ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: O Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, encerrando o ciclo de alta de juros

MUNDO: O Fed elevou a taxa básica de juros para o intervalo entre 3,00% e 3,25% ao ano

Nesta semana, as atenções dos mercados e investidores se voltaram para as decisões de política monetária em diversas economias, com destaques para Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Brasil. Em linha com as expectativas do mercado, o FOMC elevou a taxa de juros em 0,75 p.p., para o intervalo de 3% a 3,25% ao ano. No entanto, o que mais chamou atenção dos mercados foram as revisões das projeções dos integrantes do Fed para a taxa de juros. Para o final de 2022 a projeção saltou do intervalo de 3,25% e 3,5%, em junho, para a faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano.  O Banco da Inglaterra optou, em decisão não unânime, pela elevação da taxa de juros do país em 0,50 p.p., além de iniciar imediatamente as vendas de ativos adquiridos pelo Banco Central com a finalidade de reduzir seu balanço patrimonial. Por fim, na contramão dos demais bancos centrais, o Banco Central do Japão manteve a taxa de juros inalterada e o viés expansionista da política monetária em sua comunicação. As alterações na política monetária repercutiram de modo pronunciado sobre as curvas de juros, com destaque para a alta de 30 pb na taxa de juros de 10 anos dos EUA. No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, avaliando que a manutenção da taxa de juros nesse patamar por um período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. Ao mesmo tempo, o Comitê salientou que se manterá vigilante e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

O Banco Central manteve a taxa básica em 13,75% ao ano. O Copom entendeu que a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano calendário de 2023 e, em menor grau, o de 2024. De acordo com o comunicado, o Banco Central avalia que o ambiente externo se manteve adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global, em especial para a China, e um ambiente inflacionário persistente. O comitê acrescentou a percepção acerca do processo de normalização da política monetária nos países avançados em direção às taxas restritivas. Domesticamente, a inflação ao consumidor continuou elevada, ao passo que os indicadores de atividade econômica apontam crescimento acima do esperado no segundo trimestre. No balanço de riscos, o Copom elencou fatores em ambas as direções. Do lado altista, manteve a preocupação das pressões inflacionárias globais e possíveis estímulos fiscais domésticos adicionais e acrescentou um hiato do produto mais apertado que o utilizado pelo comitê. Do outro lado, o Copom aponta a reversão dos preços de commodities e a possibilidade de desaceleração da atividade econômica mais acentuada que o esperado, além de uma possível manutenção dos cortes de tributos projetados para serem revertidos em 2023.

As projeções do Copom continuam acima da meta até o início de 2024. Considerando o cenário de referência, com expectativas extraídas da pesquisa Focus, além das premissas (i) de preço do petróleo seguindo a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e passando então a avançar 2% ao ano, e (ii) bandeira tarifária verde em dezembro de 2022 e amarela em dezembro de 2023 e de 2024, as projeções de inflação do Copom estão em 5,8% (ante 6,8% na reunião anterior), 4,6% (sem alteração) e 2,8% (ante 2,7% na reunião anterior) para 2022, 2023 e 2024, respectivamente. Além disso, o comunicado manteve a ênfase atribuída à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, mas suaviza os efeitos das mudanças tributárias, sem desconsiderar os impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária. Nesse horizonte alternativo, o Copom apresentou projeção de inflação de 3,5%, acima das metas de 2023 (3,25%) e 2024 (3,00%).

Sobre os próximos passos, o Copom se manterá vigilante acerca da manutenção da taxa básica de juros e salientou que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado. Em nossa avaliação, o Banco Central deverá manter a taxa de juros no patamar atual por alguns trimestres até que a inflação comece a convergir para níveis compatíveis com as metas de 2023 e 2024.

Nos EUA, o Fed elevou a taxa de juros básica para o intervalo entre 3,00% e 3,25% ao ano, em decisão unânime. A respeito do cenário, prevalece a leitura de inflação elevada e com pressão disseminada, refletindo choques de oferta e demanda relacionados à pandemia, alta da inflação de alimentos e energia. Sobre atividade, os membros reconheceram que os indicadores mais recentes apontaram desaceleração do consumo e da produção, embora o mercado de trabalho permaneça robusto. O comitê reafirmou que segue “fortemente comprometido” com a meta de inflação de 2% e manteve a sinalização que novos ajustes serão necessários.

Em relação às projeções, houve elevação da trajetória para a inflação e taxa de juros e piora das expectativas para a taxa de desemprego. Para 2022, a projeção para o núcleo de inflação subiu de 4,3% em junho para 4,5%, enquanto para 2023 a projeção subiu de 2,7% para 3,1%. No horizonte mais longo, a projeção de 2024 permaneceu em 2,3%, ao passo que o Fed projeta inflação de 2,1% em 2024. Em todo o horizonte, portanto, a inflação permanece acima da meta do Fed de 2%.  No mercado de trabalho, a projeção para a taxa de desemprego teve alta de 3,7% para 3,8% em 2022, e de 3,9% para 4,4% em 2023, acompanhando a piora das expectativas de crescimento do PIB. Vale notar que essa projeção está acima da projeção de taxa natural de desemprego (4%), o que sinaliza uma deterioração mais forte do mercado de trabalho. Por fim, a perspectiva sobre a trajetória de juros dos membros do Fed sofreu alterações relevantes. A mediana dos votos indicou taxa de juros básica em 4,4% ao final de 2022 e 4,6% em 2023, recuando para 3,9% em 2024 e para 2,9% em 2025. Nas projeções de junho, a mediana da taxa de juros apontava 3,4% em 2022, 3,8% em 2023 e 3,4% em 2024. O Fed, portanto, considera manter a taxa de juros acima da taxa neutra (2,5%) por todo o horizonte relevante.

Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou a visão de continuidade do aperto de juros. Powell ressaltou mais uma vez o seu comprometimento com o retorno da estabilidade de preços, o que demandará condições financeiras restritivas por algum tempo. Como consequência, Powell mencionou a expectativa de crescimento da economia abaixo do potencial, não havendo forma indolor de desacelerar a inflação, segundo as palavras do presidente do Fed. Em linhas gerais, a decisão enfatizou o combate à inflação, não abrindo qualquer margem para uma interpretação de leniência no combate à alta de preços. Em nosso cenário contemplamos alta de 75 pb na reunião de novembro e 50 pb em dezembro, encerrando o ciclo com a taxa de juros em 4,50%.

Em uma semana com diversas decisões de política monetária, dando continuidade ao ciclo de elevação da taxa de juros, o Banco da Inglaterra decidiu, em decisão não unânime, pela elevação da taxa de juros do país em 0,50 p.p. Com essa decisão, em linha com as expectativas do mercado, a taxa de juros chegou a 2,25% ao ano. A dissidência, com 3 membros votando a favor de uma alta de 0,75 p.p., foi motivada pela leitura de que as medidas fiscais recentemente anunciadas para conter os preços da inflação, podem ajudar os preços no curto prazo, mas trazem problemas de médio prazo. Além disso, o comitê decidiu iniciar imediatamente as vendas de ativos adquiridos pelo Banco Central com a finalidade de reduzir seu balanço patrimonial. Por outro lado, o Banco do Japão manteve inalterada a taxa de juros do país, em -0,10% a.a. Foi mantido o viés expansionista de política monetária em sua comunicação, esperando por evidências adicionais para uma eventual alta de juros no país. No entanto, o ministério das Finanças do Japão anunciou uma intervenção no mercado cambial para sustentar o iene, que tem mostrado forte depreciação em relação ao dólar desde março, em um contexto de crescente discrepância entre as políticas monetárias americana e japonesa.

Por fim, as prévias dos índices de confiança (PMI) são compatíveis com retração atividade no quarto trimestre, na Zona do Euro e nos Estados Unidos. O índice PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, recuou de 48,9 para 48,2 pontos entre agosto e setembro, apontando para contração da atividade  (nível abaixo de 50 pontos). A composição revelou queda na margem tanto da indústria, de 49,6 para 48,5 pontos, como pelo lado de serviços, que recuou de 49,8 para 48,9 pontos no mês. Esses resultados sugerem uma recessão moderada na região na passagem deste para o próximo ano. Nos EUA, por outro lado, houve melhora da atividade, mesmo que o indicador siga no campo contracionista. O índice PMI Composto avançou de 44,6 para 49,3 pontos em setembro, com altas tanto da indústria de 51,5 para 51,8 pontos como do setor de serviços de 43,7 para 49,2 pontos no mês. De modo geral, o resultado abaixo dos 50 pontos aponta  para contração da atividade, ainda que em menor intensidade do que no mês passado.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA-15 na terça-feira. No cenário internacional, atenção para a terceira revisão trimestral do PIB dos EUA na quinta-feira e para a divulgação dos dados de inflação da Zona do Euro na sexta-feira.

Selo-Gestao-Recursos-Positivo-01

 

A

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui