ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: IPCA de julho tem variação de -0,68%, com alta de 10,1% em 12 meses
MUNDO: Inflação ao consumidor nos EUA mostrou estabilidade em julho
No cenário externo, o principal destaque da semana foi a divulgação dos dados de inflação nos EUA. O CPI (índice de preços ao consumidor, sigla em inglês) surpreendeu o mercado de forma favorável, registrando estabilidade no mês de julho ante expectativa de alta de 0,2% no consenso de mercado. Esse resultado influenciou positivamente os principais índices de renda variável ao redor do mundo, ao reduzir os riscos sobre a trajetória de aperto da política monetária pelo Fed. No Brasil, a divulgação do IPCA e da ata de política monetária do Banco Central foram os principais destaques da semana. O principal índice de inflação apresentou variação negativa de 0,68% no mês de julho, influenciado principalmente por itens administrados, como gasolina e energia elétrica, impactados pela redução de tributos estaduais e federais.
A inflação medida pelo IPCA registrou variação de -0,68% em julho, acumulando 10,07% em 12 meses. O resultado veio em linha com nossa projeção (-0,67%), mas abaixo da mediana do mercado (-0,65%). Os principais vetores que explicam o resultado do mês foram os itens de preços administrados, como gasolina (-15,5%) e energia elétrica (-5,8%), impactados pela redução de tributos estaduais e federais. Por outro lado, Alimentação no Domicílio (1,47%) voltou a acelerar em comparação com o registrado do mês anterior (0,63%). Esse movimento dos preços de alimentos teve impacto relevante da alta dos preços de leite (25,5%), enquanto o grupo de alimentos in natura (-4,5%) voltou a recuar.
A inflação do conjunto de serviços ficou estável, com variação acumulada em 12 meses de 8,9%. No entanto, a inflação de serviços ainda apresenta tendência de alta, devido ao elevado nível de inflação corrente e à discrepância entre alguns itens do grupo, como Serviços Pessoais (que acumula variação de 5,2% em 12 meses) e os itens de serviços ligados a Recreação, que já atingiram cerca de 13% no mesmo período. Por outro lado, bens industrializados vêm confirmando o movimento de desaceleração, puxados principalmente por bens duráveis, com destaque na última leitura para automóveis novos (recuando de 18,0% para 17,5% em doze meses) e automóveis usados (de 14,9% para 12,1% em doze meses). Além disso, o grupo de semiduráveis também apresentou recuo de 16,7% para 16,1% na média móvel de três meses dessazonalizada, influenciado pela leve desaceleração de vestuário. Os núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, continuam bastante pressionados. A média dos núcleos dessazonalizados passou de 0,91% em junho para 0,82% neste mês. Em 12 meses, o indicador passou de 10,5% para 10,7%, apontando que, apesar da tendência de curto prazo com leve desaceleração, o patamar segue elevado e distante da meta de inflação.
O sinal de inflexão em preços de bens parece consolidado. Não apenas por uma longa tendência de desaceleração de bens duráveis, mas por este movimento ter sido acompanhado pelo recuo dos preços de commodities metálicas e, mais recentemente, de energéticas. Por outro lado, o núcleo de serviços ainda não apresenta estabilização, sendo um vetor para manter a inflação elevada nos próximos trimestre. Para os próximos meses, ainda devemos ter alguns impactos da redução de tributos, mantendo uma expectativa de deflação para o IPCA de agosto. Apesar desse movimento gerar deflação no curto prazo, ele também aumentou a renda disponível para as famílias gastarem em outros produtos e, junto com a extensão dos programas de transferência de renda, podem voltar a trazer pressões inflacionárias no médio prazo. Mesmo assim, os movimentos de recuo nos preços de commodities, diante de uma expectativa de desaceleração da atividade econômica global, têm sido significativos e mais persistentes, contribuindo para que nossa projeção de IPCA para 2022 fosse revisada de 7,3% para 6,9%.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a Selic foi elevada de 13,25% para 13,75%, os membros ressaltaram as incertezas do cenário atual e mantiveram a sinalização de avaliar a necessidade de um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. A ata manteve a preocupação com o ambiente externo, mas destacou que a reavaliação da demanda global futura tem provocado queda nos preços das principais commodities. Além disso, o Comitê notou que a sincronia global no processo de retirada de estímulos e a determinação dos principais bancos centrais de reduzir as pressões inflacionárias aumenta a probabilidade de cenários alternativos que incorporam uma desaceleração mais acentuada da atividade global. Internamente, o Copom avaliou que políticas temporárias de apoia à renda devem trazer estímulo adicional à demanda agregada, podendo elevar o prêmio de risco do país e as expectativas de inflação caso haja um prolongamento de tais estímulos. Ainda, os membros do comitê destacaram que os dados referentes ao mercado de trabalho surpreenderam desde a reunião anterior, indicando um estreitamento mais rápido da estimativa de hiato do produto. Dessa forma, a avaliação foi de que o risco de atividade doméstica mais forte, tanto pelos estímulos fiscais quanto surpresas recentes, seria contrabalançado por um risco de desaceleração global mais forte, desinflando preços de commodities com uma demanda global mais fraca. Acerca da implementação da política monetária, o Copom ressaltou que o aperto monetário corrente foi bastante intenso e tempestivo, mas grande parte do efeito contracionista não pode ser observado devido à defasagem da política monetária. Apesar de reconhecer que suas projeções seguiram em alta e que os impactos da política monetária podem ser mascarados pelas medidas de sustentação da demanda nos próximos trimestre, o Comitê ressaltou que a elevação das expectativas e das projeções de médio prazo se concentrou na inflação de preços administrados. Por fim, a sinalização de que um ajuste residual, de menor magnitude, será avaliado na próxima reunião, indica que o ciclo de política monetária chegou ao fim. A estratégia de comunicação ainda inclui um comportamento vigilante da autoridade monetária, indicando que a manutenção da taxa de juros por um período logo poderia ser suficiente para assegurar a convergência da inflação para a meta. Nosso cenário contempla o fim do processo de ajuste da contração monetária na próxima reunião do Copom em setembro, com um último ajuste de 25 pb, encerrando o ciclo com a taxa Selic em 14,00%.
Em junho, as vendas no varejo no conceito restrito tiveram queda de 1,4% na margem. O resultado veio acima de nossa projeção (-1,7%) mas abaixo da expectativa mediana de mercado (-1,1%). Dentre os setores que compõem o varejo restrito, apenas as vendas de artigos farmacêuticos tiveram crescimento no mês (1,3% M/M). As maiores contribuições negativas vieram de tecidos, vestuário e calçados (-5,4%) e hiper e supermercados (-0,5%), compensando as altas de maio geradas pela liberação de recursos extraordinários do FGTS. Demais quedas na margem foram observadas nos setores de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,3%), setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos, combustíveis e lubrificantes (-1,1%), móveis e eletrodomésticos (-0,7%), livros, jornais e revistas (-3,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,7%). O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, também registrou recuo de 2,3% no mês e queda de 3,1% na comparação anual. Houve queda de 4,1% das vendas de veículos na margem, em linha com a alta indicada pelos dados da Fenabrave, e de 1,0% das vendas de materiais de construção (embora suas vendas ainda se situem 4,9% acima do nível pré-crise). Em termos de desempenho trimestral, a média do 2º trimestre do comércio ampliado representa queda de 1,4% em relação à média do 1º trimestre.
Ainda em relação à atividade, o volume total de serviços teve avanço de 0,7% na margem em junho. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a variação foi de 6,3%, acima das expectativas. Com isso, o volume total de serviços passou a se situar 7,5% acima do nível pré-crise. Em termos de comportamento trimestral, a média do 2º trimestre representa alta de 1,1% na margem, corroborando nossa projeção de crescimento expressivo do PIB no período. Dentre os setores que compõem o índice, apenas serviços de informação e comunicação recuaram na margem, em -0,2%, embora ainda se situem 10,5% acima do nível pré-crise. A maior contribuição positiva veio de serviços de transporte (0,6%), impulsionados pelo transporte de cargas, posto que o fluxo de passageiros teve queda em junho. A seguir, mesmo com o fraco desempenho da indústria, serviços profissionais, administrativos e complementares tiveram crescimento de 0,7%. Os serviços prestados às famílias – setor que abrange alojamento e alimentação – avançaram 0,6% e tem sido beneficiados pela tendência de rebalanceamento entre o consumo de bens e serviços, embora ainda se situem 6,9% abaixo do nível pré-crise. Por fim, outros serviços, setor que contempla, dentre outros, serviços financeiros e seguros, teve alta de 0,8%. Nos próximos meses, os serviços voltarão a ser positivamente impactos pelas injeções extraordinárias de recursos às famílias.
Após meses de surpresa altista, a inflação ao consumidor (CPI) dos EUA ficou abaixo do esperado em julho. O CPI apresentou estabilidade na comparação mensal, abaixo da expectativa de mercado (0,2%) e da leitura de 1,3% no mês anterior. Conforme esperado, a maior contribuição para a desaceleração no mês ocorreu no componente de energia, que recuou 4,6% em julho, após alta de 7,5% em junho. Já o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,3% no mês, ante expectativa de alta de 0,5%. O resultado também representou uma desaceleração ante a alta de 0,7% em julho. A inflação em 12 meses segue distante da meta do Fed, com variação de 8,5% no índice cheio e variação de 5,9% no núcleo do CPI. Em linhas gerais, apesar da menor pressão no mês liderada pela queda nos preços de energia, o quadro inflacionário continua bastante pressionado em serviços, principalmente em aluguéis, e apresenta sinais ainda incipientes de desaceleração na inflação de bens.
Na China, sinais de que a economia segue sustentada pela demanda externa foram reforçados pelo bom desempenho das exportações. Em julho, as vendas externas chinesas cresceram 18% na comparação interanual, mantendo o ritmo elevado de junho (17,9%), superando mais uma vez as expectativas. As importações, por sua vez, seguem mais moderadas com expansão interanual de 2,3%, abaixo do esperado, refletindo demanda interna mais fraca e a queda dos preços das commodities. Com isso, o saldo comercial continuou elevado, garantindo importante influxo de recursos para o país. Mesmo esperando moderação das exportações à frente, refletindo a desaceleração da economia mundial, o ritmo de crescimento tende a se manter acima do padrão pré-pandemia, compensando em alguma medida os vetores baixistas vindos da demanda interna. Somado a isso, os indicadores de inflação, por ora, não impõem restrições para a política econômica, focada em garantir a estabilidade do crescimento. O índice de preços ao consumidor subiu 2,7% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, pressionado pelos preços de alimentação (carne suína e vegetais), com algum alívio nos núcleos. No atacado, importante sinalizador para inflação global, continuamos a observar moderação dos preços, em função principalmente dos preços de commodities. O índice de preços ao produtor arrefeceu de uma alta interanual de 6,1% em junho para 4,2% em julho.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IBC-Br de junho na segunda-feira (BRAM: +0,7% M/M). No cenário internacional, destaque para a divulgação dos dados de Produção Industrial nos Estados Unidos.