ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Copom  detalha cenário e condições para manter grau de estímulo elevado.

MUNDO: Fed mantém plano de compras de ativos e melhora as projeções para a atividade econômica.

O Comitê de Política Monetária (Copom) reafirmou o cenário de manutenção de um grau de estímulo elevado, no momento, e esclareceu as condições para o forward guidanceEm dois documentos divulgados na semana, o Banco Central avaliou a evolução da inflação e da atividade econômica no país e detalhou as projeções e perspectivas para os próximos trimestres.

Na ata da última reunião de política monetária, na qual a Selic foi mantida em 2,00%, os membros enfatizaram que as condições para manter o compromisso de não elevar a taxa de juros (o “forward guidance”) podem, em breve, não ser mais satisfeitas. Dentre as condições, duas foram destacadas: 1) as expectativas e projeções para a inflação de 2021; 2) a mudança no horizonte relevante de política monetária.  O segundo documento divulgado, o Relatório Trimestral de Inflação, trouxe a abertura da projeção do Banco Central para a inflação, que foi revisada para cima e se situa pouco abaixo da meta para 2021 e próxima à meta para 2022.

Sobre a atividade econômica, a ata revelou que o comitê discutiu a respeito do nível de ociosidade da economia, concluindo que “a pandemia continua produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos” e que os diferentes hiatos setoriais devem ser considerados na avaliação da atividade. Essa avaliação foi mais desenvolvida no Relatório Trimestral de Inflação, no qual o Banco Central mostrou um estudo evidenciando um menor fechamento de empresas durante o período da pandemia do que o previsto anteriormente. Isso, segundo a instituição, é sinal positivo para a retomada da oferta no médio prazo. Em outro estudo, o Relatório traz uma investigação sobre a poupança das famílias, argumentando que já houve redução substancial da chamada poupança circunstancial (queda da despesa de consumo por conta de restrições de mobilidade), restando ainda algum potencial de queda da poupança precaucional (que decorre da incerteza sobre o ambiente econômico). Dessa forma, o impulso potencial de uma queda da taxa de poupança das famílias seria limitado para 2021, o que indica certa cautela sobre o ritmo de retomada da atividade adiante.

Em linhas gerais, os dois documentos reforçam o cenário no qual uma elevação da taxa de juros não acontecerá nos primeiros meses do próximo ano. O movimento dependerá, a nosso ver, da evolução da atividade e da inflação no começo de 2021, quando os efeitos do auxílio emergencial se dissipam, ao mesmo tempo em que deverá haver maior clareza sobre a trajetória da vacinação no país.

O Índice do Banco Central de atividade (IBC-Br) avançou 0,9% na margem em outubro. O indicador prévio do PIB apresentou crescimento um pouco abaixo da nossa projeção (1,0%) e da mediana do mercado (1,1%). O resultado refletiu as altas da indústria (1,1%), do comércio (2,1%) e do setor de serviços (1,7%) no mês. Na comparação interanual, o índice mantém queda de 2,6%. O indicador se situa 2,0% abaixo do patamar pré-pandemia. Com os últimos dados de atividade divulgados nosso tracking do PIB do 4º trimestre permanece em 2,0% na margem. Para 2020, esperamos queda do PIB de 4,5%.

No setor externo, o saldo em conta corrente registrou superávit de US$ 202 milhões em novembro. O resultado foi bem superior ao déficit de US$ 3,1 bilhões registrado em igual mês do ano passado e representa o sétimo resultado positivo em oito meses. Diferentemente das leituras anteriores, o saldo comercial não foi o principal responsável pela melhora das contas externas, registrando exatamente o mesmo resultado de novembro de 2019 (positivo em US$2,9 bi). O destaque ficou por conta do menor déficit de renda primária, em especial a rubrica de despesas com lucros reinvestidos. Nota-se também um resultado na conta de serviços menos negativo, dada a redução das despesas com viagens e fretes de transporte. Com isso, o saldo acumulado em 12 meses da conta corrente está em –0,8% do PIB. Quanto ao fluxo financeiro, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,5 bilhão no mês e acumulam resultado de 2,4% do PIB nos últimos 12 meses. Ao longo dos próximos trimestres, a recuperação da demanda doméstica e, consequentemente, das importações deverá resultar em gradual aumento do déficit em conta corrente.

Indicadores preliminares de confiança (PMI) na Zona do Euro mostram reação em  dezembro. O PMI Composto, que incorpora a percepção da indústria e do setor de serviços, subiu de 45,3 pontos em novembro para 49,8 na estimativa preliminar de dezembro. O indicador segue sugerindo retração da atividade, uma vez que uma expansão econômica é representada por níveis acima de 50 pontos, mas teve expressiva melhora frente a novembro e surpreendeu a expectativa de mercado (de 45,8 pontos). A confiança havia cedido nos últimos meses após a adoção de novas medidas de isolamento na região, dado o avanço da segunda onda de Covid-19. Em especial, notou-se retração da confiança do setor de serviços, mais afetado pelo distanciamento social. A abertura por setor mostrou que o bom resultado de dezembro foi fruto do crescimento da confiança da indústria, que passou de 53,8 para 55,5 pontos, mas principalmente dos serviços, que subiu de 41,7 para 47,3 pontos. O aumento da expectativa com relação à possibilidade de vacinação provavelmente foi fator importante para essa melhora. Esperamos que o PMI da região siga em recuperação nas próximas leituras.

Indicadores econômicos de novembro da China reforçam a rápida recuperação da atividade do país. A produção industrial cresceu 7,0% em relação a novembro do ano passado, após alta de 6,9% em outubro. Já as vendas no varejo cresceram 5,0% na mesma métrica, uma aceleração frente ao avanço de 4,3% em outubro. Novembro foi o quarto mês consecutivo de alta do comércio, importante indicador da tendência de consumo no país asiático. A China deve manter trajetória de aceleração da retomada, crescendo cerca de 2,5% em 2020.

Nos EUA, o Fed manteve a taxa de juros entre 0% a.a e 0,25% a.a e apontou continuidade dos programas de estímulo (compra de ativos)Como sinalização, o Fed afirmou que manterá o patamar da taxa de juros e o programa de US$120 bilhões mensais em compra de ativos, até avanço substancial em direção ao alcance das metas de pleno emprego e da estabilidade de preços. As expectativas do Fed para a economia apresentaram melhora. A projeção de contração do PIB americano em 2020 passou de 3,7%, na reunião de setembro, para 2,4% nesta reunião. A projeção para o desemprego em 2020 também melhorou, passando de 7,6% para 6,7%. Vale destacar que, mesmo com perspectiva de taxa de juros inalterada, a projeção de inflação do banco central só alcança a meta de 2% em 2023. Na entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou a visão expressa pelo Fed em novembro de que a economia dos EUA segue se recuperando, mas ainda está bem abaixo do patamar registrado do começo de 2020, com a avaliação de que a pandemia ainda apresenta riscos consideráveis para a economia no médio prazo. Powell também ressaltou a importância de novo estímulo fiscal. Diante principalmente do impacto ainda presente da crise sobre o mercado de trabalho, avaliamos que os estímulos permanecerão por um período prolongado.

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