Nossa Visão – 20/07/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco fecharam a semana no azul, entretanto a volatilidade esteve presente em todas as sessões. Pesou sobre os mercados o noticiário positivo, em especial a divulgação de uma bateria de indicadores econômicos otimistas na China e EUA. Em relação ao noticiário negativo, destaque para a relação diplomática entre EUA e China, que pioraram ainda mais após o Reino Unido ceder às pressões americanas e banir a gigante de tecnologia chinesa Huawei das redes 5G do país, em represália as medidas adotadas pelas autoridades chinesas em relação a Hong Kong. Além do avanço no número de contágios pelo “coronavírus”, que se intensificou em algumas regiões dos EUA, a ponto do governador da Califórnia ordenar o retorno do isolamento social e fechamento do comércio.
Na China, foi divulgado que o PIB cresceu 3,2% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, superando a mediana das previsões de um aumento de 2,6%, após a queda histórica de 6,8% no primeiro trimestre. Agora, o país é o primeiro a registrar um crescimento positivo após o início da pandemia. A alta do número foi puxada pela indústria, que cresceu 4,8% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Entretanto, o protagonismo dos investimentos públicos na indústria, além dos números fracos do consumo, com as vendas no varejo recuando -3,9% no segundo trimestre frente ao mesmo período do ano anterior, apontam para um crescimento não sustentado do PIB.
Nos EUA, foi divulgado que as vendas no varejo cresceram 7,5% em junho, com os números que representam as compras em lojas, restaurantes e e-commerce aproximando-se aos níveis pré-pandemia. Por outro lado, o índice de confiança do consumidor recuou de 78,1 pontos em junho para 73,2 pontos em julho, ante previsão de 77,8 pontos, com o resultado da pesquisa refletindo o novo avanço do contágio em diversas regiões dos EUA.
Algumas importantes reuniões de banco centrais para tratar de política monetária foram realizadas. Nos encontros dos membros do BoJ, o banco central japonês, e do BCE, o banco central europeu, as políticas monetárias permaneceram inalteradas. As principais taxas de juros do BCE, a de refinanciamento e a de depósitos, permaneceram em 0% e -0,50%, respectivamente, enquanto o BoJ manteve a taxas de juros de curto prazo em -0,1% enquanto as de longo prazo em cerca de 0%. Ambas as autoridades reiteram a disposição de ajustar os instrumentos monetários na medida em que for necessário.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de valorizações. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 2,26%, e o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 3,20%, o índice SP 500, da bolsa norte-americana, subiu 1,25% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 1,82%.
No Brasil, conforme divulgou o Banco Central, o IBC-Br, considerado a prévia do PIB local, apontou que a economia avançou 1,31% no mês de maio ante abril, refletindo uma leve recuperação depois da forte retração da atividade por conta da pandemia pelo “coronavírus”. O número veio abaixo das expectativas coletadas entre os economistas, que previam um crescimento de 4,5% da atividade na comparação mensal, após recuo de 9,73% na medição do mês de abril.
No campo político, a semana foi movimentada. Destaque para o início das discussões sobre uma reforma tributária. Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, defende a desoneração da folha de pagamentos e o retorno do imposto sobre transações financeiras, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, rechaça a proposta de ressuscitar a “CPMF”. Com o fim do mandato de presidente da Câmara próximo, Rodrigo Maia pretende acelerar a discussão para não perder tempo. Paulo Guedes prometeu entregar o projeto de reforma ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, nesta semana.
Outro ponto de atrito foi a decisão do presidente Jair Bolsonaro em vetar trechos do novo marco do saneamento, em especial ao artigo que trata da renovação dos contratos de concessão atuais sem licitação.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, acompanhando os movimentos das bolsas internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com avanço de 2,86%, aos 102.888 pontos, acumulando valorização de 8,24% no mês, e desvalorização de -11,03% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,3805 para a venda. Na semana, a moeda avançou 1,12% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 34,13%. Já o IMA-B Total encerrou a semana avançando 0,52%, enquanto no mês acumula alta de 2,85% e no ano valorização de 1,14%. Em 12 meses a valorização é de 7,00%.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. O documento revela que a expectativa, na mediana das projeções, para o IPCA deste ano foi mantida em 1,72%, mesmo número da semana anterior. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,61%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve pela sexta semana seguida a expectativa de que a inflação encerre o ano em 3,00%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve pela quarta semana consecutiva a estimativa da taxa em 2,00% ao ano. O número projeta um novo corte da Selic na próxima reunião do Copom, em agosto, o que implicaria em uma redução de 0,25 ponto percentual frente ao atual patamar. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 3,00% pela sexta semana consecutiva.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic ao final do ano foram elevadas para 2,00% na mediana das coletas. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,38% na mediana das coletas, mesmo número em relação à estimativa semana passada.
Os analistas do mercado financeiro voltaram a reduzir a expectativa de contração da economia brasileira medida pelo PIB. O mercado estima que o PIB brasileiro encolha -5,95% neste ano, ante expectativa de -6,10% uma semana atrás. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -6,50%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB pela nona semana consecutiva em 3,50%. Este mês, o Bacen atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de variação zero para retração de -6,4%.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi mantida em R$ 5,20 pela sexta semana seguida. Para 2021, a projeção para o câmbio foi mantida em R$ 5,00. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,00.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, o mercado projeta mais queda no ingresso de recursos de fora do país. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 53,95 bilhões, ante projeção de US$ 55,00 da semana anterior, enquanto que para 2021 a expectativa foi mantida em US$ 64,10 bilhões. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 60,00 bilhões e US$ 75,00 bilhões, respectivamente.
Perspectiva
Os mercados de risco seguem o movimento de valorização, apoiados nas notícias positivas na medida em que avançam os testes para a descoberta de uma vacina contra o “coronavírus” eficaz e segura. Alguns laboratórios já iniciaram a fase três dos testes, como é o caso da “vacina de Oxford”, desenvolvida pela universidade britânica com colaboração da multinacional farmacêutica AstraZeneca. Outra vacina em estágio adiantado é produzida pelo laboratório chinês SinoVac Biotech, que começa a ser aplicada em profissionais de saúde no Hospital das Clínicas, em São Paulo, em parceria com o Instituto Butantan.
Enquanto uma solução eficaz não esteja disponível, o contágio pelo “coronavírius” segue não dando trégua. O número de contágios cresce em metade da Europa, indicando que o perigo de uma segunda onda é real. Vários países admitem endurecer as regras para evitar o avanço, sem, no entanto, impor confinamento.
Os EUA seguem contabilizando recordes diários no número de pessoas contagiadas, assim como o Brasil que aparentemente vive o “platô” da pandemia. Em comum, o fato de estabelecerem regras de isolamento social fraco e comando confuso, além de colocarem a recuperação da economia em primeiro plano.
Por aqui, as atenções estarão voltadas as questões políticas. O debate sobre uma reforma tributária toma corpo, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pretende intensificar as discussões por uma reforma o mais ampla possível.
Na agenda local da semana, destaque para a divulgação do IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial do país, que segundo projeções compiladas pela Bloomberg, deve mostrar aceleração, além do índice de confiança do consumidor da FGV.
No exterior, destaque para a divulgação de indicadores que permitirão medir a temperatura de como está a economia global e a retomada econômica dos principais países. Nos EUA serão divulgadas prévias dos PMIs de manufaturas e serviços deste mês, bem como serão revelados os PMIs da zona do euro e Reino Unido. Também no radar, discussões na União Europeia sobre pacote de ajuda à região e encontro de ministros do G-20.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.