ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: CAGED mostra criação de emprego formal acima do esperado em junho
MUNDO: Fed reafirma nível da taxa de juros e continuação do programa de compra de ativos
Dados de emprego formal (Caged) de junho mostraram criação de 309 mil vagas. O resultado foi superior à nossa expectativa e à mediana do mercado, ambas em 260 mil vagas. Considerando a série com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 290 mil postos de trabalho, o que representa aceleração frente aos resultados de 244 mil em maio, 73 mil em abril e 158 mil em março. Na abertura por setor, a maior parte dos segmentos registrou resultado positivo, com destaque para serviços (133,5 mil ante 123,9 mil), comércio (87,9 mil ante 74,1 mil) e indústria de transformação (57,1 mil ante 38,3 mil). Por trás do maior saldo está o avanço de 13,3% das admissões e de 12,3% das demissões. Com isso, o patamar de admissões supera em 28% o nível pré-crise. Os dados do Caged sugerem um viés de alta para nossas projeções para o PIB no segundo trimestre deste ano.
O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 65,5 bilhões em junho. O resultado superou a nossa expectativa e a mediana de projeções do mercado (R$ 70 bilhões). Houve surpresa positiva com os governos regionais, que fecharam o mês com superávit de R$ 8,4 bilhões, enquanto o Governo Central apresentou déficit de R$ 75,1 bilhões. Em 2021, o setor público apresenta déficit de R$ 5,2 bilhões, frente ao déficit de R$ 402,7 bilhões no mesmo período do ano passado. O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 75,6 bilhões, acumulando R$ 589,7 bilhões (7,4% do PIB) em 12 meses. Por último, a dívida bruta, que compreende Governo Federal, INSS e governos estaduais e municipais, atingiu 84% do PIB, refletindo redução de 0,6 p.p. em relação a maio de 2020. Para o final desse ano projetamos déficit primário de 1,8% do PIB.
O saldo de crédito totalizou R$ 4,2 trilhões em junho, atingindo 53,0% do PIB. Segundo os dados do Banco Central, houve aceleração do saldo de crédito total, com crescimento interanual de 16,3% ante 16,1% em maio. O maior crescimento pode ser atribuído ao crédito às pessoas físicas (17,5% em termos anuais), influenciado sobretudo pelo avanço do crédito consignado. Importante notar que a proporção de crédito renegociado em relação ao total de crédito livre para a pessoa física teve redução no mês, embora ainda se situe em patamar superior ao pré-pandemia. Por outro lado, o nível de crédito às empresas apresentou nova desaceleração, passando de 15,6% para 14,8%. Na análise mensal, houve recuo de 1,3% das concessões de crédito livre às famílias no conceito média diária real com ajuste sazonal, que passaram a se situar 6,6% acima do patamar pré-crise. Por fim, a inadimplência apresentou redução, passando de 2,4% em maio para 2,3% em junho, com redução generalizada entre as modalidades. Em resumo, os dados mostraram acomodação das concessões de crédito, em patamar ainda elevado. Além disso, o nível de inadimplência segue baixo, tanto nas linhas de crédito às pessoas jurídicas quanto às pessoas físicas.
O saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 2,8 bilhões em junho. O resultado veio ligeiramente abaixo da nossa expectativa de superávit de US$ 3,1 bilhões. O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses permaneceu constante em US$ 19,6 bilhões, correspondente a 1,3% do PIB. Mesmo com o impacto negativo das importações fictas de plataformas de petróleo, houve superávit comercial de US$ 7,3 bilhões no mês, o que representa crescimento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, houve maior déficit na linha de renda primária em relação a junho de 2020, em especial nas despesas com lucros e dividendos remetidos, bem como um déficit maior na conta de serviços, dado o aumento das despesas com viagens e fretes de transporte. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 174 milhões no mês, acumulando 3,0% do PIB em 12 meses. Ao longo dos próximos meses, além da boa perspectiva para o saldo comercial, há expectativa positiva para o fluxo financeiro, devido ao ciclo de alta de juros e melhores perspectivas para a atividade doméstica. Para o ano, projetamos superávit em transações correntes de US$ 3,1 bilhões.
Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e reconheceu que a economia segue em recuperação firme. O banco central reafirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$ 120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e de inflação. No comunicado, o Fed manteve a avaliação que a inflação elevada corrente decorre de eventos transitórios. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, revelou que os membros do comitê de política monetária debateram eventuais estratégias para a redução da compra de ativos. Contudo, uma decisão final será tomada apenas nas próximas reuniões, uma vez que se obtenha maior clareza sobre a velocidade de recuperação do emprego. Powell reforçou que não existe qualquer perspectiva de alteração da taxa de juros no horizonte. Gradualmente o Fed reconhece os avanços no mercado de trabalho e na inflação, abrindo espaço para o anúncio da redução dos estímulos, que em nosso cenário deverá ocorrer formalmente na reunião de dezembro, com redução efetiva das compras a partir de janeiro.
O PIB dos EUA teve crescimento de 1,6% na margem no 2º trimestre e superou o nível pré-pandemia. Entre os componentes do PIB, o consumo das famílias teve alta acima do esperado (2,8% na margem), com destaque para a expansão da demanda de serviços. Dentro da parcela de investimentos, destaque para a parte não-residencial que teve alta na margem de 1,9%, enquanto a parte de investimentos residenciais recuou 2,5%, após três trimestres seguidos de forte alta. A parcela de estoques também contribuiu negativamente para o resultado trimestral do produto americano. Com o avanço da vacinação e a volta da mobilidade, no 3º trimestre o PIB deverá apresentar crescimento de 2% na margem. No ano, a expectativa é de crescimento de 6,5%, ante queda de 3,5% em 2020.
Na próxima semana
No Brasil, destaque para a reunião do Copom (BRAM: aumento da Selic de 100 pb para 5,25%) e para a produção industrial de junho (BRAM: +0,5% M/M). Na agenda internacional, as atenções se voltam para as divulgações dos PMI e para o relatório de emprego nos Estados Unidos.