ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Banco Central elevou a taxa básica de juros de 9,25% para 10,75%
MUNDO: EUA registram criação de vagas acima do esperado em janeiro
Cenário econômico e perspectivas
O ambiente internacional segue tendo como tema dominante a inflexão da política monetária nos países desenvolvidos. Ao longo do ano passado, diversos bancos centrais de países emergentes iniciaram processos de normalização da política monetária, o que deverá ter continuidade esse ano. Acreditamos que um processo análogo ocorrerá esse ano em relação aos bancos centrais desenvolvidos. O Fed indicou o início do aumento de juros em sua próxima reunião (16/março), que deverá ser acompanhado em breve também da redução passiva de seu balanço de quase US$ 9 trilhões (US$ 5 trilhões acima do patamar pré-pandemia). Em que pese alguns sinais incipientes de melhora dos gargalos de oferta globais e a possibilidade de recuos pontuais de preços (como no caso de veículos), avaliamos que as pressões inflacionárias seguirão surpreendendo. Nosso cenário base contempla aumentos seguidos em todas as reuniões do Fed, com a taxa básica alcançando 2,00% ao final do ano (intervalo superior). As reuniões do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE) dessa semana reforçaram que as pressões inflacionárias devem resultar em inflexões da política monetária em outros países desenvolvidos. O processo de normalização parece estar apenas no início e, frente às taxas de juros reais significativamente negativas, há necessidade de ajustes substanciais.
O ciclo de política monetária no Brasil, contudo, está em outro estágio. A taxa real de juros está próxima de 5,5% desde novembro do ano passado, acima das medidas de juro neutro (estimadas ao redor de 3,5%). A atividade econômica está em desaceleração, mesmo com o impulso advindo do setor de serviços por conta da gradual redução dos efeitos da pandemia no segundo semestre do ano passado. Os dados preliminares do início do ano, mesmo descontando os efeitos da nova onda, continuam apontando para certa estagnação da atividade. Esses são os motivos que parecem estar por trás da indicação do Copom, em sua última reunião, de redução do ritmo de ajuste da taxa de juros. Nossa expectativa é de elevação em 100 pb da taxa básica na próxima reunião (que coincidirá com a reunião do início do aperto pelo Fed), seguida de elevação de 50 pb em maio, resultando em taxa terminal de 12,25%. O principal risco para esse cenário reside na possibilidade de maior persistência da inflação, tendo em vista o elevado patamar dos núcleos da inflação (ao redor de 9%). Existem riscos de alta também para os preços de commodities. Em relação às possíveis desonerações de impostos em discussão, avaliamos que os efeitos deverão ser limitados sobre o IPCA (entre 25 pb e 50 pb) e, mais importante, não deverão modificar a condução da política monetária, uma vez que são choques pontuais e não afetarão de forma significativa o horizonte relevante da política monetária, que cada vez mais se deslocará para 2023.
Eventos da semana
No mercado internacional, os dados de atividade dos Estados Unidos e as decisões de política monetária dos principais bancos centrais europeus foram o foco dos mercados globais. A pressão de salários e a surpresa com a geração de vagas em janeiro nos EUA resultaram em nova pressão sobre as curvas de juros. O indicador de preços pagos do ISM da indústria norte-americana exibiu elevação e reforçou a importância dos dados de inflação ao consumidor que serão divulgados na próxima quinta-feira. Na Europa, o destaque ficou para a alta de juros pelo Banco da Inglaterra (BoE), de 0,25% para 0,5%. No mercado doméstico, o foco do mercado a reunião do Copom, na qual a Selic foi elevada em 150 pb, para 10,75%. Além disso, tratativas a respeito de uma eventual redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e da PEC dos combustíveis influenciaram o mercado local. O Ibovespa mostrou queda moderada, devolvendo parte da expressiva valorização do mês de janeiro. A curva de juros doméstica mostrou descompressão com a decisão do Copom, mas também foi afetada pela abertura de juros nos países desenvolvidos.
O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 150 pb. Em decisão unânime, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 9,25% para 10,75%, confirmando as expectativas. O Copom indicou que a elevação de 150 pb é adequada para garantir a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2022 e, em maior grau, de 2023. De acordo com o comunicado, o Comitê manteve a avaliação de que é apropriado avançar significativamente em território contracionista, principalmente diante do risco de desancoragem das expectativas de inflação mais longas e da piora das medidas subjacentes de inflação corrente.
O Copom irá perseverar em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de sua meta. O comunicado mantém as condições para que o ciclo de alta se encerre: ancoragem das expectativas e processo de desinflação consistente. Na avaliação sobre o cenário internacional, o Comitê pontuou um ambiente externo menos favorável, com banco centrais das principais economias expressando necessidade de cautela. No cenário doméstico, o Banco Central destacou que a atividade mostrou uma evolução moderadamente acima do esperado, principalmente em relação ao mercado de trabalho. Entretanto, apronta atenção para a inflação que continua elevada, com alta de preços acima do esperado e de forma difusa entre os componentes.
Para os próximos passos, o Banco Central indicou redução no ritmo de ajuste do juros. Mantendo a linha dos comunicados anteriores, o Copom enfatiza que as próximas decisões poderão ser ajustados em função da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções de inflação para o horizonte relevante. Com isso, esperamos elevação da taxa de juros em 100 pb na reunião de março e finalize o atual ciclo de aperto monetário em maio de 2022, com a taxa básica de juros em 12,25%.
A produção industrial avançou 2,9% na margem em dezembro. O resultado veio acima da nossa expectativa (2,5%) e da mediana das projeções (1,6%). O aumento pode ser atribuído em maior parte à indústria de transformação, que apresentou avanço expressivo de 2,0% e passou a se situar 1,0% abaixo do nível pré-crise. Dentre as atividades, as maiores contribuições positivas vieram da fabricação de veículos (12,2%), fabricação de produtos alimentícios (2,9%) e fabricação de equipamentos de informática (12,2%). Contrabalançando parcialmente esses avanços, houve recuo da fabricação de produtos farmacoquímicos e farmacêuticos (-6,9%) e da fabricação de produtos de borracha e plástico (-1,7%). Na indústria extrativa, que teve crescimento de 1,6%, a maior contribuição positiva foi minério de ferro e seu nível de produção passou a se situar 0,7% acima do patamar pré-crise. Dentre as atividades de transformação, 75% tiveram expansão na margem no mês, ante 50% em novembro. O dado de dezembro representa estabilidade da indústria geral em relação à média do 3º trimestre, com -5,7% da indústria extrativa e 0,1% da indústria de transformação. Em suma, a leitura revela desempenho favorável da indústria em dezembro. Embora ainda determinantes, esperamos que os problemas nas cadeias de fornecimento de insumos sejam gradualmente superados.
Dados de emprego formal (Caged) apresentam -265,8 mil vagas em dezembro. O resultado foi inferior à nossa expectativa (-190 mil) e à mediana de mercado (-175 mil). O saldo negativo reflete o encerramento de vagas temporárias de final de ano. Considerando a série com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 220 mil postos de trabalho, ante 275 mil em novembro. Por trás do menor saldo está elevação na margem das demissões em 9,4%, frente a 5,0% de admissões. Com isso, o patamar de admissões supera em 40% o nível pré-crise. Na abertura por setor de atividade, a maior parte dos segmentos teve resultado positivo, com destaque para serviços (129 mil ante 184 em novembro), indústria de transformação (53 mil ante 35 em novembro) e construção civil (31 mil, estável). No entanto, destaque negativo para o comércio (apenas 563 vagas ante 32 mil em novembro). Os dados do Caged sugerem continuidade da recuperação do mercado de trabalho formal em meio à reabertura da economia.
Os EUA registraram criação de 467 mil vagas de emprego em janeiro. O resultado veio acima da expectativa de criação de 150 mil vagas. A taxa de desemprego se elevou de 3,9% para 4,0% com o avanço da taxa de participação de 61,9% para 62,28%. A respeito dos salários, o avanço foi 0,7% na margem. Em termos anuais a alta foi de 5,7%. Os números ainda revelam que a oferta de mão de obra segue como principal dúvida acerca da velocidade de recuperação do mercado de trabalho, dado que outras pesquisas apontam patamar recorde nas vagas abertas. O mercado de trabalho, portanto, segue com sinais de aperto.
Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação acima da expectativa em janeiro. Em termos anuais, o CPI variou 5,1% ante expectativa de 4,3% do mercado. Destaque para os preços de energia, que tiveram variação anual de 28,6% em janeiro, ante aumento de 25,9% registrado em dezembro. O núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 2,3% na comparação anual. No caso da inflação ao produtor (PPI), houve alta de 26,2% em dezembro, ante expectativa de mercado em 26,1%, na mesma base de comparação. A pressão sobre a cadeia de bens e a alta nos preços de energia tendem a manter a inflação em trajetória altista, mas ainda dentro da meta em 2023.
Ainda na Zona do Euro, o Banco Central Europeu (BCE) manteve sua política monetária inalterada, mesmo diante de um elevado nível de inflação. O Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP, na sigla em inglês), com volume de compras € 1,85 trilhão, não deverá ter continuidade após março de 2022. Em paralelo à redução gradual das aquisições de ativos através do PEPP, o BCE deverá aumentar o programa tradicional de compra de ativos neste ano para € 40 bilhões no segundo trimestre, € 30 bilhões no terceiro trimestre e € 20 bilhões a partir de outubro, nível em que se encontra atualmente.
O Banco Central da Inglaterra (BoE) elevou a taxa de juros em 25 pb, para 0,50%. A decisão não foi unânime, com 4 dos 9 membros favoráveis a um aumento de 50 pb. A projeção de inflação elevada, devido ao baixo desemprego, pressão de preços de energia, aumento dos salários e incertezas a respeito da evolução da nova variante (Ômicron) no país balizaram a decisão. Na entrevista após a segunda decisão de aumento no juro básico, que se iniciou no final de 2021, os diretores do banco central indicaram a intenção de promover um ajuste total da política monetária moderado.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA (BRAM: 0,45%) e para os dados de comércio, ambos na quarta-feira, e de serviços, na quinta-feira. No cenário internacional, destaque para dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos, na quinta-feira.