Nossa Visão – 13/04/2020
Retrospectiva
Os números mais recentes do contágio pelo “coronavírus” indicam a infecção de mais de 1,8 bilhões de pessoas no mundo, que levaram a mais de 116 mil óbitos. Os números indicam um crescimento de 40% no número de contágios e de 50% no número de óbitos em uma semana, o que tem levado a uma corrida mundial por encomendas de EPIs e respiradores artificiais em um momento de baixa oferta. O isolamento social foi expandido nos principais centros do contágio, e indicam que a economia deve demorar mais do que o previsto inicialmente para atingir o fundo do poço. A única região que, de fato, afrouxou as medidas de segurança foi a China. A cidade de Hubei, onde o “coronavírus” surgiu em dezembro do ano passado, foi reaberta após 11 semanas de total confinamento.
Enquanto isso, no Japão, o governo decretou estado de emergência de um mês em sete regiões do país. As medidas restritivas devem atingir quase 50 milhões de pessoas, o equivalente a 44% da população japonesa. Concomitantemente, o governo japonês anunciou um pacote de ajuda que inclui gastos fiscais, repasses a famílias e financiamento de pequenas empresas no valor de 108 trilhões de ienes, o equivalente a quase US$ 1 trilhão.
A Organização Mundial do Comércio – OMC – reviu as projeções para o comércio global, concluindo que 2020 será o pior ano da história da OMC. Conforme o relatório, no melhor dos cenários, o comércio deve cair este ano 13%, mais do que na esteira da crise financeira de 2008. Mas, se a pandemia demorar a ser controlada e governos não agirem rapidamente, a queda pode chegar a 32%, equivalente à registrada na Grande Depressão na década de 1930, ao longo de três anos. Conforme previsão do IFO, instituto de pesquisa econômica sediado em Munique, a economia alemã deve recuar quase 10% no segundo trimestre. Já o banco central francês prevê o encolhimento da economia francesa em 6% até agora.
Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de recuperação de parte das perdas em resposta aos maciços programas de estímulo monetário dos principais governos e bancos centrais do planeta. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 10,91%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, subiu 7,89%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, valorizou 12,10% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 8,56%.
Por aqui, o avanço do contágio indica que o pior está por vir. As autoridades de saúde mantém a recomendação de isolamento social como a principal medida de combate a disseminação do “coronavírius” e desafogar o sistema de saúde. Por outro lado, com a atividade paralisada devido à quarentena obrigatória dos serviços considerados não essenciais, o mercado contabiliza os prejuízos.
O índice dos gerentes de compras (PMI na sigla em inglês) composto caiu 13,3 pontos em março. O indicador foi de 50,9 pontos em fevereiro para 37,6 pontos em março, menor registro já feito desde o início da pesquisa, em março de 2007. O recuo foi puxado principalmente pelo setor de serviços, que teve queda de 15,9 pontos – indo de 50,4 para 34,5 pontos.
O auxílio emergencial a população mais carente anunciado pelo governo federal começou a ser implementado. A primeira leva de pagamentos, liberado pela Caixa Econômica Federal no dia 09 de abril, contemplava um total de 2,5 milhões de brasileiros que já estavam inscritos no CadÚnico.
O IBGE divulgou que o IPCA variou 0,07% em março, o menor resultado para o mês desde o início do Plano Real, e ficou 0,18 ponto percentual abaixo da taxa de fevereiro, de 0,25%. O grupo Alimentação e bebidas apresentou a maior variação, 1,13%, e o maior impacto, 0,22 ponto percentual. No lado das quedas, embora a menor variação tenha sido a dos Artigos de residência, com -1,08%, a maior contribuição negativa no índice do mês veio dos Transportes, com -0,90%, que contribuiu com -0,18 pontos percentuais.
Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, seguindo os mercados externos. O Ibovespa encerrou a semana com valorização de 11,71%, aos 77.681 pontos, acumulando desvalorização no ano de -32,83%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,091 para a venda, o menor valor de fechamento em quase duas semanas. Na semana, a moeda recuou 0,19% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 28,23%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 1,74%, enquanto no ano a desvalorização é de -6,32%. No acumulando de 12 meses a valorização é de 8,89%.
Relatório Focus
No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para a inflação deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 2,52%, ante 2,72% da semana passada, quinta semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 3,10%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa da inflação em 3,50%. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,65%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Para a Selic, o levantamento semanal mostrou que a expectativa é de que a taxa básica de juros encerre o ano em 3,25%, uma redução de 50 pontos base em relação à Selic atual, de 3,75%. Na semana anterior a expectativa era a mesma de hoje. Para o encerramento de 2021, a previsão para a Selic foi reduzida em mais 0,25 ponto percentual, para 4,50%, ante projeção de 4,75% na semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 5,25%.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado “top 5”, as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram reduzidas ainda mais, para 2,75%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 4,00%.
Os efeitos da pandemia do “coronavírus” sobre a economia brasileira fizeram os economistas cortarem novamente suas projeções para o PIB em 2020. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -1,18% para queda de -1,96%. Há quatro semanas, a estimativa era de alta de 1,68%. O número, porém, está longe das novas previsões divulgadas por algumas casas na semana passada, que veem a economia brasileira encolher mais de -3,5% neste ano, como consequência da parada da atividade no Brasil e no mundo, com as restrições de circulação para conter o contágio do vírus. Para 2021, o mercado financeiro alterou a previsão do PIB, de elevação de 2,50% para 2,70%. Quatro semanas atrás, estava em 2,50%. Em março, na esteira da pandemia, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.
O relatório mostrou alteração no cenário para a moeda norte-americana em 2020. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano foi de R$ 4,50 para R$ 4,60, ante R$ 4,35 de um mês atrás. Para 2021, a projeção para o câmbio foi de R$ 4,40 para R$ 4,47, ante R$ 4,20 de quatro pesquisas atrás.
Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, os números seguem em queda. A mediana das previsões para 2020 foram reduzida para US$ 73,00, ante US$ 76,50 da semana anterior. Para 2021, a expectativa foi mantida em R$ 80,00. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem de US$ 83,75 bilhões.
Perspectiva
Os mercados de risco repercutem o acordo histórico selado por russos e árabes que definiram um corte na produção do petróleo da ordem de 10 milhões de barris diários em resposta a uma queda de 30% na demanda por combustíveis em todo mundo, o que trouxe o preço do barril do petróleo a níveis de quatro anos atrás. Entretanto, o tamanho do corte frustrou as expectativas gerais, que esperavam uma redução de até 20 milhões de barris diários, e diante disso, limitou o ânimo dos mercados.
Por aqui, destaque para o relatório do Banco Mundial sobre o crescimento da economia revelado no final de semana. Para a América Latina e Caribe, o Banco Mundial prevê que o PIB da região deverá diminuir 4,6% em 2020, enquanto que para 2021 é esperado um crescimento de 2,6%. O relatório destacou que muitos países da região estão enfrentando a pandemia do “coronavírus” com um espaço fiscal limitado, dado um contingente de cidadãos vulneráveis significativamente elevado e dependentes de programas sociais de distribuição de renda. Para o Brasil, o relatório prevê uma retração ainda maior, de 5% no PIB em 2020.
Na agenda da semana, destaque para a divulgação do PIB trimestral da China, que deve mostrar uma queda da ordem de 6% no primeiro trimestre, na comparação anual, além de dados da produção industrial e vendas no varejo, que devem repercutir o retorno da atividade da região após o período de isolamento recém-terminado.
No restante do mundo, os dados de atividade, produção e vendas devem mostrar declínio na medida em que forem revelados, em vista da extensão dos períodos de isolamento social nos países em que o número de pessoas infectadas segue avançando.
Por aqui, espera-se pela votação da PEC do “orçamento de guerra”, que permite gastos do governo além das regras fiscais previstas na Constituição, para combater os efeitos da pandemia.
Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em “quarentena” esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.