ENFOQUE MACRO SEMANAL
15 de março de 2024BRASIL: Inflação continuou acelerando em fevereiro
MUNDO: Núcleos de inflação seguiram pressionados nos EUA
EVENTOS DA SEMANA
No cenário internacional, as atenções da semana se voltaram para os dados de inflação nos EUA. O índice de preços ao consumidor (CPI) veio em linha com as expectativas, mas mostrou núcleos mais persistentes. Com isso, a curva de juros teve abertura na semana, o que por sua vez fez com que o dólar se fortalecesse contra as demais moedas. A nosso ver, a dinâmica inflacionária reforçará o discurso de cautela pelo FOMC na reunião da próxima semana. No âmbito doméstico, a semana contou com a divulgação do IPCA de fevereiro, que veio em linha com as expectativas, mas indicadores de atividade (comércio, serviços e emprego formal) substancialmente acima do projetado. Com isso, as expectativas em um patamar maior para o juro ao final do ciclo de cortes pelo Copom foram reforçadas e afetaram a curva de juros local.
Tendência de aceleração da inflação continuou em fevereiro. O IPCA registrou variação de 0,83% na margem, em linha com a mediana do mercado (0,79%) e com nossa projeção (0,80%). A principal contribuição veio do setor de educação (4,98%), resultado dos reajustes costumeiramente praticados no início do ano, seguido por alimentação e bebidas (1,38%), enquanto vestuário apresentou deflação (-0,44%). A principal surpresa ficou por conta da elevação de preços de alimentos e administrados, com alta de quase 3% de gasolina devido ao aumento de ICMS em fevereiro. Nos preços de serviços, houve queda relevante (-4,5%) dos preços de Cinema, Teatro e Concerto por conta de descontos que ocorreram ao longo do mês, enquanto serviços médicos e dentários (1,0%) refletiram a continuidade nos reajustes de início de ano. Em relação à média dos núcleos de inflação do Banco Central, medidas que excluem ou suavizam itens voláteis, a medida continuou a acelerar, passando de 3,8% para 4,2% na média móvel anualizada de três meses com ajuste sazonal. O núcleo de serviços subjacentes, neste sentido, também teve aumento entre janeiro e fevereiro, passando de 5,1% para 5,3% na mesma métrica. Por ora, mantemos nossa projeção de 3,6% para o IPCA de 2023. No curto prazo, esperamos uma desaceleração nos preços, com menor contribuição de alimentos e combustíveis, além de uma estabilização dos núcleos.
O setor de serviços teve desempenho acima do esperado em janeiro. De acordo com os dados do IBGE, o volume total de serviços prestados registrou crescimento de 0,7% no mês, surpreendendo a projeção de retração do mercado (-0,4%). Dos cinco grandes setores, quatro tiveram alta na margem, com a principal contribuição partindo de serviços de informação e comunicação (1,5%), com forte influência de serviços audiovisuais, edição e notícias (27,6%). Serviços de transporte tiveram alta de 0,7%, enquanto serviços profissionais, administrativos e complementares cresceram 1,1%, e outros serviços aumentaram 0,2%, influenciados pelo aumento da receita de atividades jurídicas, beneficiada pelo pagamento de precatórios. Apesar do avanço da renda real, o setor de serviços prestados às famílias teve queda no mês (-2,7%), com desempenho negativo de alojamento e alimentação. Nos próximos meses, o patamar ainda aquecido mercado de trabalho deverá sustentar o crescimento do volume de serviços, ainda que mais moderado.
Na mesma linha, as vendas no varejo tiveram crescimento expressivo em janeiro. De acordo com os dados do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito teve avanço de 2,5% na margem, ante queda de 1,4% em dezembro, resultado consideravelmente superior às expectativas. Dos oito itens que compõem o indicador, cinco apresentaram aumento no mês, com destaque para tecidos, vestuário e calçados (8,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,2%) e hiper e supermercados (0,9%), influenciados pela maior renda real disponível. O varejo ampliado, que inclui vendas de automóveis, materiais de construção e atacado de alimentos, por sua vez, cresceu 2,4% em janeiro, também significativamente acima da expectativa. Na segregação por setores ligados a crédito e setores ligados à renda, o resultado do varejo ampliado no mês veio de atividades dependentes de crédito. Em suma, após bastante volatilidade no final do último ano, o comércio em janeiro surpreendeu de forma extremamente positiva, influenciado por alta da renda real e pela redução dos juros do crédito. Esperamos desempenho mais moderado do varejo nas próximas leituras.
O mercado de trabalho formal seguiu aquecido em janeiro. Segundo os dados do Caged divulgados nesta semana, houve criação líquida de 180,4 mil vagas de emprego formal no mês, muito acima da mediana das expectativas de mercado (85 mil). O maior saldo em relação a dezembro decorreu sobretudo do comércio, embora a maior parte dos setores também tenha registrado saldos mais positivos. Quando consideramos a série ajustada sazonalmente, a média móvel de 3 meses passou de 76 mil em dezembro para 112,5 mil em janeiro. Por fim, mesmo com dados de emprego mais favoráveis, o crescimento interanual do salário médio real de admissão desacelerou de 2,0% para 0,8%. Esperamos maior moderação dos dados de emprego nas próximas leituras.
Cenário de inflação elevada nos EUA não teve grandes mudanças em fevereiro. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,4% no mês, conforme as expectativas, e avançou ligeiramente na comparação interanual, passando de 3,1% em janeiro para 3,2%. O núcleo da inflação, por sua vez, teve aumento de 0,36%, ante 0,39% no mês anterior, acima da mediana do mercado (0,3%). No acumulado em 12 meses, o núcleo continuou sua tendência de queda, atingindo 3,8%, após o registro de 3,9% de janeiro. A inflação segue pressionada e sem sinais claros de arrefecimento, em especial a inflação de serviços. Avaliamos que essa dinâmica reforçará o discurso de cautela pelo FOMC na reunião da próxima semana. Em nosso cenário, contemplamos o início do ciclo de corte de juros apenas na reunião de julho.
Atividade econômica nos EUA não teve avanço expressivo em fevereiro. As vendas no varejo registraram avanço de 0,6% no mês, abaixo da expectativa do mercado (0,8%), mas recuperando-se parcialmente da queda de 1,1% observada em janeiro. O índice do grupo de controle, proxy para o PIB, que exclui serviços de alimentação, automóveis, materiais de construção e combustíveis, também frustrou as projeções (0,4%), ficando inalterado em relação ao mês anterior. A produção industrial, por sua vez, teve crescimento de 0,1%, ante expectativa de retração de 0,1% no primeiro mês do ano. Os números de atividade nesses dois primeiros meses do ano apontam para arrefecimento da atividade, com o nosso tracking de PIB indicando crescimento anualizado de 1,5%, abaixo do avanço de 3,3% no trimestre anterior.
NA PRÓXIMA SEMANA
Na agenda doméstica, destaque para a reunião do Copom e para a divulgação do IBC-Br de janeiro. No cenário internacional, as atenções se voltam para as decisões de taxa de juros nos EUA e no Reino Unido.