ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: IPCA de agosto tem variação de -0,36%, com alta de 8,7% em 12 meses
MUNDO: BCE eleva taxa de juros de refinanciamento para 1,25% a.a.
Cenário econômico e perspectivas
As evidências continuam reforçando a tese de que mudamos de fase na economia global. A etapa atual é caracterizada pela desaceleração da atividade, desinflação dos bens industrializados e, de outro lado, resiliência do mercado de trabalho e da inflação de serviços. O reforço de uma postura dura por parte de alguns bancos centrais, em especial o Fed, ao longo das últimas semanas pode ser interpretado dentro dessa “nova fase”. Ainda que os dirigentes do banco central norte-americano tenham reconhecido alguma melhora do quadro de inflação, por conta da queda dos preços de commodities, reforçam que é preciso desaquecer o mercado de trabalho. Isso requer um período razoavelmente longo no qual a economia cresça abaixo do potencial. A perspectiva que a economia global siga em desaceleração também foi acentuada, no último mês, pelo agravamento da crise de energia na Europa e pela continuidade da retração do setor imobiliário residencial na China. Os novos cortes na oferta de gás proveniente da Rússia concretizam o cenário de risco desfavorável para o qual os países europeus vinham se preparando. Será difícil evitar medidas de racionamento, controles de preços e subsídios fiscais substanciais na maioria dos países. Ainda que esses controles de preços limitem os impactos diretos da alta dos custos de energia para a inflação, haverá efeitos secundários. Em nosso cenário base consideramos que a região entrará em recessão no último trimestre e, evidentemente, as novas restrições de oferta de energia consolidam essa tendência. A combinação de crescimento e inflação ficou ainda mais desfavorável para o Banco Central Europeu. Em sua última reunião, na qual elevou a taxa básica em 75 pb, houve revisão do crescimento do PIB de 2023 de 2,1% para 0,9%, enquanto a projeção para a inflação para o mesmo período passou de 3,5% para 5,5%. Avaliamos que a política monetária da região seguirá com ajuste acelerado, com passo também de 75 pb na próxima reunião (27 de outubro) e em direção ao nível de 2,75% a.a. em meados do ano que vem.
Com a relativa estabilidade da taxa de câmbio, a queda de commodities nos mercados internacionais também tem se transmitido para a inflação doméstica. Assim, além do evidente impacto da desoneração de tributos federais e estaduais sobre o IPCA, a mudança de fase da economia global está contribuindo para a queda da inflação de bens e energia. Avaliamos que essa trajetória de desinflação externa é relevante também para a inflação do próximo ano, o que nos levou a reduzir a projeção para o IPCA de 2023, de 5,2% para 5,0%. Os resultados das contas nacionais do 2º trimestre mostraram expansão do PIB nos componentes esperados, mas em intensidade acima das projeções (setores sensíveis aos efeitos da pandemia exibiram a maior recuperação). Com isso, revisamos nossa projeção para este ano para 2,7%. Prospectivamente, a questão mais relevante segue sendo em que medida os estímulos fiscais recentes postergarão a desaceleração da economia, que seria esperada por conta do aperto da política monetária. No período mais recente, as evidências, preliminares ainda, apontam que o efeito da política monetária está prevalecendo. A queda da taxa de desemprego e a recente aceleração da inflação de rendimentos do trabalho também tornam mais relevante a discussão sobre qual é o nível de ociosidade presente na economia (uma vez que algum grau de ociosidade seria necessário para trazer a inflação de volta à meta). A nosso ver, essa discussão não deverá impedir o encerramento do ajuste da taxa Selic (continuamos projetando estabilidade em 13,75%), mas poderá adiar o início do próximo ciclo de redução (nosso cenário base é de queda a partir do 2º trimestre de 2023).
Eventos da semana
No cenário internacional, o destaque da semana foi a decisão de política monetária do ECB (Banco Central Europeu, sigla em inglês). O comitê de política monetária europeu decidiu nessa quinta-feira, por unanimidade, em aumentar a taxa de juros básica da zona do euro em 75 pontos percentuais. Segundo a presidente do ECB, Christiane Lagarde, novas altas de juros nas próximas reuniões serão necessárias, visando o objetivo do comitê de desacelerar a economia e levar a inflação de volta para a meta inflacionária de 2% a.a. da região. Nos Estados Unidos, duas semanas após o evento do Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, voltou a reforçar o discurso mais duro sobre os próximos passos do ciclo de aperto de juros da economia americana. Por outro lado, no cenário doméstico, o destaque ficou para a divulgação do IPCA do mês de agosto, com o índice de preços mostrando pelo segundo mês consecutivo uma deflação. No ano, o IPCA acumula alta de 4,39% e, nos últimos 12 meses, de 8,73%.
A inflação medida pelo IPCA registrou variação de -0,36% em agosto, acumulando 8,73% em 12 meses. O resultado veio acima da nossa projeção e da expectativa do mercado (0,47% e 0,40%, respectivamente). Os principais vetores que explicam o resultado do mês foram os itens de preços administrados, como gasolina (-11,5%) e energia elétrica (-1,3%), impactados pela redução de tributos estaduais e federais e queda do preço do petróleo. No mesmo sentido, Alimentação no Domicílio (0,01%) apresentou forte desaceleração em relação ao mês anterior (1,47%), com destaque para Leites e derivados (0,44% em agosto ante 14,06% no mês anterior).
A inflação do conjunto de serviços permaneceu estável, com variação acumulada em 12 meses de 8,9%. Parte dessa estabilidade se deve a desaceleração em Comunicação (-1,1%), devido a um repasse ainda pequeno da queda de ICMS em telecomunicações. Em relação a preços de bens, a surpresa ficou por conta de Vestuário (17,4% em 12 meses), que voltou a acelerar acima das expectativas. Por outro lado, bens duráveis, como Automóvel novo (15,6% ante 18,0% no acumulado em 12 meses em comparação com o mês anterior). Por fim, com relação a média dos núcleos, observamos estabilidade nas últimas leituras, com variação de 10,4% nos últimos 12 meses. Mesmo assim, os movimentos de recuo nos preços de commodities, diante de uma expectativa de desaceleração da atividade econômica global, têm sido significativos e mais persistentes, contribuindo para que nossa projeção de IPCA para 2022 fosse revisada para 5,6%.
Banco Central Europeu indicou que ajuste de juros ainda tem um longo caminho pela frente, dado o cenário de inflação. Dentro do esperado, a autoridade monetária europeia elevou a taxa de juros em 0,75 p.p., para o nível de 1,25% a.a. (considerando a taxa de refinanciamento) e para o nível de 0,75% a.a. (considerando a taxa de depósito), deixando a porta aberta para uma alta de mesma magnitude na sua próxima reunião, a depender da evolução dos dados. Destacam-se as revisões das projeções centrais do BCE, em relação à reunião de junho deste ano, com ajuste para a inflação estimada para 2023 e 24, de 3,5% para 5,5% e de 2,1% para 2,3%, nessa ordem. Para o PIB, houve ajuste de 2,1% para 0,9% e de 2,1% para 1,9% em 2023 e 24, respectivamente. Somada a essas revisões, tanto o comunicado quanto as mensagens trazidas pela presidente Lagarde na coletiva de imprensa após a decisão, reforçaram a necessidade de reduzir a demanda e de trazer a inflação de volta à meta de 2,0% no médio prazo. Para tanto, há o entendimento que as taxas de juros atuais estão bem distantes do nível necessário para essa convergência e não descartou levar os juros para níveis acima do neutro (ao redor de 2,00%). Com esse tom mais duro, acreditamos ser mais provável uma elevação de 0,75 p.p. em outubro, levando a taxa de juros terminal para 2,5% em 2023. Por ora, parece de baixa probabilidade elevações acima desse patamar em função do cenário de recessão esperado para a economia da região no ano que vem e da queda recente de parte relevante das commodities (mesmo considerando os preços elevados de energia elétrica e gás natural na Europa).
Cenário para o crescimento da economia chinesa segue piorando, seja pela piora recente da pandemia, com novos fechamentos se espalhando pelo país, seja pela frustração com as exportações. Em agosto, as vendas externas registraram alta interanual de 7,1%, ante expectativa de 13,0%, após elevação de 18,0% em julho. Para tanto, destaque para a perda de ritmo das compras de EUA e da Área do Euro, refletindo o ciclo atual da economia mundial, de menor demanda de bens. As importações, por sua vez, continuam fracas com crescimento de 0,3% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado, abaixo do esperado (1,1%) e da variação registrada em julho (2,3%). Com a contribuição da demanda externa perdendo força, esperamos desaceleração adicional da economia, lembrando que a dinâmica do setor imobiliário segue desfavorável e o consumo das famílias permanece restrito aos controles da pandemia.
O Banco Central do Chile decidiu aumentar a taxa de juros básica do pais em 100bps, para 10,75% a.a., em uma decisão dividida pelo comitê de política monetária. A decisão surpreendeu as expectativas do mercado que esperavam um aperto de 75bps. Além disso, nessa semana, o Banco central chileno revisou, em seu relatório trimestral de política monetária, as expectativas de taxas terminais de juros, inflação e atividade dentro do cenário relevante da economia do país. Em termos de atividade, o BCCh manteve as expectativas de crescimento real do país em 2% a.a para 2022, porém com revisões negativas para 2023, já mostrando um cenário de retração da economia na casa de -1,0% a.a. Assim, como a atividade econômica deve cair de forma acentuada nos próximos trimestres, o relatório traz a expectativa do comitê que as pressões inflacionárias domésticas também devem sofrer reduções significativas no ano que vem, levando a inflação do país a próximo de 3,3% no final de 2023. E, por último, em relação a parcela de política monetária, o BCCh no relatório elevou as bandas de limite superior e inferior, com o teto máximo atingindo 12,00% a.a. ao final do primeiro trimestre de 2023. Na nossa visão, a taxa de juros chilenas devem atingir ainda nesse final de ciclo em 11,50% a.a.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de julho na quinta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos e dados de atividade na China.
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