ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Banco Central reforça cautela. Senado aprova novo marco do saneamento
MUNDO: Confiança volta a subir em junho. FMI revisa projeções de PIB para baixo
O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que o espaço para novos ajustes é incerto e tende a ser residual. Na ata da reunião na qual a Selic foi reduzida de 3,00% para 2,25% ao ano, os membros reforçaram que a pandemia do Covid-19 está provocando uma desaceleração global intensa, mesmo com a provisão de estímulos monetários e fiscais. Isso torna o ambiente desafiador para as economias emergentes. Com relação à inflação, o Comitê avalia que existem riscos em ambas as direções. Por um lado, a ociosidade elevada deve produzir trajetória de preços abaixo do esperado, efeito que se intensifica em caso de prolongamento do isolamento social, com possível aumento da poupança precaucional. Assim, haveria redução maior do consumo. Por outro lado, a deterioração da trajetória fiscal, em função do aumento de gastos para mitigar os efeitos da pandemia, e a incerteza em relação às reformas podem elevar os prêmios de risco para o país aumentando a taxa de juros estrutural. Outro risco adicional é de que as medidas fiscais elevem a demanda além do previsto, gerando pressão inflacionária. Diante disso, o Copom avaliou que a magnitude do estímulo monetário atual parece compatível com os impactos econômicos da Covid-19. Porém reconheceu que há possibilidade de ajuste residual condicionado à evolução dos dados. Em nossa avalição, o ritmo gradual de retomada da atividade e a inflação em patamar benigno devem permitir corte de 25 p.b. na taxa Selic, encerrando 2020 em 2,00% a.a.
O Relatório Trimestral de Inflação reforça quadro benigno, apesar das incertezas. Em todos os cenários considerados, a projeção de inflação situa-se abaixo da meta para 2020 (4,0%) e 2021 (3,75%) e próxima do centro em 2022 (3,5%). A projeção do PIB do Banco Central é de queda de 6,4% em 2020, ante expectativa de estabilidade no relatório anterior. Além disso, a publicação explora a perspectiva de aumento das concessões de crédito e também as projeções para as contas externas, com redução do déficit em transações correntes (-US$13,9 bilhões) e menor ingresso de investimentos diretos no país (US$55 bilhões).
O Banco Central (BC) anunciou novas medidas de injeção de liquidez. De modo geral, o pacote abrange alterações regulatórias que tem como objetivo expandir o crédito para empresas de menor porte e pessoas físicas (PF). Entre as ações, permitiu a utilização de compulsórios com direcionamento para segmentos específicos, empresas ou bancos de menor porte. Além disso, o BC também divulgou a regulamentação para compra de ativos privados no mercado secundário.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta de inflação (IPCA) em 3,25% em 2023. A margem de tolerância foi mantida em 1,5 p.p. As metas para 2021 e 2022 seguem em 3,75% e 3,50%, respectivamente. Dessa forma, a meta do país segue convergindo para a média dos demais países emergentes, de aproximadamente 3,0%.
Novo marco do saneamento básico foi aprovado no Senado e segue para sanção presidencial. Com 65 votos favoráveis e 13 contrários, o novo marco foi aprovado nessa semana. A medida alterará a regulação do setor e deve ampliar o acesso da população aos serviços de água e esgoto tratados. Espera-se uma grande quantidade de investimentos para universalização do saneamento nos próximos anos. O texto segue para sanção presidencial.
A prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) registrou alta acima do esperado em junho. No mês, o índice variou +0,02%, acima da nossa expectativa (-0,08%) e a do mercado (-0,06%). Entre os grupos, a maior surpresa foi em ‘Artigos de Residência’, com alta de 1,4%, refletindo reajuste dos preços, após quedas expressivas. Em termos qualitativos, a média dos núcleos de inflação (exclui itens voláteis) variou em -0,01%, sinalizando manutenção do cenário benigno de preços. No curto prazo, a inflação deve ficar mais pressionada, principalmente pela alta da gasolina, porém de forma temporária. Nossa projeção para 2020 segue em 1,7%, abaixo do piso da meta (2,5%).
Os indicadores de confiança apontam para retomada gradual da atividade, apesar de ainda estarem em patamares inferiores ao pré-pandemia. Medidos pela FGV, a confiança da indústria subiu 15,2 pontos, para 76,6 pontos em junho. Além disso, o NUCI (nível de utilização da capacidade instalada) passou de 60,3% para 66,2% no mês. Por sua vez, o índice de confiança do consumidor subiu para 71,1 pontos (ante 63,5 em maio), refletindo a flexibilização das medidas de isolamento. A confiança do comércio subiu 17 pontos. Por fim, o índice da construção subiu 9,1 pontos, para 77,1. Esses dados reforçam a perspectiva de retomada gradual da atividade econômica.
Dados da PNAD Covid mostram deterioração do mercado de trabalho durante a pandemia. A pesquisa busca avaliar semanalmente o impacto da pandemia sobre as variáveis de emprego e renda. Na última semana de maio, a taxa de desemprego atingiu 11,4%, partindo de 10,5% no início do mês. A pesquisa revelou que 11,5% da população ocupada não teve remuneração em maio, o que corresponde a 62% dos trabalhadores que estavam afastados de seu trabalho em função do distanciamento social. O grupo mais afetado pelo afastamento foi de trabalhadores domésticos sem carteira assinada. Além disso, o rendimento médio efetivo dos trabalhadores no mês foi 18,2% inferior ao normalmente recebido. Por fim, 38,7% dos domicílios receberam algum auxílio monetário relativo à pandemia no maio. Na 1ª semana de junho, a taxa de desemprego segundo a pesquisa se elevou para 11,8%. Esse dado corrobora a elevação de 35% dos pedidos de seguro desemprego na 1ª quinzena de junho, segundo os dados do Ministério do Trabalho.
O crédito continuou acelerando em maio. O saldo de crédito total se elevou 9,3% na comparação anual. O maior crescimento veio do crédito para a pessoa jurídica, com alta de 10,3%. Por outro lado, o crescimento do crédito para a pessoa física desacelerou de 9,5% para 8,5% em maio. A inadimplência total recuou de 3,3% para 3,2%. O resultado do mês corrobora a tendência de aumento das concessões de crédito emergencial e renegociação de dívidas. A tendência para os próximos meses é de continuidade de maiores concessões de crédito às empresas.
As contas externas registraram o 3° superávit em conta corrente consecutivo. Em maio, o saldo somou +US$ 1,3 bilhão. A melhora se deu pela redução do déficit de renda (remessas de lucros e dividendos) e serviços (viagens). O saldo comercial, por sua vez, teve redução de US$ 812 milhões em relação ao mesmo mês de 2019, influenciado por importações de plataformas de petróleo (fictas). Com esses resultados, o déficit em conta corrente soma 2,5% do PIB em doze meses. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 2,6 bilhões (ante US$ 8,3 bilhões em maio de 2019). Além disso, afetado pelo Covid-19, o fluxo de investimento em portfólio no mercado doméstico foi negativo em US$ 2,2 bilhões. Avaliamos que, com o aumento das exportações e a menor demanda doméstica, o déficit em conta corrente deverá continuar em trajetória de queda nos próximos meses.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou suas projeções de crescimento para baixo. O FMI projeta uma recessão global mais profunda, com queda do PIB de -4,9%, 1,9 p.p abaixo da projeção de abril. Para 2021, a instituição prevê recuperação, com expansão de 5,4%. Entre os países, o fundo projeta queda de 8% para os EUA, recuo de 9,1% para o Brasil e contração de 10,2% para a Zona do Euro nesse ano. O FMI destacou que as projeções refletem o maior risco de interrupção das atividades em decorrência do agravamento da pandemia.
As prévias dos índices de confiança (PMI) da Zona do Euro e dos EUA de junho mostram recuperação, mas ainda se mantém no terreno contracionista. O PMI Composto prévio da Zona do Euro, que incorpora as expectativas da indústria e dos serviços atingiu 47,5 pontos em junho ante 31,9 em abril (abaixo de 50 pontos indica contração). O PMI Composto dos EUA passou de 37 pontos em maio para 46,8 em maio. Os índices são compatíveis com retração do PIB de aproximadamente 10% na Zona do Euro e 5% nos EUA em 2020. Os países devem prosseguir na agenda de implementação de estímulos monetários e fiscais, o que deve atenuar quedas mais pronunciadas e ajudar na recuperação. De acordo com nossa projeção, o PIB global deverá recuar cerca de 3,0% em 2020.
Na próxima semana
No Brasil, destaque para a divulgação dos dados de emprego formal (Caged) de maio, na segunda-feira. Indicadores fiscais de maio ao longo da semana, e a produção industrial, na quinta-feira. No âmbito global, destaque para a divulgação da ata do FOMC e dos dados de desemprego nos EUA, assim como os dados consolidados de confiança (PMI) da Zona do Euro, na sexta-feira.