INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Núcleos de inflação seguem em nível comportado e indústria cresce em janeiro
EUA: Pandemia e guerra de preços do petróleo impactam a economia global
Coronavírus avança, OMS declara nível de pandemia e economia global sofre com impactos da doença. De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizado em 12 de março, a atual pandemia já se espalhou por 117 países, totalizando 125.048 casos ao redor do globo. O ritmo de aumento do número de casos na China, epicentro do vírus, tem diminuído nas últimas semanas. Por outro lado, houve aceleração do número de casos e mortes em outras regiões do mundo. Na Europa, a proliferação acelerou drasticamente na semana, com a Itália assumindo nível de quarentena nacional e outros países do continente impondo restrições. Nos Estados Unidos, o número de casos também aumentou e deve seguir acelerando nos próximos dias, elevando a preocupação dos mercados com interrupções da atividade global. No Brasil, os casos confirmados também tem aumentado e já há restrições em certas atividades. Com o impacto direto sobre a atividade econômica e a repercussão negativa sobre os ativos, o PIB global deve sofrer desaceleração relevante nesse ano.
Conflito entre OPEP e Rússia desencadeia guerra de preços do petróleo. A Arábia Saudita reduziu em 20% seus preços de exportação de petróleo após a Rússia se negar a diminuir a produção, contrariando a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com vista à manutenção de preços frente à redução de demanda provocada pelo coronavírus. Com o conflito, o preço do petróleo recuou cerca de 20%, elevando a vulnerabilidade tanto de países emergentes dependentes da receita de petróleo, como dos produtores de ‘shale gas’ nos EUA.
Apesar de historicamente a economia global ser considerada ‘importadora líquida’ de petróleo, e a queda do preço resultar em mais atividade, o impacto da decisão árabe sobre os ativos implica aperto das condições financeiras. Nesse caso, o evento adiciona mais incerteza aos mercados ao criar novos focos de tensão em economias e setores já debilitados. Por outro lado, o choque de oferta do petróleo somada à queda da demanda global compõem um cenário com elevado potencial desinflacionário, abrindo espaço para ações mais expansionistas dos bancos centrais, em especial nos países desenvolvidos.
Nesse sentido, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de juros e aprovou medidas de estímulo na reunião de março. A taxa de depósito foi mantida em -0,5% a.a., a de refinanciamento em 0,0% e a taxa de empréstimo permaneceu em 0,25%. Como novidade, o banco anunciou um programa adicional de compra de títulos no montante de €120 bilhões somente nesse ano, além oferecer termos mais favoráveis para as operações de refinanciamento de longo prazo (TLTRO), com o objetivo especial de impulsionar o créditos para os setores mais afetados pelo coronavírus, em especial pequenas e médias empresas . Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que o momento da atual crise requer uma abordagem de política fiscal. Com a entrevista, Lagarde reforçou o limite da atuação da política monetária. Nesse contexto, os líderes da região anunciaram que não medirão esforço fiscal para conter o cenário de crise.
Em termos de dados econômicos, na China a inflação ao consumidor segue elevada em meio à epidemia de coronavírus. A inflação ao consumidor (CPI) de fevereiro foi de 5,25% na comparação anual, frente a um aumento de 5,4% em janeiro. Embora a queda de demanda decorrente do coronavírus gere pressão baixista de preços, a desestruturação das cadeias produtivas tem mantido os preços dos alimentos em alta. Os preços nesse segmento aumentaram 21,9% em relação a fevereiro do ano passado, com destaque para a alta da carne suína (135,2% no período). Já o núcleo do CPI (exclui alimentos e energia) caiu significativamente, com variação de 1,0%, ante 1,5% em janeiro. O avanço do coronavírus pressiona a inflação com efeito sobre a oferta no curto prazo, mas já demonstra sinais de pressão desinflacionária sobre o núcleo dos preços.
Nos EUA, a inflação ao consumidor (CPI) registrou variação de 0,1% em fevereiro. Em termos anuais, o CPI americano desacelerou de 2,5% em janeiro para 2,3% em fevereiro. O núcleo do CPI (que exclui alimentos e energia) variou 2,4% na comparação anual, mesmo resultado do mês anterior. A dinâmica de inflação nos EUA segue comedida. Com o avanço da epidemia no país, as próximas leituras devem apresentar viés altista no curto prazo, em função de alimentos, e pressão desinflacionária no médio prazo.
A inflação ao consumidor (IPCA) teve resultado acima do esperado em fevereiro. No mês, o índice variou +0,25%, acima da nossa expectativa (+0,14%) e do mercado (+0,15%). Em relação aos grupos, destaque para Saúde e Cuidados Pessoais, que apresentou variação de 0,73%, sendo esse o maior desvio em relação à nossa projeção (+0,09%). Em relação a Alimentação no Domicílio (+0,11%), o item carnes devolveu parte das altas anteriores, registrando variação de -3,5% (ante -4,0% em dezembro). Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) manteve-se em patamar confortável, acumulando alta de 3,1% em doze meses, o que sinaliza continuidade do cenário benigno para a inflação. Para esse ano, nossa projeção permanece abaixo do centro da meta (de 4,0%).
Mudança no regime de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) pode gerar gastos extras ao governo. O Congresso Nacional derrubou o veto presidencial para o projeto de lei que reduz o nível de renda familiar per capita para acesso ao benefício. De acordo com estimativas, a mudança poderia gerar uma despesa extra anual de R$ 7 a R$ 20 bilhões para o Estado. No entanto, o governo estuda medidas para reverter ou atenuar os impactos dessa decisão, de forma a não comprometer o teto de gastos.
A produção industrial apresentou avançou em janeiro após dois meses de recuo. A indústria apresentou variação de 0,9% na margem, abaixo da nossa expectativa (1,1%) e acima do mercado (0,6%). Houve alta na indústria de transformação (1,5%), após retração em dezembro (-0,8%), mas houve queda da indústria extrativa (-3,1%). Todas as categorias de uso apresentaram alta, com destaque para bens de capital (12,6%), por conta da produção de máquinas e equipamentos, que teve a maior contribuição positiva no mês (11,5%), compensando queda em dezembro. O dado da indústria de transformação em janeiro se situa 0,5% acima da média do 4º trimestre de 2019. Com esses dados, nosso tracking do PIB do 1º trimestre permanece em 0,2% na margem.
Na próxima semana:
Na agenda local, destaque para a definição da SELIC (BRAM: 4,0%) pelo Copom na quarta feira e a divulgação dos dados de emprego de janeiro (BRAM: 90 mil) pelo Caged durante a semana. Na agenda internacional, haverá a divulgação de dados de atividade de fevereiro na China no domingo e a reunião do FOMC que definirá a taxa de juros básica nos EUA, na quarta-feira .