ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Vendas no varejo têm alta acima das expectativas em fevereiro
MUNDO: Inflação ao consumidor nos EUA segue pressionada
No âmbito internacional, o destaque da semana foi a divulgação dos dados de inflação dos Estados Unidos de março. A inflação ao consumidor mostrou novamente pressões disseminadas e persistentes. Além disso, outros dois eventos importantes foram a reunião do Banco Central Europeu e a manutenção das restrições de mobilidade na China em meio à alta de casos de COVID-19 no país, o que pode induzir novos gargalos na economia global. No âmbito doméstico, os mercados reagiram à sinalização do Banco Central sobre a possibilidade de reavaliar a trajetória final do ciclo da taxa Selic, após surpresa altista com o IPCA de março. Consequentemente, o mercado de juros nominais mostrou volatilidade, principalmente nos vértices mais curtos da curva.
Em fevereiro, as vendas no varejo no conceito restrito avançaram 1,1% na margem, acima das expectativas de mercado. Dentre os setores que compõem o varejo restrito, apenas artigos farmacêuticos tiveram queda (-5,6%), corrigindo parcialmente a alta registrada em janeiro (influenciada, por sua vez, pela evolução da pandemia). As maiores contribuições positivas para a alta do indicador vieram de combustíveis e lubrificantes (5,3%), influenciados pela maior circulação no mês, e hiper e supermercados (1,4%). Livros, jornais e revistas tiveram alta de 42,8%, revertendo a queda de janeiro. Demais altas relevantes vieram de móveis e eletrodomésticos (2,3%) e tecidos, vestuário e calçados (2,1%), setores cujo volume de vendas se situa mais de 10% abaixo do nível pré-crise. Por fim, outros artigos de uso pessoal e doméstico, setor que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos, avançou 1,6% no mês. O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, também surpreendeu positivamente ao registrar alta de 2,0% no mês, acima de nossa projeção (1,2%) e do mercado (1,1%). Houve avanço nas vendas de veículos de 5,2%, em linha com a sinalização da Fenabrave, e queda de 0,4% das vendas de materiais de construção (embora suas vendas ainda se situem 7,8% acima do nível pré-crise). Com o resultado, o volume de vendas no varejo restrito se situa 1,2% acima do patamar pré-crise, enquanto no conceito ampliado se situa em 0,8%.
O volume total de serviços teve recuo de 0,2% na margem em fevereiro. Na comparação anual, a variação foi de 7,4%, abaixo de nossa projeção e da mediana das expectativas de mercado (ambas em 8,6%). Com isso, o volume total de serviços passou a se situar 5,0% acima do nível pré-crise. Dentre os setores que compõem o índice, apenas dois tiveram queda, serviços de informação e comunicação (-1,2%), com queda pelo terceiro mês consecutivo, e outros serviços (-0,9%), setor que contempla, entre outros, serviços financeiros e seguros. O primeiro movimento deve ser encarado como uma correção, posto que o volume de serviços desse setor ainda se situa 7,4% acima do nível pré-crise. As maiores contribuições positivas vieram de serviços de transporte (2,0%), influenciados por transporte terrestre e serviços auxiliares, e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,6%), refletindo a melhora da indústria no mês bem como a maior circulação. Por fim, serviços prestados às famílias tiveram alta modesta de 0,1% no mês. O setor, que abrange alojamento e alimentação e ainda se situa 13,9% abaixo do pré-crise, foi beneficiado pelo arrefecimento da pandemia no mês.
Em linhas gerais, os dados de atividade de fevereiro mostram uma demanda ainda forte no primeiro trimestre deste ano. O setor de serviços deve também ser beneficiado nos próximos meses pelo rebalanceamento do consumo entre bens e serviços (com serviços às famílias seguindo abaixo do pré-crise). Apesar desse movimento, o setor de bens ligados à renda tem sido influenciado positivamente pelos reajustes salariais do início deste ano e pela utilização da poupança acumulada das famílias.
Ambiente de inflação no EUA segue bastante pressionado. Em março, a inflação ao consumidor (CPI) variou 1,2% na comparação mensal, em linha com a expectativa de mercado. A alta foi impulsionada pelos preços de energia, que tiveram alta de 11%. Já o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e energia e recebe mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,3% frente a fevereiro, abaixo da expectativa de alta de 0,5%. No lado baixista, destaque para o recuo de 3,8% no componente de carros usados, contribuindo negativamente com 0,3 p.p na variação mensal do núcleo de inflação. Entre as principais pressões, destaque no mês para o avanço de 0,51% da inflação de aluguéis, que corresponde a um terço do CPI e permanece relativamente estável em 5,4% na média móvel de 3 meses anualizada. Em termos anuais, o índice cheio variou 8,5%, enquanto o núcleo do CPI teve variação de 6,5%, com alta de 4,7% em serviços e de 11,7% em bens, distantes da meta de 2%. A inflação ao consumidor (PPI), por sua vez, avançou 1,4% na comparação mensal, acima das expectativas de mercado (1,1%). Em termos anuais, o índice avançou 11,2% ante expectativa mediana de 10,6%. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, teve alta de 9,2% ante expectativa de 8,4% na mesma base de comparação.
Para os próximos, a expectativa é de desaceleração da inflação em 12 meses, liderada por altas menores em bens. No entanto, o quadro inflacionário segue pressionado e a velocidade de desaceleração da inflação gera bastante incerteza diante de um mercado de trabalho muito apertado. Nesse sentido, avaliamos que o Fed prosseguirá com aumentos seguidos da taxa de juros até que seja atingido o nível acima do neutro.
Ainda nos EUA, as vendas no varejo apresentaram desemprenho robusto em março, com crescimento de 0,5% na margem e expansão de 7% em termos anuais. O núcleo do indicador de vendas (que exclui automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços alimentícios) avançou 0,1%, acumulando alta de 6,8% na comparação anual. Os números vieram próximos das expectativas e contaram com revisões altistas no meses anteriores. Entre os treze componentes do indicador, dez apresentaram avanço (ante nove em fevereiro). Além do esperado avanço significativo do consumo com gasolina na comparação mensal (8,9%), destaque positivo para as vendas de eletrônicos (3,3%) e lojas em geral (5,4%). No lado negativo, as vendas on-line recuaram 6,4% e as vendas de veículos cederam 1,9%. Em relação ao patamar das vendas em dezembro de 2019, o indicador nominal se situa 25% acima do nível pré-crise. De modo geral, o desempenho do consumo segue bastante firme, corroborando a visão sobre a necessidade de aperto de juros diante do cenário de inflação pressionada.
Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu (BCE) confirmou que pretende concluir o programa de compra de ativos no terceiro trimestre, apesar da incerteza dos impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia. De acordo com o BCE a taxa de juros, será mantida em -0,5%, a taxa de empréstimo em 0,25% e a taxa de refinanciamento em 0%. Sem grandes modificações, o comunicado também manteve a sinalização que ajustes na taxa de juros deverão ocorrer algum tempo após o fim do programa de compras de ativos e serão graduais. Em sua entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reforçou a preocupação com o cenário de inflação na região ao ressaltar o viés altista para os preços, a despeito da expectativa de perda de força da atividade nos próximos meses. A comunicação do BCE está em linha com a expectativa de normalização da política monetária, com potencial início do aumento de juros no final desse ano.
Na contramão do tônica global, a inflação na China ainda não reflete o efeito total das medidas de restrição à mobilidade. A inflação ao consumidor (CPI) apresentou alta de 1,5% em março na comparação anual, resultado acima do esperado pelo mercado (1,2%). O número, que representa alta relevante na margem na série com ajuste sazonal, contou com pressão de alimentos in natura e combustíveis. No entanto, o núcleo da inflação (que exclui os itens mais voláteis da amostra) recuou para 1,1%, ante 1,2% do mês anterior. A inflação ao produtor (PPI), por sua vez, registrou desaceleração no índice para 8,3% em termos anuais ante 8,8% em fevereiro, ainda que a taxa represente variação de 17,3% na margem anualizada com ajuste sazonal. A transmissão da inflação mais alta ao produtor para os preços ao consumidor ainda não se manifestou em sua totalidade. Além disso, o núcleo de inflação se mostra estável desde julho de 2021 e continua abaixo da meta de 2%. Com a aceleração de novos casos de Covid e a retomada das medidas de restrição nos principais centros financeiros e comerciais, esperamos que os dados de inflação sejam mais impactados. Com problemas de demanda interna, as autoridades chinesas deverão adotar novas medidas de estímulo fiscal e monetário nos próximos meses.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de arrecadação pela Receita Federal. No cenário internacional, destaque para os dados de inflação na Zona do Euro, na quinta-feira, e dados de atividade da China durante a semana.