INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

Brasil: crédito segue em alta e desemprego recua em dezembro

EUA: Fed mantém os juros. Atividade na China deverá desacelerar no 1º trimestre

Saldo de crédito teve expansão de 6,5% em 2019, acelerando em relação ao crescimento de 5% em 2018. Em termos reais, a alta foi de 2,1%, ante 1,2% no ano anterior. O aumento nominal de 14,1% do saldo de crédito livre foi o principal responsável pelo desempenho mais forte em 2019. Como proporção do PIB, o estoque de crédito atingiu 47,8%, o maior patamar desde junho de 2017. Por fim, a inadimplência total permaneceu baixa. O cenário de recuperação consistente do mercado de crédito se mantém, diante do baixo nível da taxa de juros e do aumento da confiança, o que deve impulsionar os dados de atividade.

O setor público consolidado terminou 2019 com o menor déficit desde 2014, impulsionado por fatores não recorrentes. O déficit primário consolidado do ano fechou em R$ 61,9 bilhões (0,85% do PIB). O resultado foi impulsionado pelas maiores receitas extraordinárias, com a arrecadação de R$ 70 bi da cessão onerosa e recebimentos de dividendos de empresas estatais (+R$20 bi). A dívida bruta também apresentou queda já em 2019, finalizando o ano em 75,8% do PIB, próximo da nossa projeção (75,6%) e 0,8 p.p. menor que 2018. Com menor nível de receita extraordinária prevista para 2020, o resultado dependerá da arrecadação ligada à atividade e da continuidade do ajuste fiscal com as reformas estruturais dos gastos. Projetamos déficit de 1,0% do PIB para 2020, acima do registrado em 2019.

A taxa de desemprego recuou no 4º trimestre, favorecida pela recuperação do emprego formal. O último trimestre fechou com taxa de desemprego de 11%, em linha com o esperado. Com isso, a taxa média de desemprego em 2019 foi de 11,9%. Quando consideramos a série ajustada sazonalmente, o percentual de desocupados passou de 11,7% em novembro para 11,6% em dezembro. Por trás desse recuo está o crescimento dos ocupados no setor formal (0,5%), sobretudo empregados com carteira assinada no setor privado. Dentre os setores, a maior contribuição positiva para a população ocupada na margem reside na administração pública e na indústria. Finalmente, o rendimento médio dos empregados apresentou queda em termos reais de 0,3% na margem. O resultado corrobora a indicação do CAGED de recuperação do mercado de trabalho calcada no emprego formal.

Saldo em transações correntes apresentou déficit de US$ 5,7 bilhões no mês de dezembro, acumulando saldo negativo de US$ 50,8 bilhões (2,8% do PIB) no ano. O resultado para o mês de dezembro fechou acima das nossas projeções (US$ -6,2 bilhões) e abaixo das projeções de mercado (US$ -4,6 bilhões). No agregado anual, destaque para a balança comercial, que registrou superávit de US$ 39,4 bilhões em 2019, US$ 13,6 bilhões abaixo do resultado registrado em 2018. Os dados repercutiram os recuos de 6,3% em exportações e de 0,8% em importações. O investimento estrangeiro direto (IED) ainda financia com folga o déficit, acumulando, no ano, saldo de US$ 78,6 bilhões (4,3% do PIB). Para esse ano, nossa previsão para o saldo em conta corrente é de déficit de US$ 56,3 bilhões (-3,0% do PIB).

Nos EUA, o crescimento do PIB no 4º trimestre manteve o ritmo de crescimento do período anterior. Na margem, em termos anualizados, o PIB teve alta de 2,1%, acima da expectativa (2,0%), e equivalente ao registrado no 3º trimestre (2,1%). Em sua composição, o consumo das famílias desacelerou, crescendo 1,8% após alta de 3,1% e 4,6% nos dois trimestres anteriores. O consumo do governo, por seu turno, acelerou, expandindo 2,7%, ante alta de 1,7% no trimestre anterior. E o setor externo também contribuiu positivamente, com aumento de 1,4% de exportações e queda de 8,7% nas importações. Por fim, o investimento segue fraco diante das incertezas, apresentando recuo de 6,1%. Em linhas gerais, o PIB mostra que, apesar da desaceleração esperada, o crescimento segue estável e próximo do potencial.

Ainda nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros e sinalizou que o nível atual está apropriado para manter o crescimento da economia americana. Em linha com o esperado, a taxa de juros permaneceu no intervalo entre 1,50% e 1,75% ao ano. Em seu comunicado, a autoridade monetária enfatizou que os dados recentes mostram um mercado de trabalho robusto e que a atividade segue crescendo em ritmo moderado. Em seu discurso, o presidente do Fed, Jerome Powell, novamente enfatizou que é preciso uma mudança material importante para que haja algum movimento de juros. Powell afirmou que o cenário global ainda é de incerteza, embora reconheça que o acordo entre China e EUA tenha reduzido os riscos. O cenário de inflação comedida e crescimento próximo ao potencial implicará manutenção dos juros ao longo desse ano.

Na China, indicadores de confiança (PMI) ainda não capturaram efeito do coronavírus. A pesquisa realizada até 20 de janeiro, data do início do problema com o vírus, mostrou aceleração dos serviços e leve queda da indústria, com ambos sinalizando expansão (acima de 50 pontos). Para a indústria, o PMI recuou de 50,2 para 50 pontos em janeiro, enquanto o PMI de não manufaturados (setor que seria mais afetado pelo vírus) fechou em 54,1 pontos no mês, acima do mês anterior (53,5). O efeito do coronavírus será sentido nas próximas leituras. Apesar das incertezas que cercam o assunto, ao traçar um paralelo entre o coronavírus e o SARS, que afetou a economia chinesa em 2003, acreditamos que o maior impacto se concentrará no setor de serviços, com perda potencial no ritmo de crescimento entre 0,5% e 1% no 1º trimestre. A questão reside na extensão do problema. Caso seja passageiro como do SARS em 2003, observaremos uma retomada nos meses seguintes de modo a não comprometer o crescimento no ano.

Na próxima semana:

Na agenda local, destaque para a divulgação dos dados da produção industrial de dezembro (BRAM: 0,0%), o anúncio da taxa Selic (BRAM: 4,25%) na quarta-feira e do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro (BRAM: 0,34%) , na sexta-feira. Na agenda internacional, destaque para os dados de confiança da indústria (PMI) da Zona do Euro e dos EUA, na segunda-feira, além dos dados de mercado de trabalho nos EUA, na sexta-feira.

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