ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Copom eleva a taxa Selic para 9,25% a.a.
MUNDO: Inflação nos EUA varia 0,8% e surpreende novamente
O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 150 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 7,75% para 9,25%, confirmando as expectativas do mercado. O Copom indicou que a elevação de 150 pb é adequada para garantir a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui 2022 e 2023. De acordo com o comunicado, o Comitê avaliou apropriado conduzir um ciclo de aperto monetário significativamente contracionista, principalmente diante do risco de desancoragem das expectativas de inflação mais longas e de uma piora das projeções da autoridade monetária.
O Copom irá perseverar em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de sua meta. De certa forma, os membros do comitê voltaram a destacar o compromisso com seu principal mandato, o de controle da inflação. Ao mesmo tempo, o comunicado também estabeleceu as condições para que ocorra algum tipo de alteração na condução da política monetária, isto é, ancoragem das expectativas e a necessidade de observar um processo de desinflação consistente. Na avaliação sobre o cenário internacional, o Comitê pontuou um ambiente externo menos favorável, com banco centrais das principais economias expressando necessidade de cautela, juntamente com o risco de uma nova onda de Covid-19 com o aparecimento da variante Ômicron. No cenário doméstico, o Banco Central destacou que a atividade mostrou uma evolução moderadamente abaixo do esperado, ao passo que a inflação continua elevada, com alta de preços acima do esperado.
Para a próxima reunião, o Banco Central indicou um aperto monetário de mesma magnitude. Mantendo a linha dos comunicados anteriores, o Copom enfatiza que os próximos passos poderão ser ajustados em função da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções de inflação para o horizonte relevante. Esperamos que o Banco Central eleve a taxa de juros novamente em 150 pb na próxima reunião em fevereiro, e finalize o atual ciclo de aperto monetário em março de 2022, com a taxa básica de juros em 11,75%.
A inflação medida pelo IPCA registrou variação de 0,95% em novembro e acumula alta de 10,7% nos últimos 12 meses. O resultado ficou abaixo da nossa projeção (1,09%) e do consenso de mercado (1,10%), após alta de 1,25% registrada em outubro. As surpresas observadas no mês de novembro são explicadas, em maior parte, pela desaceleração de bens industriais e serviços, como por exemplo alimentação fora do domicílio. Em relação a bens industriais, destaque para automóveis novos (2,4%) e usados (2,4%), que seguem acelerando e fazendo parte das principais contribuições positivas para o resultado. Por outro lado, o principal item responsável pelo resultado abaixo das projeções foi o de produtos de higiene pessoal (-3%), com uma queda significativa do item Perfume (-10,6%), que contribuiu com –0,11% para o resultado. Com isso, o resultado mais baixo que o esperado tem que ser analisado com cautela, uma vez que grande parte da surpresa ficou por conta de itens mais voláteis e que podem estar ligados às promoções de Black Friday.
Na parte de serviços, Alimentação fora do Domicílio recuou 0,25%, primeira variação negativa desde agosto de 2020. Ainda em serviços, o grupo de Recreação (1,16%), que contempla itens como Pacote turístico (2,4%) e Hospedagem (2,6%), apresentou leve desaceleração, mas segue acelerando no acumulado em 12 meses (8,6%), em linha com o processo de reabertura da economia. Por último, no grupo de alimentação no domicílio, outra surpresa baixista importante. O grupo variou 0,04%, puxado por uma queda de 1,4% em Carnes. Especificamente sobre esse item, o embargo chinês à carne brasileira possibilitou um aumento de oferta interna e consequente diminuição dos preços. Todavia, já observamos reversão desse processo no atacado, fazendo com que o processo de queda nos preços de carnes não deva perdurar para os próximos meses. Com relação aos núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, houve desaceleração da média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada (9,3%), enquanto o acumulado em 12 meses ainda apresenta tendência de alta atingindo 7,2%.
Diante desse cenário, revisamos nossa projeção para o IPCA deste ano para 10,0%. Não realizamos alterações significativas para o curto prazo, dado que parte da surpresa ocorreu em itens voláteis ou que já apresentam tendência de retorno nas coletas de preços de dezembro. O cenário de inflação segue desafiador. Desconsiderando as surpresas, é possível observar estabilidade de alguns núcleos, o que não é suficiente para convergir para a meta de inflação de 2022, quando projetamos o IPCA em 4,9%.
Em outubro, as vendas no varejo recuaram 0,1% frente a setembro. O resultado veio abaixo de nossa expectativa (0,0%) e da mediana do mercado (0,6%). Dentre os setores que compõem o varejo restrito, tiveram crescimento na margem outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%) – setor que engloba lojas de departamento, óticas, artigos esportivos e brinquedos, entre outros -, materiais para escritório e informática (5,6%) e tecidos, vestuários e calçados (0,6%). A maior contribuição negativa veio de hipermercados (-0,3%), cujas vendas seguem prejudicadas pela alta inflação de alimentos, embora ainda se situem 0,3% acima do nível pré-crise. O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e materiais de construção, também surpreendeu negativamente ao registrar queda de 0,9% no mês, abaixo de nossa projeção (-0,4%) e do mercado (-0,2%). Houve queda tanto das vendas de veículos (-0,5%) como de materiais de construção (-0,9%). Em linhas gerais, em que pesem os efeitos dos maiores preços de alimentos e combustíveis, o resultado decepcionante do comércio em outubro parece indicar um processo de substituição entre o consumo de bens e serviços.
Nos EUA, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação ligeiramente acima da expectativa em novembro. O CPI variou 0,8% na comparação mensal, enquanto o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,5% frente a outubro. Em termos anuais, o núcleo do CPI teve variação de 4,9%, com alta de 4,3% em serviços e de 8,7% em bens, distantes da meta de 2%. A notícia negativa no mês ficou por conta da inflação de Aluguel (0,5%), acima das expectativas e acumulando alta de 5,6% nos últimos 3 meses em termos anualizados. Historicamente a inflação de Aluguel é menos volátil e corresponde a um terço do CPI. O processo de aceleração da inflação deve ser o tema central da reunião do Fed na próxima semana. Nesse sentido, avaliamos que os membros decidirão acelerar o processo de redução das compras mensais de ativos.
Por fim, na China, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou alta de 2,3% em novembro na comparação anual. O resultado ficou abaixo do esperado pelo mercado (2,5%), representando uma aceleração em relação ao mês de outubro (1,5%). O núcleo da inflação (que exclui os itens mais voláteis da amostra) apresentou alta de 1,2%, variação menor que a do mês anterior (1,3%). A inflação ao produtor (PPI), por sua vez, registrou desaceleração em relação a outubro (13,5%), porém ainda permanecendo em níveis elevados, com alta de 12,9% em termos anuais, ante expectativa do mercado de 12,4%. A transmissão da inflação mais alta ao produtor para os preços ao consumidor segue bastante comedida, o que permite a manutenção da política monetária expansionista.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a ata do Copom na terça-feira e para o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) na quarta-feira. No cenário internacional, destaque para a reunião do FOMC na quarta-feira e para a reunião do BCE na quinta-feira.