ENFOQUE MACRO SEMANAL
14 de novembro de 2024
BRASIL: Atividade econômica continua resiliente
MUNDO: Inflação de outubro em linha com o projetado nos EUA
EVENTOS DA SEMANA
Em uma semana com poucas divulgações de indicadores e após a definição das eleições nos EUA, os mercados globais mostraram certa acomodação, à espera de mais nomes que comporão o governo de Donald Trump. De forma geral, os preços dos principais ativos continuaram reagindo às expectativas relacionadas aos próximos passos do Fed e às agendas de desregulamentação, imigração e tarifas – prometidas pelo presidente americano eleito. Nesse sentido, os dados de inflação dos EUA mantiveram a expectativa de corte de juros em dezembro, com ligeira ampliação da probabilidade de corte na última reunião do Fed no ano. Ainda assim, o tom de cautela por parte do Fed deve prevalecer. O ritmo de fortalecimento do dólar frente a outras moedas, por sua vez, desacelerou ao longo da semana, indicando certa acomodação em patamar valorizado. No Brasil, os dados de atividade econômica referentes a setembro trouxeram um quadro mais dinâmico do que o esperado. Esses sinais de dinamismo da economia e as pressões inflacionárias se acentuando no curto prazo somaram-se às expectativas de anúncio da agenda de corte de gastos. Com isso, as curvas de juros continuaram abrindo e o real depreciou, em comparação com a semana passada.
Ata do Copom trouxe os argumentos que justificaram o aumento do passo no ciclo de aperto da política monetária. No documento, referente à decisão de elevar a Selic de 10,75% para 11,25%, o Comitê destacou as incertezas do cenário externo, especialmente em relação às mudanças que podem ocorrer na condução da política econômica nos EUA. Em relação ao cenário doméstico, o Copom entendeu mais uma vez que a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem dinâmicos, com o hiato do produto no campo positivo. O Banco Central também chamou atenção para o nível da inflação acima da meta e para a desancoragem das expectativas de inflação. Destacou inclusive que uma deterioração adicional das expectativas poderia levar a um prolongamento do ciclo de aperto da política monetária. Ao considerar o ritmo de ajuste da Selic, o Comitê decidiu por unanimidade que uma alta de 50 pb seria adequada diante da necessidade de uma política monetária mais contracionista, reafirmando o compromisso do Banco Central de levar a inflação à meta. No que tange às sinalizações para reuniões futuras, o Copom, considerando a incerteza do cenário, optou por não indicar a estratégia para o restante do ciclo. Na nossa avaliação, a Selic chegará a 12,50% em 2025, com o Banco Central mantendo o ritmo atual de elevação em suas próximas reuniões. No entanto, diante da elevação das nossas projeções de inflação e da desaceleração mais gradual da atividade, a assimetria é no sentido de eventual aceleração no ritmo de ajuste e um nível mais elevado para a taxa terminal da Selic.
Vendas no varejo voltaram a avançar em setembro. De acordo com os dados do IBGE, as vendas no varejo tiveram avanço de 0,5% no mês, abaixo da expectativa do mercado (1,4%). Dentre os setores, aqueles relacionados à renda foram responsáveis pelo crescimento: a principal contribuição positiva partiu de outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,5%), seguido por combustíveis e lubrificantes (2,3%) e hiper e supermercados (0,3%). Compensando parcialmente essas altas, móveis e eletrodomésticos (-2,9%) tiveram a maior contribuição negativa. O varejo ampliado, que inclui vendas de veículos e materiais de construção, embora também aquém das expectativas, apresentou crescimento de 1,8%, puxado por veículos, motos, partes e peças.
Ainda sobre a atividade em setembro, o setor de serviços cresceu acima das expectativas. O volume de serviços avançou 1,0% na margem no mês, acima da expectativa do mercado (0,7%), conforme dados do IBGE. Dos cinco setores acompanhados pela pesquisa, quatro apresentaram crescimento, com as principais contribuições positivas vindo de segmentos relacionados às empresas: serviços profissionais, administrativos e complementares (1,4%) e serviços de informação e comunicação (1,0%). Os serviços prestados às famílias desaceleraram ante o observado em agosto (de 0,9% para 0,4%), influenciados pela queda em alojamento e alimentação, embora tenham sido beneficiados por um grande evento de entretenimento em agosto.
Com isso, o índice de atividade econômica refletiu a resiliência da economia em setembro, indicando expansão no terceiro trimestre. O índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,8% no mês, acima de nossa expectativa de 0,7% e da mediana das projeções do mercado de 0,5%, o que representou avanço de 5,1% na comparação interanual. O resultado refletiu o resultado positivo dos três principais componentes: produção industrial (1,1%), vendas no varejo ampliado (1,8%) e volume de serviços (1,0%). A leitura de setembro, por fim, representou avanço de 1,1% da média do trimestre em relação à média do segundo trimestre. Diante dos dados observados no mês, que mostraram uma economia mais aquecida do que o esperado, revisamos nossa projeção para o PIB do 3º trimestre, que deve ter crescido 0,7% na margem.
Resultado da inflação nos EUA em outubro sustenta novos cortes de juros. O índice de preços ao consumidor avançou 0,24% no mês passado, em linha com a projeção do mercado (0,2%). Na comparação interanual, a alta chegou a 2,6%, acelerando ante a variação de 2,4% em setembro. O núcleo da inflação, métrica mais relevante para o Fed, subiu 0,28% na margem, também em linha com as expectativas e ligeiramente abaixo do registrado na leitura anterior (0,31%), mantendo a alta de 3,3% na comparação em 12 meses. A inflação de serviços excluindo aluguéis, acompanhada de perto pelo Fed, por sua vez, registrou avanço de 0,38%, desacelerando ante o observado em setembro (0,59%). Esperamos mais um corte de 25 pb dos juros na reunião de dezembro, mas dado o nível ainda elevado da inflação e as incertezas decorrentes do cenário político, acreditamos que o Fed manterá o tom de cautela no ciclo atual de afrouxamento da política monetária.
NA PRÓXIMA SEMANA
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação de dados de arrecadação referentes a outubro. No exterior, as atenções se voltam para os índices PMI dos EUA e da Área do Euro.