Nossa Visão – 04/05/2020
Retrospectiva
Os mercados de risco encerraram a semana, majoritariamente, no azul diante da expectativa com o afrouxamento das medidas restritivas e a abertura gradual do comércio em diversos países da Europa e Ásia. Por outro lado, o presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas sobre produtos chineses como resposta, ao sugerir que a China é responsável pela disseminação do “coronavírus”, após cortar ajuda financeira a Organização Mundial da Saúde – OMS por considerá-la um fracasso na administração da pandemia. Uma ação desse tipo pode colocar em risco todos os esforços promovidos pelas autoridades monetárias para recuperar as economias após a pandemia.
Os números mais recentes do contágio pelo “coronavírus” confirmam a infecção de mais de 3,5 bilhões de pessoas no mundo, que levaram a mais de 248 mil óbitos. Os números indicam um crescimento de 17% no número de contágios e de 19% no número de óbitos em uma semana, uma redução significativa no avanço dos números em relação aos dados de sete dias atrás.
Enquanto isso, os principais bancos centrais seguem promovendo estímulos monetários para evitar que as economias entrem em colapso.
Nos EUA, o Federal Reserve (FED na sigla em inglês) manteve a taxa básica de juro inalterada no intervalo entre 0% e 0,25%, e repetiu a promessa de fazer o que for necessário, e pelo tempo necessário, para sustentar a economia da região, com o compromisso de acionar o arsenal de ferramentas a disposição, e assim promover as metas de máximo emprego e estabilidade de preços.
Conforme divulgou preliminarmente o Departamento de Comércio, o PIB norte-americano encolheu a uma taxa anualizada de 4,8% no primeiro trimestre de 2020, enquanto no trimestre anterior a economia havia crescido 2,1%. Contribuiu negativamente para o resultado a queda no consumo das famílias, os investimentos privados e as exportações.
Na zona do euro, a agência Eurostat divulgou que o PIB do primeiro trimestre encolheu 3,8%, enquanto no 4º trimestre de 2019 havia expandido 0,1%, com os gastos do consumidor puxando a queda. O desemprego na região subiu para 7,4% em março, com o total de pessoas desempregadas estimado em 12,156 milhões.
No Japão, o banco central local (BoJ, na sigla em inglês), além de cortar suas previsões de crescimento da economia japonesa para algo entre -3,0% e -5% neste ano, a instituição informou que comprará títulos do governo sem limite máximo, além de dobrar sua capacidade em comprar bônus corporativos e títulos comerciais.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de movimentos mistos. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 5,08%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, valorizou 0,19%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, recuou -0,21% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, subiu 1,86%.
No cenário doméstico, em semana encurtada devido ao feriado de 01 de maio, os mercados de risco se recuperaram com as questões políticas dando uma trégua. A fala do ministro da Economia Paulo Guedes tranquilizou o mercado, assim como a demonstração pública de apoio do presidente Jair Bolsonaro à equipe econômica e a política econômica de responsabilidade fiscal.
A Fundação Getúlio Vargas – FGV – informou que a confiança dos empresários da indústria despencou 39,3 pontos em abril, ficando em 58,2 pontos, a maior redução mensal e menor índice desde janeiro de 2001.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, seguindo os mercados externos. O Ibovespa encerrou a semana com valorização de 6,87%, aos 80.506 pontos, acumulando valorização de 10,25% no mês, e desvalorização no ano de -30,39%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,438 para a venda. Na semana, a moeda recuou 4,06% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 35,51%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 2,79%, enquanto no ano acumula desvalorização de -5,08%. Em 12 meses a valorização é de 8,94%.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para a inflação deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 1,97%, ante 2,20% da semana passada, oitava semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 2,72%. O resultado se distancia ainda mais da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,30%, ante 3,40% da semana anterior. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,50%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o levantamento semanal mostrou que a expectativa é de que a taxa básica de juros encerre o ano em 2,75%, uma queda de 100 pontos base em relação à Selic atual, que é de 3,75%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi reduzida para 3,75%, ante projeção de 4,25% da semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 4,75%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram mantidas em 2,50%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 3,88% na mediana das coletas.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira fizeram os economistas cortarem novamente suas projeções para o PIB em 2020, pela décima segunda semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -3,34% para queda de -3,76%. Há quatro semanas, a estimativa era de queda de -1,18%. Para 2021, o mercado financeiro alterou a previsão do PIB, de elevação de 3,00% para 3,20%. Quatro semanas atrás, estava em 2,50%. Em março, na esteira da pandemia pelo “coronavírus”, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou alteração no cenário para a moeda norte-americana em 2020. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano foi alterada para R$ 5,000, ante R$ 4,80 da semana passada e R$ 4,50 de um mês atrás. Para 2021, a projeção para o câmbio saltou de R$ 4,55 para R$ 4,75, ante R$ 4,40 de quatro pesquisas atrás.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, os números seguem em queda. A mediana das previsões para 2020 é de um ingresso de US$ 70,00 bilhões, ante US$ 72,00 bilhões da semana anterior e US$ 76,50 bilhões um mês atrás. Para 2021, a expectativa foi mantida em R$ 80,00 bilhões. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem também de US$ 80,00 bilhões.
Perspectiva
Os mercados de risco iniciam a semana em queda, diante da repercussão da acusação, pelo presidente Donald Trump, de que a China escondeu informações sobre a epidemia pelo “coronavírus” para armazenar suprimentos médicos e equipamentos para combate a doença, e com isso faturar alto à custa da saúde global. O mandatário norte-americano vem ameaçando taxar produtos chineses caso seja evidenciada a teoria.
Por aqui, o mercado repercute a presença do presidente Jair Bolsonaro nas manifestações pró governo em Brasília neste domingo, nas quais os manifestantes voltaram a pedir o fechamento do Congresso e do STF, além de críticas ao ex-ministro Sérgio Moro. Na saída, Jair Bolsonaro deu corda aos manifestantes ao dizer que “a Constituição será cumprida a qualquer preço” e que “as forças armadas estão ao lado do povo”, o que pode ser interpretado como um movimento de autogolpe.
Ainda na seara política, a Câmara dos Deputados vota a proposta de auxílio financeiro a estados e municípios para combate a pandemia. A proposta já havia sido votada pelos deputados, porém retorna ao plenário após o Senado modificar o texto e incluir contrapartidas pelos entes à ajuda.
Segue no radar o aumento de casos de contágio pelo “coronavírus” no Brasil, que assumiu a ingrata posição de 7º lugar no ranking mundial em número de óbitos. Até agora, são mais de 101 mil infectados e 7,0 mil óbitos, e os números seguem aumentando significativamente. O sistema de saúde está operando além da capacidade, com novos leitos de UTI sendo instalados, porém sem perspectiva de atender plenamente a demanda crescente. As taxas de isolamento social não têm sido suficientemente fortes para suavizar a curva de contágio de modo a dar fôlego ao sistema de saúde.
Na agenda da semana, destaque para a reunião do COPOM, o comitê de política monetária do Bacen, onde é esperado um corte de meio ponto percentual, que se confirmado levará a taxa Selic dos atuais 3,75% para 3,25% ao ano. Na avaliação do mercado, a redução da Selic se dá num ambiente em que a alta do dólar não está sendo repassada para a inflação por conta do declínio da atividade e consumo, situação que favorece novos cortes.
Além da decisão sobre o juro, o mercado ficará atento à divulgação de dados da produção industrial e da inflação.
No exterior, destaque para a divulgação dos dados de emprego nos EUA, também chamado de Payroll, além de dados de vendas no varejo da zona do euro e da atividade chinesa.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.