ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: IPCA tem variação de 0,96% em julho e acumula alta de 9% nos últimos 12 meses
MUNDO: Após altas sucessivas, inflação nos EUA sinaliza arrefecimento em julho
Na ata da última reunião do comitê, na qual a Selic foi elevada de 4,25% para 5,25%, os membros reafirmaram o compromisso inequívoco com a convergência da inflação para a meta. Como novidade, o comitê discutiu os motivos da divergência entre o seu cenário básico de inflação e as expectativas do Focus. Os membros apontaram como possíveis explicações as hipóteses para o crescimento do PIB e os preços dos administrados, as revisões altistas recentes das expectativas que elevam a percepção de inércia inflacionária e a própria percepção sobre a função de reação da política monetária. Diante dessa discussão, o comitê avaliou que a piora recente da inflação, concentrada em componentes inerciais, poderia causar um nova deterioração das expectativas, elevando posteriormente o custo de convergência da inflação para a meta em 2022 e 2023. Com isso, a ajuste mais tempestivo da política monetária foi o mais apropriado, assim como a indicação de uma nova alta de 100 p.b na próxima reunião. Seguindo a comunicação de elevar a taxa de Selic até um patamar acima do neutro, esperamos que o Banco Central eleve a taxa de juros para 7,50% ao final do atual ciclo de política monetária
Inflação tem variação mensal de 0,96% em julho e acumula alta de 8,99% nos últimos 12 meses. O resultado do IPCA veio em linha com a nossa projeção e do consenso de mercado (0,95%), frente à alta de 0,53% registrada em junho. A maior variação na passagem do mês pode ser atribuída majoritariamente ao grupo de administrados, principalmente no item de energia elétrica. A inflação de alimentos teve aceleração no mês, causada tanto por produtos in natura, fruto de adversidades climáticas, como por proteínas. Na abertura de serviços, as surpresas positivas com itens sensíveis à reabertura da economia foram compensadas por uma menor alta de alimentação fora do domicílio. Com relação aos núcleos de inflação, que são métricas que excluem ou suavizam a variação de preços de itens voláteis, houve nova elevação da média móvel de 3 meses (7,7%) bem como do acumulado em 12 meses (5,5%), situando-se em patamar próximo ao teto da meta de inflação para esse ano.
De maneira geral, o cenário inflacionário segue desafiador. Acreditamos que a inflação continuará pressionada, em especial pela pressão adicional de alimentos no domicílio causada pelas anormalidades climáticas, sobretudo nos alimentos in natura e proteínas. Nos próximos meses, seguem riscos de alta decorrentes, principalmente, das limitações de oferta do lado dos bens industrializados e da reabertura mais rápida dos setores de serviços.
As vendas no varejo no conceito restrito tiveram queda de 1,7% em junho frente a maio. Em um mês no qual as restrições de mobilidade haviam sido reduzidas, o resultado veio abaixo das expectativas, que apontavam ligeiro crescimento. Dentre os componentes, a maior contribuição negativa na margem veio de tecidos e vestuário, com queda de 3,6%. No varejo ampliado, que inclui todos os componentes do conceito restrito e adiciona as vendas de automóveis e materiais de construção, houve recuo de 2,3% na margem. As vendas de veículos tiveram queda de 0,2%, enquanto as vendas de materiais de construção avançaram 1,9%. Apesar da frustração com o resultado de junho, o volume de vendas no varejo restrito se manteve acima do patamar pré-crise. Em linhas gerais, o resultado revela um movimento de acomodação do volume de vendas após expansão surpreendente.
Em junho, o volume total de serviços cresceu 1,7% na comparação com maio, superando as expectativas. Na comparação anual, a variação foi positiva em 21,1%. Com isso, o volume total de serviços passou a se situar acima do nível pré-crise pela primeira vez, em 1,8%. Todos os setores apresentaram crescimento. A maior contribuição positiva foi proveniente de serviços de informação e comunicação (2,5%). Com peso menor dentro do indicador agregado, os serviços prestados às famílias tiveram avanço de 8,1%. Em um mês que contou com novo avanço de mobilidade, o volume de serviços surpreendeu com crescimento bem acima do esperado. A tendência para os próximos meses é favorável para o setor com o avanço da vacinação.
O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 1,1% na margem em junho. O indicador prévio do PIB registrou resultado abaixo de nossa expectativa (1,3%), mas acima da expectativa do mercado (0,6%). O indicador repercutiu o crescimento no volume de serviços (1,7%), estabilidade na indústria e recuo de 2,3% das vendas no varejo. Com o resultado, a média do índice no 2º trimestre representa alta de 0,1% em relação à média do 1º trimestre. Na comparação interanual, o índice teve alta de 9,1%. O IBC-Br passou a se situar 1,3% acima do patamar pré-pandemia (média de janeiro e fevereiro de 2020). Em julho, os dados de atividade devem ser novamente beneficiados pelo aumento da mobilidade.
Nos EUA, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação em linha com o esperado em julho, após três meses de surpresa altista. O CPI variou 0,5% na comparação mensal, enquanto o núcleo da inflação, métrica que exclui a inflação com alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, avançou 0,3% frente a junho. Em termos anuais, o núcleo do CPI teve variação de 4,3%, com alta de 2,8% em serviços e de 8,4% em bens. Passagem aérea, hospedagem e carros usados, que vinham contribuindo em média por 50% da variação do CPI nos últimos três meses, contribuíram apenas com 16% da variação no índice. À medida que a economia retorne ao nível de atividade usual, deverá ocorrer um movimento de realinhamento de preços, com o conjunto de serviços mais impactados pela pandemia mostrando inflação mais pressionada. Avaliamos que as recentes surpresas altistas do CPI foram concentradas em componentes não estruturais da inflação.
Na próxima semana
No Brasil, a semana contará com poucos indicadores econômicos, dentre eles o IGP-10 e a arrecadação federal. No cenário internacional, destaque para a divulgação da ata do FOMC, e para os dados de atividade (comércio e indústria) de julho nos EUA e na China.