Nossa Visão – 13/07/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco fecharam a semana em direções opostas, com os investidores oscilando entre o otimismo no desenvolvimento de medicamentos de rápida aplicabilidade contra o “coronavírus”, e o mau humor com a alta frequência das infecções e número de óbitos que não param de crescer, levando algumas regiões a retroceder na flexibilização social. As tensões entre EUA e China também ficaram no radar dos investidores, após a autoridade norte-americana impor sanções ao secretário do Partido Comunista da região autônoma de Xinjiang, Chen Quanguo, e mais três membros do alto escalão local, por supostos abusos de direitos humanos contra minoria muçulmana na região. A China prometeu retaliações.
Nos EUA, as bolsas locais fecharam a semana com ganhos, diante do início da divulgação de resultados trimestrais das empresas, a chamada “temporada de balanços”. Ainda por lá, destaque para a proliferação da infecção e número de óbitos pelo “coronavírus” na região sul do país.
Na Ásia, destaque para a divulgação da inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) na China. O índice de junho recuou 3,0% em relação há um ano, ante expectativa de recuo de 3,2%. A queda de junho é a quinta consecutiva, com a pandemia pesando bastante sobre a demanda da indústria. Enquanto no Japão, o banco central local (BoJ, na sigla em inglês) divulgou relatório com perspectivas para a economia da região. No relatório, o BoJ rebaixou a perspectiva para a economia de todas as regiões do país, afirmando que a situação econômica é extremamente grave, com a pandemia continuando a pesar sobre os exportadores e o setor de serviços, e que não hesitará em tomar medidas adicionais.
Na região do euro, destaque para a divulgação de dados sobre a produção industrial alemã. O crescimento foi de 7,8% em maio, diante de avanço esperado de 10%. Com a reabertura do comércio na região do euro, os consumidores voltaram às compras conforme mostraram as estimativas da Eurostat para as vendas no varejo. Nos 19 países que usam o euro como moeda, as vendas saltaram a 17,8% em maio na comparação com abril.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de movimentos mistos. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 0,84%, e o FTSE-100, da bolsa inglesa, desvalorizou -1,01%, o índice SP 500, da bolsa norte-americana, subiu 1,76% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, recuou -0,07%.
No Brasil, destaque para a divulgação do IPCA de junho. O índice, considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,26% conforme divulgou o IBGE. O resultado interrompe uma sequencia de dois meses de deflação, e coloca pressão sobre o COPOM na definição da taxa Selic na reunião do mês que vem. A alta nos preços dos combustíveis exerceu o maior impacto individual sobre o índice. No ano, o IPCA passou a acumular variação de 0,10%, e em doze meses, de 2,13%.
Após dois meses de queda devido ao isolamento social iniciado em março, o comércio varejista brasileiro apontou que as vendas no varejo subiram 13,9% em maio na comparação com abril, conforme divulgou o IBGE. O resultado foi acima do esperado, uma vez que a expectativa mediana dos economistas compilada pelo Bloomberg apontava para uma alta de 5,9% depois da queda de 16,8% registrada em abril. É a maior alta da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2000.
Destaque também para a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao afirmar que o país irá privatizar quatro empresas estatais nos próximos noventa dias, após a aproximação do Planalto com o “Centrão”. Segundo Guedes, a agenda reformista ganha força após a crise sanitária em que o governo se viu obrigado a abrir os cofres públicos com medidas para tentar segurar a atividade economia.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, com os dados econômicos sustentando o otimismo. O Ibovespa encerrou a semana com avanço de 3,38%, aos 100.031 pontos, acumulando valorização de 5,23% no mês, e desvalorização de -13,50% no ano. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,3208 para a venda. Na semana, a moeda avançou 0,05% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 32,69%. Já o IMA-B Total encerrou a semana avançando 0,95%, enquanto no mês acumula alta de 2,32% e no ano valorização de 0,62%. Em 12 meses a valorização é de 6,26%.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram as estimativas para a inflação deste ano, ainda em meio à economia doméstica fragilizada. O documento revela que a expectativa, na mediana das projeções, para o IPCA deste ano foi elevada para 1,72%, ante 1,63% da semana anterior. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 1,60%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve pela quinta semana seguida a expectativa de que a inflação encerre o ano em 3,00%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado manteve pela terceira semana consecutiva a estimativa da taxa em 2,00% ao ano. O número projeta um novo corte da Selic na próxima reunião do Copom, em agosto, o que implicaria em uma redução de 0,25 ponto percentual frente ao atual patamar. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 3,00% pela quinta semana consecutiva.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic ao final do ano foram reduzidas para 1,88% na mediana das coletas. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 2,38% na mediana das coletas, um aumento em relação à estimativa semana passada.
Os analistas do mercado financeiro voltaram a reduzir a expectativa de contração da economia brasileira medida pelo PIB. O mercado estima que o PIB brasileiro encolha -6,10% neste ano, ante expectativa de -6,50% uma semana atrás. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -6,51%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB pela oitava semana consecutiva em 3,50%. Este mês, o Bacen atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de variação zero para retração de -6,4%.
O relatório mostrou que a projeção dos economistas para o câmbio ao final de 2020 foi mantida em R$ 5,20 pela quinta semana seguida. Para 2021, a projeção para o câmbio foi ajustada para R$ 5,00, ante estimativa de R$ 5,05 na semana passada. Um mês atrás a projeção para o câmbio era de R$ 5,00.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, o mercado projeta mais queda no ingresso de recursos de fora do país. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 55,00 bilhões, mesmo número da semana anterior, enquanto que para 2021 a expectativa foi alterada para US$ 64,10 bilhões, uma redução ante aos US$ 70,00 bilhões estimados há sete dias. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 60,00 bilhões e US$ 75,00 bilhões, respectivamente.
Perspectiva
Os mercados de risco repercutem o otimismo pela recuperação econômica em países e regiões que já passaram pela quarentena superando os temores de uma segunda onda de contágios pelo “coronavírus”. Nova York, por exemplo, teve seu primeiro dia sem mortes desde março, o que reforça uma tese atualmente em discussão: regiões mais afetadas e que foram reabertas às atividades têm queda sustentada de mortes e podem ter criado uma barreira natural conta uma segunda onda de contágios. Obviamente, à custa de muitas vidas. Também corrobora com o viés otimista a decisão da Food And Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), órgão norte-americano similar à Anvisa no Brasil, de facilitar o protocolo a duas vacinas contra o “coronavírus” em desenvolvimento pelos laboratórios Pfizer e BioNTech.
Por aqui, os programas emergenciais de auxilio e da ampliação do bolsa família promoveram uma injeção de recursos suficientes para amenizar a queda do PIB brasileiro para este ano, devido a um aumento imediato na demanda que os programas que transferem renda para famílias com renda mais baixa oferecem. Alguns indicadores de maior frequência, como gastos com cartões de débito e de crédito, tráfego de veículos e circulação de pessoas também sugerem recuperação moderada da atividade no país.
Na agenda local da semana, destaque para a divulgação do IBC-Br, considerado a prévia do PIB nacional. A expectativa é de que o número reflita o desempenho acima do previsto da produção industrial e vendas do varejo do mês passado.
No exterior, destaque para a divulgação do PIB da China referente ao segundo trimestre do ano, que deve indicar boa recuperação da segunda maior economia do mundo, além de dados da indústria e do varejo da região. Nos EUA, destaque para a divulgação da produção industrial, seguida ainda pelas vendas no varejo de junho. Na Europa, o banco central da região (BCE, na sigla em inglês) se reúne para deliberar sobre política monetária, assim como o banco central japonês.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.