ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Após nova surpresa altista, IPCA-15 acumula alta de 10,7% em 12 meses
MUNDO: Ata do FOMC revela que alguns membros defenderam uma retirada mais rápida dos estímulo
Em novembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) variou 1,17%, ante avanço de 1,20% em outubro. O resultado veio acima da nossa projeção (1,14%) e da mediana do mercado (1,12%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou nova aceleração, de 10,34% no fechado de outubro para 10,70% em novembro. A surpresa mais relevante ficou por conta de bens industriais, com concentração em automóveis novos e usados (1,9% cada). As surpresas desinflacionárias ficaram por conta de Alimentos no Domicílio e Serviços. Alimentação surpreendeu com um recuo mais forte em semielaborados, principalmente por conta de carnes (-1,2%) e in natura (2,66%). Já em serviços, todas as aberturas vieram abaixo da expectativa. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens com inflação volátil, a desaceleração frente ao mês de outubro foi menos intensa do que o esperado. Em novembro, a média da variação dos núcleos desacelerou de 0,95% para 0,87%, ante expectativa de 0,78%. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 7,1%. O IPCA deverá encerrar o ano com variação de 10,3%.
No setor externo, o saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 4,5 bilhões em outubro. O resultado foi pior do que a nossa expectativa (-US$ 4,0 bilhões) e acima da expectativa do mercado (-US$ 4,8 bilhões). Na composição do indicador, o saldo comercial foi superavitário em US$ 1,3 bilhão, enquanto as contas de serviços e de renda primária apresentaram saldo negativo de US$ 1,5 bilhão e US$ 4,6 bilhões, respectivamente. Em doze meses, o déficit em conta corrente subiu de US$ 26,7 bilhões (1,7% do PIB), ante US$ 23,4 bilhões (1,5% do PIB) em setembro. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 2,5 bilhões no mês, acumulando 3,1% do PIB em 12 meses. Ainda, os ingressos líquidos de investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram US$ 38,0 bilhões nos doze meses finalizados em outubro de 2021. De uma maneira geral, os dados do setor externo continuam positivos, com a parcela de IDP financiando o déficit em transações correntes. Para 2021, projetamos um déficit em conta corrente de US$ 18,1bi (1,2% do PIB) e IDP de US$ 51,1 bilhões.
Arrecadação federal apresentou resultado levemente acima do esperado em outubro. A arrecadação total atingiu R$ 178 bilhões (ente expectativa de 176 bilhões), o que representa alta de 4,9% em termos reais na comparação interanual com 2020 e 15% com relação a 2019. No ano, a arrecadação acumula R$ 1.527 bilhões, avanço de 20,1% e 8,7% em termos reais ante 2020 e 2019, respectivamente. Segundo a Receita Federal, sem considerar os efeitos não recorrentes, o avanço é de 12,9% no período acumulado. Apesar da surpresa favorável no ano, na nossa métrica de arrecadação recorrente, outubro marcou o segundo mês consecutivo de queda na margem, sinalizando alguma perda de força da recuperação da atividade.
O saldo de crédito totalizou R$ 4,5 trilhões em outubro, atingindo 53,2% do PIB. Segundo os dados do Banco Central, o saldo de crédito total teve crescimento interanual de 16%, mantendo o desempenho do mês anterior. O maior crescimento do crédito a pessoas físicas, que acelerou de 19,5% para 19,7% em termos anuais, foi contrabalançado pela desaceleração do crédito às empresas, de 11,6% para 11,4%, movida pelo crédito com recursos direcionados. Na análise mensal, houve alta de 3,0% das concessões de crédito livre às famílias no conceito média diária real com ajuste sazonal, que passaram a se situar 7,1% acima do patamar pré-crise. Por trás dessa alta, a maior contribuição positiva veio de cartão de crédito à vista. No caso das empresas, as concessões de crédito livre tiveram alta de 9,0% nessa base de comparação. Por fim, apesar da elevação de spreads, a taxa de inadimplência de manteve estável em 2,3% em outubro. Em resumo, os dados mostraram crescimento das concessões de crédito, que seguem em patamar ainda elevado. No entanto, o ciclo de alta de juros deverá gerar desaceleração do crédito nos próximos meses.
As prévias dos índices de confiança (PMI) de novembro revelam que a pressão sobre custos persiste. O PMI Composto final da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 55,8 pontos em novembro ante 54,2 em outubro, mantendo-se no nível de expansão econômica (nível acima de 50 pontos indica expansão). Nos EUA, o PMI Composto recuou de 57,6 pontos para 56,5 pontos em novembro. Em ambas as regiões, indústria e serviços seguem em patamar expansionista. Outro ponto em comum e que tem sido a tônica das leituras nesse ano é a presença de restrições de oferta de insumos e mão de obra. Em novembro, não houve avanço na resolução desses gargalos, pressionando os números de inflação.
A incerteza a respeito do potencial impacto da nova variante do coronavírus repercutiu negativamente sobre os ativos. Originalmente descoberta na África do Sul, onde os casos aumentaram abruptamente nas últimas semanas, a variante foi qualificada como ‘preocupante’ pela Organização Mundial da Saúde dado o número elevado de mutações, o que poderia tornar as vacinas ineficazes. Nesse contexto, a aversão ao risco predominou diante do receio de queda da demanda global, com destaque para os recuos de 7,8% do petróleo e de 2,2% do S&P na semana. Ainda com um grau de informação escasso sobre a variante, o que podemos dizer até o momento é que a evolução das vacinas e no tratamento do coronavírus, a estrutura dos sistemas de saúde e o próprio comportamento das pessoas são fatores que poderiam atenuar bastante o impacto negativo sobre a economia frente ao que foi observado no início da pandemia.
Nos EUA, o Fed divulgou a ata da reunião de novembro, na qual o processo de redução dos estímulos foi anunciado. Em linhas gerais, o comitê defendeu que, diante da evolução da economia, o início da redução da compra de ativos no mercado americano deveria ter início já em novembro. No cronograma, a compra de títulos públicos será reduzida em US$ 10 bilhões ao mês (atualmente em US$ 80 bilhões ao mês), enquanto as compras de títulos do mercado imobiliário serão reduzidas em US$ 5 bilhões ao mês (atualmente em US$ 40 bilhões ao mês). Nesse ritmo, o programa de compras será finalizado em junho do próximo ano.
A novidade revelada pela ata ficou por conta de alguns membros terem defendido uma redução mais rápida do programa de compra de ativos. Sobre o cenário econômico, os membros se mostraram mais preocupados a respeito da evolução da inflação, reduzindo a convicção no cenário de inflação mais alta por fatores temporários. Nesse sentido, alguns membros acreditam que a menor oferta de trabalho poderá ser um fator mais estrutural. Vale ressaltar que esse discussão antecedeu a divulgação dos números mais pressionados de inflação e consumo de outubro. A ata do Fed revela uma maior preocupação com o cenário de inflação. Nesse contexto, avaliamos que o Fed deverá acelerar a retirada dos estímulos, muito provavelmente encerrando as compras de ativos em março, e iniciando o ciclo de alta de juros em julho, com uma nova alta no mês de novembro. Evidentemente, essa reação do Fed está condicionada ao cenário da nova variante do coronavírus. Caso os efeitos sobre a confiança e atividade se revelem permanentes, o Fed adotaria uma postura mais cautelosa na retirada dos estímulos.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do PIB na quinta-feira, para a qual esperamos alta de 0,1% na margem. No cenário internacional, destaque para a divulgação relatório de emprego nos EUA na sexta-feira.