No campo político, a reforma tributária fica no destaque. A Comissão Mista da Reforma Tributária voltará a se reunir para discutir as três propostas que já estão no Congresso – a do governo, a da Câmara e a do Senado.
Em relação a pandemia pelo “coronavírus”, destaque para o início da última fase de testes da vacina da farmacêutica americana Moderna. Nesta fase, a vacina será testada em aproximadamente 30 mil pessoas em 87 lugares diferentes dos EUA até meados de outubro. Enquanto isso, o contágio não dá trégua, com a escalada de contágios seguindo nos EUA e América Latina. Enquanto na Europa o número de casos vem aumentando, fazendo com que alguns países aumentassem as restrições.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperação na retomada dos mercados. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.