ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: PIB mostra leve contração no 2º trimestre

MUNDO:  Nos EUA, criação de vagas frustra a expectativa em agosto

O PIB do 2º trimestre de 2021 registrou queda de 0,1% na comparação com o trimestre anterior. O resultado veio em linha com a nossa projeção (0%) e ligeiramente abaixo da mediana do mercado (0,2%). O PIB encontra-se muito próximo do nível pré-crise (apenas 0,1% abaixo). Na margem, os maiores desvios em relação à nossa expectativa se concentraram em administração pública e intermediação financeira. Contrabalançando parcialmente esses resultados, a indústria de transformação apresentou queda menor na margem (-2,2%) do que a nossa projeção (-3,3%) e outros serviços tiveram crescimento superior à expectativa (2,1%, ante 1,6%). Em relação ao mesmo período do ano anterior, o PIB teve crescimento de 12,4%.

Comparando com o trimestre anterior, entre os grandes setores pela ótica da oferta, apenas serviços tiveram alta, com avanço de 0,7%.  Em serviços, todos os segmentos tiveram alta, reflexo da maior mobilidade no trimestre. A agropecuária recuou 2,8%, refletindo problemas com a menor safra, ao passo que a indústria teve queda de 2,2%, afetada por interrupções na produção pela falta de insumos em alguns setores. Pela ótica da demanda,  houve estabilidade do consumo das famílias e crescimento do consumo do governo (0,7%), compensados pela queda do investimento (-3,6%). O desempenho líquido  do setor externo foi positivo, com crescimento de exportações (9,4%) e queda de importações (0,6%). Vale notar novamente o impacto da importações fictas de plataformas de petróleo no âmbito do Repetro, que recuaram no 2º trimestre em relação ao primeiro e com isso geraram efeito artificialmente negativo em investimento e importações. Apesar do resultado ligeiramente abaixo do esperado, não houve alteração qualitativa da percepção do 2º trimestre. Assim, mantemos em 5,3% nossa projeção para o crescimento do PIB em 2021.

A produção industrial recuou 1,3% na margem em julho. O resultado surpreendeu negativamente a nossa expectativa (-0,5%) e do mercado (-0,7%). Houve recuo na margem tanto da indústria de transformação (-1,2%), como da indústria extrativa (-1,2%), com queda liderada por minério de ferro.  Entre os componentes, apenas 25% das atividades tiveram expansão na margem, ante 46% em junho. Na indústria de transformação, destaque para os recuos na produção de bebidas (-10,2%), veículos automotores (-2,8%) e produtos alimentícios (-1,3%). A produção de insumos típicos da construção civil teve recuo de 1,5% no mês. O dado da produção total de julho representa queda de 1% em relação à média do 2º trimestre. A leitura revela que os problemas no fornecimento de insumos persistem e devem seguir como limitante de oferta no curto prazo. O baixo nível de estoques, por sua vez, deverá impulsionar a normalização da produção no médio prazo.

O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 10,3 bilhões em julho. O resultado veio melhor do que a nossa expectativa (R$ -15 bilhões) e da mediana de projeções do mercado (R$ -16 bilhões). Na composição do indicador, o Governo Central apresentou déficit de R$ 16,8 bilhões, as empresas estatais foram deficitários em R$ 786 milhões. Os governos regionais tiveram saldo positivo de R$ 7,3 bilhões. No acumulado de 12 meses, o resultado primário do setor público consolidado foi deficitário em R$ 234,7 bilhões, equivalente a 2,9% do PIB. A dívida bruta atingiu R$ 6,797 trilhões (83,8% do PIB). O resultado nominal que inclui, além do resultado primário, os juros nominais, foi deficitário em R$ 55,4 bilhões no mês, acumulando déficit de 6,9% do PIB em 12 meses. O melhor desempenho dos fiscal tem contado com a forte recuperação das receitas. Para o ano projetamos déficit primário de 1,4% do PIB.

Indicadores de confiança (ISM) nos EUA reforçam a continuidade da retomada, mas apontam problemas na obtenção de insumos e mão de obra. O ISM da indústria avançou de 59,5 para 59,9 pontos entre julho e agosto. Acima de 50 pontos o indicador indica expansão da atividade. Na composição do indicador, novos pedidos permaneceram em trajetória de alta, assim como o componente que indica o atraso na entrega dos pedidos, tendo como pano de fundo a dificuldade de insumos disponíveis e mão de obra. Nesse contexto de demanda aquecida e gargalos de oferta, o componente de preços permaneceu pressionado, embora tenha arrefecido de 85,7 para 79,4 pontos.  Em linha com as dificuldades de encontrar mão de obra diante do cenário da pandemia, o componente de emprego recuou de 52,9 para 49 pontos, patamar que indica contração. De modo geral, os indicadores confirmam a demanda robusta em oposição à dificuldade do lado da oferta, sinalizando a continuidade da pressão sobre os preços no curto prazo.

Apesar da economia em expansão, os EUA registraram forte surpresa negativa no mercado de trabalho, com a criação de 235 mil vagas de emprego em agosto. A expectativa era de criação de 735 mil vagas. A taxa de desemprego recuou de 5,4% para 5,2%. Apesar da geração de vagas, o número de empregados ainda se mantém cerca de 5 milhões abaixo do pré-crise. Já a população economicamente ativa (PEA) segue cerca de 3 milhões abaixo do pré-crise. Na composição, destaque para o setor de lazer que foi bastante afetado pela pandemia e registrou estabilidade do emprego, após criar em média 377 mil vagas nos últimos três meses.

O aumento da preocupação com a variante Delta impactou o mercado de trabalho. O relatório revelou o aumento do número de trabalhadores impossibilitados de trabalhar em virtude de problemas relacionados à pandemia. Em suma, o relatório reforça que a economia americana ainda segue distante de uma recuperação plena do mercado de trabalho, demandando cautela no curto prazo diante da evolução da pandemia e da expiração do restante de benefícios no início de setembro.

Por fim, os dados de confiança (PMI oficial) na China mostraram um recuo maior do que o esperado em agosto. Enquanto a indústria recuou de 50,4 para 50,1 pontos entre julho e agosto, mas segue indicando expansão (acima de 50 pontos), o setor de serviços sofreu com o aumento do número de restrições, cedendo de 52,5 para 45,2 pontos no período. A redução do número de casos e a melhora dos indicadores de alta frequência colocam agosto como o pior de atividade. Ainda assim, o menor impulso da demanda externa e a política de combate à pandemia (‘zero casos de Covid’) inserem um viés de baixa para a projeção de crescimento de 8,5% para esse ano.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA de agosto (BRAM:  0,70%), na quinta-feira, e para os dados de comércio de julho na sexta-feira. Internacionalmente, destaque para reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira.

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