No Brasil, o Copom reduz a taxa Selic para 5,5% a.a. e sinaliza continuidade no ciclo de corte. Nos EUA, o Fed reduziu os juros em 0,25p.p. e deverá repetir ajuste em outubro.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic pela 2ª vez seguida e sinalizou a continuidade do ajuste monetário. Em decisão unânime, o comitê reduziu a Selic de 6,0% para 5,5% ao ano, menor patamar da história, conforme o esperado. O Copom manteve a avaliação de que o cenário é benigno para a inflação e permite ajuste adicional no grau de estímulo, o que em nossa visão, levará a novo corte de 0,50 p.p. Mesmo com a recente desvalorização do câmbio, as projeções de inflação do Banco Central permaneceram abaixo da meta nesse e no próximo ano. Projetamos que a Selic irá encerrar o ano em 4,5%.
No comunicado, o Copom menciona que os estímulos monetários nas principais economias tem gerado um quadro favorável para países emergentes. No entanto, reconhece o risco de uma desaceleração global mais intensa. No âmbito doméstico, os indicadores de atividade sugerem retomada da economia brasileira, embora em ritmo gradual. Com relação ao nível de preços, a inflação e os seus núcleos seguem bem-comportados, em níveis confortáveis, bem como as expectativas ancoradas. Sobre o balanço de riscos, o risco relacionado com o avanço das reformas estruturais foi mitigado, deixando de ser a incerteza preponderante. Por outro lado, foi mantido a incerteza relacionada à retomada gradual da atividade, assim como a possibilidade de uma deterioração do cenário externo.
Sobre as projeções do BC, mesmo com uma taxa de câmbio mais elevada a inflação permanece abaixo da meta em 2019 e 2020. Considerando os cenários de inflação com trajetórias de taxas de juros e câmbio da pesquisa de mercado (Focus), a inflação se situa em torno de 3,3% em 2019 e 3,6% em 2020. No cenário com Selic (6,0% a.a.) e câmbio (R$/US$ 4,05) constantes, as projeções ficam em torno de 3,4% em 2019 e 3,6% em 2020. Por sua vez, em um cenário híbrido com taxa de câmbio constante e trajetória de juros da pesquisa Focus a inflação atinge 3,4% para 2019 e 3,8% para 2020. Vale notar que em qualquer cenário do horizonte de projeções, a inflação se encontra abaixo da meta. Acreditamos que a continuidade da ociosidade elevada permitirá uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo. Nossa projeção da Selic para o final do ano passou de 5,0% a.a. para 4,5% ao ano.
Com relação à atividade, os dados de julho apontam para um ritmo modesto do PIB no 3º trimestre. Os resultados mais fortes do comércio e de serviços em julho diminuíram a possibilidade de recuo do PIB no 3º trimestre. Porém, o desempenho da indústria permaneceu fraco, o que influenciou o resultado do índice mensal de atividade do Banco Central (IBC-Br), que recuou 0,2% em julho na margem. Esses dados são condizentes com uma expansão de 0,2% do PIB nesse trimestre. Além disso, os indicadores antecedentes de agosto apontam para um consumo mais moderado e nova queda da produção industrial. Ainda há incertezas relevantes sobre o ritmo de retomada, porém a liberação dos saques do FGTS, e os efeitos da política monetária sobre a economia devem impulsionar a atividade, especialmente no 4º trimestre. Diante desse cenário revisamos nossa projeção do PIB de 2019 de 0,6% para 0,8%.
Nos EUA, o Fed reduziu a taxa de juros em meio a preocupação com o cenário global. O Fed reduziu a taxa de juros em 0,25 p.p., passando para o intervalo entre 1,75% e 2,0% ao ano. A decisão contou com dois votos dissidentes para manutenção e um voto para corte de 0,5 p.p. Em seu comunicado, a autoridade monetária afirmou que a atividade segue robusta, embora com certa moderação. O comitê reiterou a elevada incerteza com a guerra comercial e atividade global, avaliando que o corte de juros agirá de maneira apropriada para sustentar a expansão da atividade dos EUA. Em sua entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que a atual conjuntura requer ajustes moderados nos juros. Adicionalmente, Powell admite que caso o cenário se deteriore, o ciclo de corte de juros poderá ser estendido. Avaliamos que, diante da conjuntura atual, haverá novo corte de 0,25 p.p na reunião de outubro, encerrando o ciclo de ajuste monetário.
Na China, os dados de atividade frustraram novamente as expectativas em agosto. No mês, a indústria cresceu 4,4% na comparação anual, abaixo da expectativa do mercado (5,2%) e do crescimento registrado em julho (4,8%). As vendas no varejo e os dados de investimentos também frustraram a expectativa. Como ponto positivo, o investimento ligado à infraestrutura acelerou de 2,7% para 6,2%. Com os resultados de julho e agosto, o risco de crescimento abaixo de 6,0% no 3º trimestre torna-se mais elevado. Portanto, diante da desaceleração da atividade e dos impactos negativos oriundos da guerra comercial, acreditamos que o governo adote novas medidas de estímulo no curto prazo.
Na próxima semana:
Na agenda local destaque para a Ata do Copom na terça-feira e para o Relatório de Inflação do 3º trimestre na quinta-feira. Na terça-feira, será divulgado a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15), projetamos alta de 0,08%. Ao longo da semana, o Banco Central divulgará os dados de setor externo e crédito de agosto. No âmbito global deverão ocorrer novas rodadas de negociações comerciais entre Estados Unidos e China.