ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: PIB cresceu 1,0% no primeiro trimestre do ano, com destaque para serviços

MUNDO: EUA registra criação de vagas de emprego acima do esperado em maio

 

Cenário econômico e perspectivas

O tema dominante no ambiente global segue sendo a elevada inflação, a necessidade de aperto monetário e a provável desaceleração das economias como resultado. Contudo, poderíamos dizer que temos uma pausa nesse processo. Depois das ações e sinalizações de política monetária do Fed, as curvas de juros sofreram substancial ajuste e a expectativa para a taxa básica ao final do ciclo passou de 1% em dezembro do ano passado para a faixa de 3% no início de abril. Esse ajuste da curva de juros contaminou as demais condições financeiras, com queda das bolsas e aumento dos spreads de crédito. Os mercados e membros do Fed passaram a questionar se esse aperto das condições financeiras já não seria suficiente para promover o desaquecimento da atividade e a desinflação almejadas. Nossa avaliação é que, apesar do aperto das condições financeiras ter sido significativo, ainda não chegamos ao fim do ciclo de ajuste. O primeiro motivo é que, apesar do movimento de aperto, o nível da curva de juros e das condições financeiras em geral permanece distante do terreno contracionista. Prova disso é que a taxa de juros real de 2 anos dos EUA está ainda em patamar bastante negativo (ao redor de -1,4%). A segunda razão é que os impulsos para a atividade econômica seguem firmes. Os dados correntes seguem indicando níveis bastante elevados de consumo, o mercado de trabalho está aquecido e as pressões de custos e preços não mostram sinais consistentes de inflexão. Em outras regiões, o ambiente de pressões inflacionárias também continua vigente. Em especial, o debate na Zona do Euro sobre a necessidade de uma reação mais intensa e tempestiva da política monetária tem se intensificado. Naturalmente, em algum momento dos próximos doze meses deveremos ter uma inflexão do quadro atual de inflação global pressionada, mas avaliamos que ainda não estamos no final desse processo.

No Brasil, a necessidade de desinflação segue também como foco do quadro macroeconômico. Mas dessa vez o debate está concentrado mais na atividade do que na inflação. Os indicadores recentes têm apontado que a economia permanece em expansão a despeito do ajuste de política monetária. Em especial, o setor de serviços tem registrado recuperação mais firme, o que também está se refletindo no mercado de trabalho. Os modelos de projeção do PIB sugerem que haverá inflexão no segundo semestre, mas devemos reconhecer que os indicadores de alta frequência estão em direção contrária até o momento. A possibilidade de redução de tributos com potenciais impactos pontuais, mas substanciais, sobre o IPCA não modifica nossa expectativa sobre a política monetária. Consideramos que o Banco Central elevará a taxa Selic em 50 pb na reunião deste mês (dia 16 de junho) e manterá as opções em aberto (mantemos a projeção de 13,75% para o final de ciclo). O desempenho favorável da arrecadação federal e dos governos regionais têm resultado em geração de resultados primários acima do esperado. A magnitude da expansão fiscal por conta de potenciais desonerações será tema importante a ser monitorado adiante. No momento, o cenário base é que não haverá significativo contágio sobre o risco Brasil e a taxa de câmbio.

Eventos da semana

No cenário internacional, os dados de inflação na Zona do Euro e de atividade nos EUA foram o grande destaque. O primeiro mostrou inflação bastante pressionada na Zona do Euro, passando de 7,5% em abril para 8,1% em maio no acumulado de 12 meses. Nos EUA, os dados de ISM (Institute for Suplly Management) revelaram aceleração da indústria em maio, acima do esperado pelo mercado. Por sua vez, o sub-índice da pesquisa sobre preços não apresentou desaceleração tão intensa quanto a esperada, aumentando as preocupações em relação à divulgação da inflação ao consumidor (CPI) na próxima semana. No mercado doméstico, o destaque da semana foi a divulgação do PIB do 1º trimestre, que apresentou avanço em relação ao último trimestre de 2021, ainda que abaixo das expectativas do mercado. Para a próxima semana, as atenções estarão nos dados do IPCA do mês de maio (quinta-feira) e para a continuidade das discussões no Senado a respeito do projeto que reduz a alíquota de ICMS sobre alguns itens e pode ter impacto baixista sobre a inflação nos próximos meses.

O PIB do 1º trimestre registrou alta de 1,0% na comparação com o trimestre anterior. O resultado veio abaixo da nossa projeção (1,5%) e da mediana do mercado (1,2%). Na comparação trimestral, pela ótica da oferta, houve crescimento de dois grandes setores. O maior destaque foi o setor de serviços (1,0%), com maiores contribuições positivas de outros serviços (2,2%) – setor que contempla alojamento, alimentação, educação e saúde privados e foi beneficiado pela reabertura – e comércio (1,6%), refletindo os reajustes salariais do período bem como a utilização da poupança acumulada das famílias. Outra contribuição positiva foi proveniente da indústria, com correção da queda no final de 2021 por parte da indústria de transformação, que avançou 1,4% em comparação com o trimestre anterior. Por sua vez, a agropecuária teve recuo de 0,9% na margem, refletindo os problemas climáticos do trimestre. Pela ótica da demanda, houve crescimento do consumo das famílias (0,7%) e do governo (0,1%). A formação bruta de capital fixo, no entanto, teve recuo expressivo, de 3,5%, impactada pela menor produção e importação de máquinas e equipamentos. O desempenho líquido do setor externo foi positivo, com alta de exportações (5,0%) e queda de importações (-4,6%).

Apesar do resultado abaixo do esperado, a abertura do PIB confirmou o maior consumo de bens e serviços pelas famílias. Esse movimento foi beneficiado pela reabertura da economia e sancionado por uma renda disponível maior, mesmo em ambiente de crédito mais moderado (reflexo da política monetária). Além dos reajustes salarias do período, houve utilização de parte da poupança acumulada pelas famílias durante a pandemia. O segundo trimestre deve contar com a liberação de recursos do FGTS e antecipação do 13º de aposentados e pensionistas do INSS, bem como com a normalização completa do setor de serviços, sobretudo administração pública. No entanto, esses fatores são temporários e deverão ser suplantados pela contração da política monetária no restante do ano, com desaceleração relevante no 2º semestre. Nossa projeção para o PIB de 2022 é de 1,4%.

Em abril a produção industrial avançou 0,1% na margem. O resultado veio em linha com a nossa projeção e com a mediana das expectativas de mercado. A alta pode ser atribuída tanto à indústria extrativa (0,4%), puxada por minério de ferro e com nível de produção 1,3% acima do patamar pré-crise, como à indústria de transformação, que teve alta de 0,1% e passou a se situar 1,6% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades da transformação, as maiores contribuições positivas vieram do refino de petróleo (1,8%), da fabricação de bebidas (5,2%) e da fabricação de outros produtos químicos (2,8%). Por sua vez, as maiores contribuições negativas vieram da fabricação de produtos alimentícios (-4,1%), e da fabricação de veículos (-4,2%), em linha com o dado divulgado pela Anfavea. O índice de difusão voltou a avançar e 58,3% das atividades tiveram crescimento em abril, ante 54,2% em março. Nesse mês, houve evidência de problemas de insumos: o núcleo da indústria de transformação ex-setores com problemas de oferta teve alta de 2,3% no mês. Ao longo dos próximos meses, a indústria poderá continuar sendo impactada por problemas nas cadeias de fornecimento de insumos, especialmente em função da desaceleração chinesa.

A taxa de desemprego atingiu 10,5% no trimestre encerrado em abril. O resultado veio abaixo da mediana das expectativas de mercado e da nossa projeção (ambas em 10,9%). Na série com ajuste sazonal, a taxa passou de 10,7% em março para 10,2% em abril. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à alta de 1,7% da população ocupada, que mais do que compensou o avanço da força de trabalho na margem (1,2%). Com isso, a taxa de participação com ajuste sazonal avançou de 62,0% para 62,7%. Houve elevação na margem tanto de trabalhadores formais (1,2%), com maior influência de empregados no setor privado com carteira assinada, como de informais (2,5%), com maior contribuição de empregados no setor privado sem carteira assinada e trabalhadores domésticos sem carteira assinada. Dentre os setores de atividade, as maiores contribuições positivas para o crescimento dos ocupados vieram de comércio (1,5%), serviços domésticos (3,9%) e indústria (1,5%). O rendimento médio real habitual teve recuo de 0,3% na margem em abril; ainda assim, por conta do maior número de ocupados, a massa de rendimento teve avanço de 1,0% no período.

Os EUA registraram criação de 390 mil vagas de emprego em maio, com resultado acima da expectativa do mercado de 318 mil vagas. A taxa de desemprego ficou estável em 3,6%, já que o avanço do número de pessoas à procura de emprego (a taxa de participação da população economicamente ativa avançou de 62,2% para 62,3%) compensou a alta do número de ocupados (+321 mil). A respeito dos salários, houve alta de 0,3% na margem, frustrando a expectativa de alta 0,4%. Em termos anuais, os salários se mantiveram estáveis em 5,5%. Em relação ao patamar pré-crise, o número de empregados se situa 0,1% abaixo do patamar de janeiro 2020. Em resumo, o relatório de emprego de maio segue compatível com a avaliação do Fed de um mercado de trabalho forte, reforçando a necessidade de continuidade do aperto monetário.

Por fim, na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou novamente variação acima da expectativa em maio. Em termos anuais, o CPI variou 8,1%, ante 7,4% em abril, acima da expectativa de 7,7% do mercado. Ainda repercutindo o conflito entre Rússia e Ucrânia, o destaque mais uma vez foram os preços de energia, que tiveram variação interanual de 39,2% em maio, ante variação média de 37,9% nos últimos três meses. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou para 3,8% na comparação anual, acima da expectativa do mercado de 3,5%, com trajetória de aceleração. De forma geral, a pressão sobre a cadeia de bens e a alta nos preços de energia tendem a manter a inflação em trajetória altista, reforçando um cenário de aperto do ciclo monetário por parte do Banco Central Europeu (ECB) nos próximos meses.

 

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA de maio (BRAM: 0,55%) na quinta-feira e dos dados de atividade do comércio de abril na sexta-feira. No cenário internacional, destaque para os dados de inflação dos Estados Unidos na sexta-feira.

 

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