ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

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BRASIL: Copom mantém Selic em 2,0%, mas indica fim próximo do forward guidance

MUNDO: BCE amplia estímulos na Zona do Euro. Inflação segue acomodada nos EUA e na China

 O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic com a indicação de que em breve as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas. Em decisão unânime, a Selic foi mantida em 2,00%, em linha com a expectativa de mercado e a nossa projeção. No comunicado, o Comitê afirma que, embora a segunda onda da pandemia nas principais economias deva afetar negativamente a economia no curto prazo, o prognóstico favorável para vacinação deve trazer melhora da confiança e retorno da atividade para a normalidade no médio prazo. A presença de ociosidade sugere que os estímulos monetários adotados pelos principais bancos centrais do mundo terão longa duração, permitindo um ambiente relativamente favorável para as economias emergentes. O Copom também destacou que a economia brasileira continua a demonstrar sinais de recuperação desigual entre os setores. Foi reforçado que a incerteza sobre o ritmo de crescimento permanece acima do usual, principalmente a partir do final deste ano, com o arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais. O comitê ressaltou que as últimas leituras de inflação foram acima do esperado e que em dezembro, apesar da moderação prevista para os preços de alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada. A avaliação é de que os choques atuais são temporários, mas devem ser monitorados com atenção, assim como as medidas de inflação subjacente.

A respeito do balanço de riscos para a inflação, o BC ressalta que permanecem riscos em ambas as direções. De um lado, o maior nível de ociosidade, notadamente concentrada no setor de serviços, pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, risco que se intensifica em ambiente de alta incerteza e maior poupança precaucional. Por outro lado, um prolongamento de medidas fiscais em resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país ou frustrações em relação às reformas pode elevar os prêmios de risco.  Nesse sentido, o risco fiscal gera uma assimetria altista no balanço de riscos.

As projeções do BC apontam para inflação próxima à meta em 2022.  Considerando o cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de R$ 5,25 e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções do Copom situam-se em 4,3% em 2020 (ante projeção de 3,1% na reunião de outubro), 3,4% em 2021 (ante 3,1%), e 3,4% em 2022 (ante 3,3%). No cenário com taxa de juros constante em 2% e de câmbio evoluindo segundo a PPC, a projeção situa-se no mesmo patamar de 4,3% em 2020, passando para 3,5% em 2021 e 4,0% em 2022. Em ambos os casos, as projeções se situam abaixo da meta em 2021. Para 2022, a projeção se aproxima da meta de 3,5% no cenário básico (Selic crescente até 4,5% ao final de 2022), e a ultrapassa no cenário alternativo (Selic constante em 2%). Acreditamos que a dissipação de choques e a continuidade da ociosidade elevada, agravada pela crise atual, permitirão uma trajetória benigna de inflação para os horizontes de médio prazo.

O Comitê considera adequado o nível extraordinariamente elevado de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros. O Copom avalia que as condições para o forward guidance, a saber, expectativas de inflação abaixo da meta e ancoradas e regime fiscal inalterado, seguem satisfeitas, apesar da elevação das expectativas de inflação desde a última reunião, sobretudo para 2021. No entanto, como ao longo dos próximos meses o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento de 2022, que tem projeções de inflação próximas da meta, em breve as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas. Segundo o Banco Central, isso não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros, dado o ainda alto nível de ociosidade e incerteza, mas um retorno ao receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos. Avaliamos que a Selic deva ser elevada a partir de junho, encerrando o próximo ano em 4,00%.

Com relação aos indicadores divulgados recentemente, o volume total de serviços prestados avançou 1,7% na margem em outubro. Na comparação anual, a variação foi de -7,4%, resultado acima da nossa projeção (-7,9%) e do mercado (-7,7%). Houve crescimento de todas as atividades à exceção de outros serviços, que devolveram parte das altas recentes de serviços financeiros mas ainda de situam 2,2% acima do nível pré-crise. A maior contribuição positiva veio de serviços de informação e comunicação (2,6%), setor que ultrapassou em 1,9% o patamar de janeiro e fevereiro. Também tiveram crescimento, favorecidos pela maior mobilidade no mês, os serviços de transporte (1,5%) e os serviços prestados às famílias (4,6%). Esse último tem sido o setor mais afetado pela pandemia por abranger serviços não essenciais, como hospedagem e alimentação. Mesmo com a alta em outubro, o nível de atividade deste setor ainda se situa 32,5% abaixo do nível pré-crise. Por sofrerem maior impacto das medidas de isolamento social em relação a outros setores, os serviços devem ter recuperação mais lenta e gradual, dependente da evolução da epidemia e do retorno da mobilidade de pessoas.

As vendas no varejo no conceito restrito apresentaram alta de 0,9% na margem em outubro. O resultado ficou acima da nossa expectativa (0,7%) e do mercado (0,1%). As maiores contribuições para a alta decorreram de tecidos, vestuário e calçados (6,6%) e hiper e supermercados (0,6%). Corrigindo parte das altas anteriores, o volume de vendas de móveis e eletrodomésticos recuou 1,1%.   O varejo ampliado, que inclui todos os componentes do conceito restrito e adiciona as vendas de automóveis e materiais de construção, apresentou avanço de 2,1% na margem em outubro, próximo a nossa projeção (2,2%) mas acima da mediana do mercado (1,5%). As vendas de veículos tiveram crescimento de 4,8% no mês. Com os dados de outubro, o volume de vendas no varejo restrito se situa 8,3% acima do patamar pré-crise (média de janeiro e fevereiro), enquanto o varejo ampliado se encontra 5,4% acima. Com o menor montante de auxílio emergencial transferido, é esperado que as vendas no varejo tenham desaceleração no 4º trimestre deste ano.

A inflação ao consumidor (IPCA) de novembro variou 0,89% na comparação mensal e, com isso, acumula alta de 4,3% nos últimos 12 meses. O resultado ficou acima da nossa projeção (0,81%) e da mediana de mercado (0,78%). As principais surpresas altistas frente à nossa projeção foram relacionadas a alimentação no domicílio (3,3%) e combustíveis (2,44%), ao passo que a inflação de serviços apresentou uma surpresa baixista, variando 0,39%. O grupo de Alimentação e Bebidas seguiu pressionado, com alta de 2,54% nessa divulgação. A média dos principais núcleos, que excluem ou suavizam itens voláteis, variou 0,44% no mês e chegou a 2,6% na comparação anual, continuando abaixo da meta do Banco Central. Isso sinaliza um cenário em que a inflação permanece comportada no próximo ano, em especial quando os choques que elevaram a inflação nos últimos meses se dissiparem. Nossas projeções para o IPCA em 2020 e 2021 estão em 4,5% e 3,4%, respectivamente.

 Nos EUA, a inflação (CPI) variou 0,2% na margem em novembro, acima das expectativas. A mediana das projeções de mercado apontava para alta de 0,1% no mês. A alta veio após resultado de 0,0% em outubro, e significou alta de 1,2% na variação interanual. O núcleo da inflação (exclui alimentos e energia) também variou positivamente, ficando em 1,6% em termos anuais e 0,2% na margem. A inflação de serviços, setor mais afetado por restrições de mobilidade, apresentou alta em novembro condizente com recuperação do setor. Mesmo assim ainda não há sinais de alta generalizada da inflação. De modo geral, a inflação nos EUA segue bem comportada e distante de gerar preocupação para o Fed.

Já na China, a inflação de novembro apresentou deflação pela primeira vez em 11 anos. A inflação ao consumidor (CPI) caiu 0,5% em novembro em relação ao mesmo mês de 2019, puxada pela inflação de alimentos que caiu 2% na mesma métrica. A baixa é explicada pela forte alta de preços no mesmo mês do ano passado, quando a gripe suína aumentou o preço do produto. Excluindo alimentos e energia, o chamado núcleo da inflação apresentou alta de 0,5% na comparação interanual, indicando que os preços seguem acomodados. Diante de uma recuperação da atividade mais acelerada, a inflação baixa reduz a pressão para a retirada, ainda que gradual, dos estímulos.

Com a ressurgência de casos de Covid-19, o Banco Central Europeu (BCE) ampliou sua política de compra de ativos e refinanciamento. O BCE manteve o patamar da taxa de depósito em -0,5%, da taxa de refinanciamento em 0,0% e da taxa de empréstimo em 0,25%. A novidade ficou por conta da ampliação e extensão das políticas de compra de títulos e refinanciamento. O Programa Pandêmico de Compras Emergenciais (PEPP na sigla em inglês) foi expandindo em 500 bilhões de euros, atingindo 1,85 trilhões em compra de ativos, e teve seu horizonte de compras estendido até março de 2022. O banco também anunciou a ampliação das políticas de refinanciamento de longo prazo (TLTRO III e PELTROs). Na entrevista após a reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou que a segunda onda de COVID-19 e as novas medidas de restrição adotadas para conter a economia podem resultar em contração significativa na região, com novas restrições sobre a mobilidade. Ademais, a inflação segue significativamente abaixo da meta de 2% até pelo menos 2022. Diante desse cenário, o BCE sinalizou que observará os efeitos das novas medidas de restrição e monitorará os possíveis efeitos da taxa de câmbio sobre a inflação no médio prazo. Lagarde deixou claro que o BCE segue determinado a manter o grau necessário de acomodação da política monetária. Avaliamos que as medidas de restrição terão impacto menor sobre a atividade em relação ao que foi observado na primeira onda. Ainda assim, os estímulos serão mantidos por período prolongado.

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