ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Ata e RTI reforçam o cenário de aproximação do final do ciclo de política monetária
MUNDO: Prévias dos índices de confiança (PMI) apontam direções contrárias nos EUA e Zona do Euro
No mercado local, o destaque foi a divulgação da ata do Copom, que sinalizou a possibilidade de encerramento do ciclo de aperto monetário na próxima reunião, na qual deve haver elevação da Selic para 12,75%. A taxa de câmbio voltou a apresentar valorização significativa na semana, atingindo patamar inferior a R$ 4,80. Ingressos relevantes de fluxo de portfólio têm explicado parte do movimento observado em relação à taxa de câmbio. A sinalização sobre o ciclo de política monetária resultou em fechamento da curva de juros (30 a 50 pb) e valorização de ações mais relacionadas ao mercado doméstico. No âmbito internacional, além do conflito entre Rússia e Ucrânia, o aumento de novos casos de Covid-19 retoma espaço nas discussões, principalmente na Ásia e na Europa. Na China, o aumento exponencial do número de novos casos resultou na manutenção da política zero Covid, mantendo as preocupações sobre novos fechamentos de atividades. Com a possibilidade de ocorrência de medidas restritivas e as dificuldades da oferta global de produtos em decorrência do conflito, permanecem as pressões sobre as cadeias de produção globais e a inflação. Nesse sentido, durante a semana, alguns dirigentes do Fed defenderam uma estratégia de aperto mais agressivo da política monetárias nos EUA.
Em dois documentos divulgados nesta semana, o Banco Central revelou mais detalhes sobre a estratégia de política monetária. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a Selic foi elevada de 10,75% para 11,75%, os membros detalharam a decisão de formular dois cenários para o preço do petróleo. Em primeiro lugar, a leitura é de que o conflito na Europa gera incerteza e impõe um choque adicional em diversas commodities. O Banco Central deve reagir apenas aos efeitos secundários desse choque, isto é, sua propagação para os demais preços. Em seguida, o Comitê ressaltou que esse ambiente demanda serenidade na avaliação dos choques, de tal forma que optou-se por comparar a hipótese tradicional para o preço do petróleo com uma hipótese alternativa, utilizando preços de contratos futuros e projeções de agências do setor. O Copom simulou dois cenários, com diferentes hipóteses para o preço do petróleo (um ao redor de USD 120 e outro próximo de USD 100 no final de 2022, considerado mais provável). Ponderando seu balanço de riscos e a probabilidade dos cenários de petróleo, o Copom destacou que as projeções para 2023 estavam ao redor da meta, indicando que 12,75% seria suficiente para a convergência da inflação no horizonte relevante. Ao mesmo tempo, os membros do comitê ressaltaram que o tamanho do ciclo pode ser ajustado caso o cenário evolua desfavoravelmente.
No Relatório Trimestral de Inflação (RI), o Banco Central revisou as projeções de IPCA e PIB para 2022 e 2023. A novidade do relatório ficou por conta da apresentação de suas projeções para os dois cenários de preço do petróleo. No primeiro (cenário A), que contempla uma trajetória de preço descendente, a inflação ficaria menor, em 6,3% e 3,1% para 2022 e 2023, respectivamente. O segundo (cenário B), que utiliza a hipótese usual para a trajetória do preço do petróleo, resultaria em inflação de 7,1% e 3,4% para 2022 e 2023. Para as demais variáveis, em ambos os cenários foram considerados a trajetória do Focus, para a Selic, e a evolução da taxa de câmbio de acordo com a paridade do poder de compra. Com isso, a projeção de inflação no cenário A subiu de 4,7% para 6,3% em 2022, ao passo que no cenário B passou para 7,1%. Em decorrência do aperto da política monetária, a projeção para 2023 foi reduzida em 0,1 pp no cenário A e em 0,2 pp no cenário B. Sobre as projeções de PIB da instituição, o crescimento projetado para 2022 se manteve estável em 1%, mas com revisões melhores para a indústria (-0,3% ante -1,3% em dezembro) e serviços (1,4% ante 1,3% em dezembro).
Em resumo, os dois documentos reforçam a intenção do Banco Central de encerrar o ciclo de juros em 12,75%. Para reunião de maio, o Copom já se comprometeu em elevar a taxa de juros em 100 pb, para 12,75% a.a. Nosso cenário contempla um ajuste residual para a reunião de junho, encerrando o ciclo em 13,25%. Particularmente, nosso cenário contempla um processo inflacionário mais persistente e um cenário de commodities mais deteriorado diante da possível extensão do conflito na Europa.
Em março, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 0,95%, ante avanço de 0,99% em fevereiro. O resultado veio acima da nossa projeção (0,90%) e da expectativa do mercado (0,85%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou aceleração, de 10,76% no IPCA-15 de fevereiro para 10,83% em março. Os maiores desvios vieram dos grupos de cuidados pessoais (4,0%), alimentos no domicílio (2,5%) e gasolina (0,8%). Em serviços, o principal destaque foi aluguel residencial, que recuou de 1,0% para -0,04%, e condomínio de 0,87% para 0,39%. Outro destaque do resultado de março é a desaceleração do grupo de Recreação, que estava acima de 1% ao mês desde julho de 2021 e neste mês variou 0,6%. Com isso, o núcleo de serviços subjacentes desacelerou de 0,89% no resultado fechado de fevereiro para 0,58% em março. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal voltou a avançar, de 9,8% para 10,8%, refletindo a maior pressão em industriais. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 8,93%. Nossa expectativa é que o IPCA encerre 2022 com variação de 7,0%.
As prévias dos índices de confiança (PMI) de março mostraram impacto negativo inferior ao esperado em decorrência do conflito entre Rússia e Ucrânia. O PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços, atingiu 54,5 pontos em março, ante 55,5 em fevereiro, ainda indicando atividade em expansão (nível acima de 50 pontos). Tanto o índice da indústria quanto o de serviços apresentaram queda na margem, a manufatura passou de 58,2 para 57,0 pontos em março, enquanto o de serviços recuou de 55,5 para 54,8 no mês. Nos EUA, o PMI Composto apresentou alta, com avanço de 55,9 pontos para 58,5 pontos em março. Essa aceleração se concentrou em serviços, de 56,5 em fevereiro para 58,9 pontos em março. O índice da indústria também apresentou avanço na margem (58,5 ante 57,3 em fevereiro).
De modo geral, o conflito entre Rússia e Ucrânia impactou em maior grau a Zona do Euro e revelou nova preocupações sobre a alta de custos na produção. As incertezas sobre o conflito e os impactos na produção sobre o fornecimento de insumos implicaram aumento da percepção sobre os custos, enquanto o movimento de crescimento das atividades empresariais geradas pela reabertura da economia após as restrições de Covid-19 impulsionou a percepção da demanda. Nos Estados Unidos, o que chama atenção é a resiliência da demanda e a dificuldade da oferta em atender os pedidos, principalmente pela falta de insumos e de mão de obra. O resultado positivo do mês pode ser encarado como reflexo do menor nível de restrições desde o começo da pandemia. Com a demanda superando a oferta tanto na indústria quanto em serviços, somado aos maiores preços de commodities e energia, a inflação deve permanecer em alta.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de emprego — Caged e PNAD — na terça e quinta-feira e para dados de indústria na sexta-feira. No cenário internacional, destaque para a divulgação do relatório de emprego dos EUA e inflação ao consumidor na Zona do Euro.