NOSSA VISAO CREDITO E MERCADO

Nossa Visão – 11/05/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco encerraram a semana no campo positivo, com a confirmação de reabertura gradual do comércio e afrouxamento das regras de distanciamento social em vários países da Europa e Ásia. Outra fonte de alívio veio da informação, por autoridades dos dois países em videoconferência, de que os EUA e China reafirmaram a validade do acordo comercial em 1ª fase, dissipando os temores de que a agressiva retórica em torno da pandemia pelo “coronavírus” pudesse minar as negociações.
Os números mais recentes do contágio pelo “coronavírus” confirmam a tendência de redução no número de infectados e óbitos, semana após semana. Os dados mais recentes informam a infecção de pouco mais de 4,1 bilhões de pessoas no mundo, que levaram a mais de 283 mil óbitos. Os números indicam um crescimento de 14% no número de contágios e de 13% no número de óbitos em uma semana, uma redução significativa no avanço dos números em relação aos dados de sete dias atrás.
Enquanto isso, dados das principais economias globais trazem a confirmação do estrago que a paralisação das atividades tem promovido na sociedade.
O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços dos EUA recuou de 39,8 pontos em março para 26,7 pontos em abril, abaixo da expectativa do mercado. A queda é resultado das restrições de viagens e do distanciamento social, que resultam em uma queda geral da atividade. Resultados abaixo de 50 pontos indicam contração do setor.
Ainda nos EUA, foi divulgado que no mercado de trabalho foram destruídos 20,5 milhões de empregos em abril. Em março, os EUA haviam perdido 701 mil postos de trabalho, o que dá uma dimensão do impacto da paralisação das atividades por lá. A taxa de desemprego subiu de 4,4% para 14,7%, taxa mais alta desde os anos 1940.
Na região do Euro a queda é mais drástica. O PMI de serviços fechou o mês de abril aos 12,0 pontos, ante 26,4 pontos em março. Irlanda com 17,3 pontos e Alemanha com 17,4 pontos apresentaram os melhores resultados, enquanto a Espanha com 9,2 pontos e Itália com 10,9 pontos foram os piores.
Na Ásia os números mostram uma melhora em função da reabertura gradual das atividades ter começado há mais tempo. Na China, o PMI de serviços fechou o mês de abril em 44,4 pontos, ante 43,0 pontos em março, com a taxa de novos negócios melhorando, mas ainda permanecendo no campo da contração, enquanto no Japão, o PMI da atividade de serviços em abril apresentou uma queda para 21,5 pontos, diante dos 33,8 pontos observados em abril.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de alta. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 0,39%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 3,00%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, cresceu 3,50% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, subiu 2,85%.
Por aqui, destaque para a reunião do COPOM que reduziu a taxa básica de juros – Selic – para a mínima histórica de 3,00% ao ano, em decisão unânime. A redução, de 0,75 pontos percentuais, era em parte esperada pelo mercado, que trabalhava com um corte menos agressivo, de 0,50 pontos percentuais. No comunicado pós-reunião, o comitê avalia que “neste momento, a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”, e já deu pistas de que, na próxima reunião que ocorrerá nos dias 16 e 17 de junho, novo corte está planejado.
Coincidentemente, na mesma semana do COPOM ocorreu a divulgação da inflação. O IBGE divulgou que o IPCA de abril apresentou deflação de -0,31%, enquanto a taxa registrada em março foi de 0,07%. O maior impacto negativo veio do grupo “Transportes”, que recuou -2,66%, seguido dos “Artigos de Residência” que recuou -1,37%. No lado das altas, o vilão foi o grupo de “Alimentação e Bebidas”, com alta de 1,79%. No ano, o IPCA acumula alta de 0,22% e, nos últimos doze meses, de 2,40%.
Para a bolsa brasileira a semana foi de queda, repercutindo a escalada de infecção pelo “coronavírus” no Brasil e o cenário político conturbado. O Ibovespa encerrou a semana com desvalorização de -0,30%, aos 80.263 pontos, acumulando valorização de 10,25% na semana e no mês, e desvalorização no ano de -30,59%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,740 para a venda. Na semana, a moeda avançou 5,56% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 43,04%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com desvalorização de -0,33%, enquanto no ano acumula desvalorização de -5,39%. Em 12 meses a valorização é de 7,62%.

Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro seguem ajustando pra baixo a estimativa para a inflação deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 1,76%, ante 1,97% da semana passada, nona semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 2,52%. O resultado se distancia ainda mais da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,25%, ante 3,30% da semana anterior. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,50%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o mercado voltou a reduzir a expectativa. Agora, o boletim mostrou que a expectativa dos economistas é de que a taxa básica de juros encerre o ano em 2,50%, uma queda de 0,25 pontos percentuais em relação à Selic atual, que é de 2,75%. Nesta semana, o comitê de política monetária do Bacen, o COPOM, reduziu a taxa de juros Selic para 3,00%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi reduzida para 3,50%, ante projeção de 3,75% da semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 4,50%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram mantidas em 2,50%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 3,88% na mediana das coletas.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira fizeram os economistas cortarem novamente suas projeções para o PIB em 2020, pela décima terceira semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -3,76% para queda de -4,11%. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -1,96%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão do PIB em 3,20%. Quatro semanas atrás, estava em 2,70%. Em março, na esteira da pandemia pelo “coronavírus”, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou manutenção no cenário para a moeda norte-americana em 2020. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano foi mantida em R$ 5,00. Um mês atrás a projeção era de R$ 4,60. Para 2021, a projeção para o câmbio saltou de R$ 4,75 para R$ 4,83, ante R$ 4,47 de quatro pesquisas atrás.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, os números seguem em ajuste. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 70,75 bilhões, ante US$ 70,00 bilhões da semana anterior e US$ 73,00 bilhões um mês atrás. Para 2021, a expectativa foi alterada para US$ 79,00 bilhões, ante R$ 80,00 bilhões da semana passada. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 80,00 bilhões.

Perspectiva

Os mercados de risco iniciam a semana no vermelho, diante do aumento no número de casos de infecção pelo “coronavírus” em alguns países que iniciaram um processo de relaxamento da quarentena. O mercado demonstra apreensão com o ressurgimento do contágio pelo vírus na Coreia do Sul e aceleração de casos na Alemanha, o que é prejudicial os planos de reabertura do comércio mesmo em países que já passaram pelo pico da pandemia. A China também volta a preocupar com o registro de cinco novos casos de infecção pelo “coronavírus” na província de Hubei, sendo que na capital Wuhan, epicentro original da doença, foi registrado o primeiro caso desde o dia 03 de abril.
Por aqui, o mercado aguarda pela confirmação do veto presidencial à ampliação das categorias de servidores públicos que continuarão a receber reajuste nos salários em meio à pandemia. A medida foi aprovada pelos parlamentares, que flexibilizaram o texto abrindo brechas para a concessão do reajuste a algumas categorias. O texto original do projeto, que previa o congelamento dos salários em contrapartida a ajuda financeira, pela União, aos Estados e Municípios, foi desfigurada na Câmara dos Deputados.
Também no radar dos investidores está o inquérito que investiga as acusações do ex-ministro Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, no episódio da troca do comando na Polícia Federal.
Em relação ao “coronavírus” no Brasil, até agora são mais de 162 mil infectados e 11,0 mil óbitos, ambos os números apontando um aumento de 60% nos casos em uma semana. O sistema de saúde está operando além da capacidade, com novos leitos de UTI sendo instalados, porém sem perspectiva de atender plenamente a demanda crescente. As taxas de isolamento social não têm sido suficientemente fortes para suavizar a curva de contágio de modo a dar fôlego ao sistema de saúde. Estados e Municípios seguem apertando as medidas para conter a circulação de pessoas, como restrições de veículos nas ruas até o “lockdown” em algumas cidades.
Na agenda da semana, destaque para a divulgação da ata da reunião do COPOM, que reduziu a taxa Selic para 3,00%, a mínima histórica. O documento poderá fornecer novas pistas sobre os rumos que a autoridade monetária seguirá. Na semana também será revelado o IBC-Br, considerado a prévia do PIB, além de dados do setor de serviços.
Nos EUA, serão revelados os dados da inflação ao consumidor, além de dados de vendas no varejo, além do PIB do primeiro trimestre na zona do euro.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.

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