ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Ata do Copom sinaliza corte da Selic em agosto

MUNDO: Economia chinesa apresentou nova desaceleração em junho

Eventos da semana

No cenário internacional, as atenções se voltaram aos dados de atividade nos Estados Unidos. De modo geral, os indicadores de PIB, novos pedidos de auxílios desemprego e venda de novos imóveis mostraram uma atividade resiliente, elevando as curvas de juros nos Estados Unidos em praticamente todos os vencimentos. Com isso, os dados recentes de atividade reforçaram a expectativa de nova elevação, em 25 pb, da taxa de juros pelo Fed em julho. Por outro lado, no Brasil, o destaque foi a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a discussão sobre a meta de inflação. O CMN manteve o centro da meta de inflação em 3,0% para 2026, assim como para os anos de 2024 e 2025, além de ter definido o intervalo da banda de tolerância de 1,5 pp para cima ou para baixo. Ainda, houve alteração do horizonte de aferição da meta para um período contínuo, e definição de um valor permanente, sem previsão de reuniões regulares do CMN para definir as metas futuras. Outro evento relevante na semana foi a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 13,75%. No documento, o Banco Central sinalizou a possibilidade de início de cortes na próxima reunião, em agosto. No texto, a avaliação predominante foi de que o atual processo de desinflação poderia possibilitar um começo do ciclo de corte de juros na próxima reunião, enquanto um grupo minoritário apresentou uma postura mais cautelosa.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 13,75%, o Banco Central sinalizou a possibilidade de início de cortes na próxima reunião. Sobre o cenário externo, o Comitê reconheceu o viés negativo para o crescimento dos EUA e da Europa e citou o caráter persistente do processo inflacionário nas principais economias, mas que os bancos centrais nestas regiões estão determinados em promover a convergência para suas metas de inflação. Em relação ao cenário doméstico, o Copom considerou que, apesar da surpresa positiva do PIB no primeiro trimestre, os indicadores recentes sugerem uma desaceleração gradual da atividade econômica, enquanto o mercado de trabalho segue apresentando resiliência maior do que a esperada. Em relação à inflação, a ata reconhece a redução recente, mas que componentes mais sensíveis à política monetária permanecem acima do compatível com o cumprimento da meta. Na avaliação do cenário, o Comitê optou por elevar a estimativa da taxa de juros real neutra de 4,0% para 4,5%, influenciado pela possível elevação na taxa neutra dos principais países e pela persistência da atividade no Brasil, acompanhada de uma desinflação lenta, assim como a análise de modelos auxiliares com diferentes metodologias. Essa alteração, no entanto, deve impactar mais a percepção de juros terminal do que de início do ciclo de cortes. Por fim, na discussão sobre a condução da política monetária, a ata revelou uma divergência entre os diretores a respeito da sinalização dos próximos passos. A avaliação predominante foi de que o atual processo de desinflação poderia possibilitar um começo da ciclo de corte de juros na próxima reunião, enquanto o grupo minoritário apresentou uma postura mais cautelosa. No entanto, todos concordaram com os critérios para definir as futuras ações da política monetária, isto é, a evolução da inflação, suas expectativas e projeções, do hiato do produto e do balanço de riscos.

O Relatório de Inflação do Banco Central revisou para cima a projeção para o crescimento do PIB para 2023 e detalhou o processo decisório do Copom. O Banco Central revisou sua projeção de crescimento do PIB de 1,2% para 2,0% para 2023, refletindo as surpresas positivas na indústria e no setor de serviços no primeiro trimestre, além de uma perspectiva melhor para a agricultura. Além disso, o BCB fez leve revisão para cima para o crédito, mas ressaltou que a nova expectativa ainda é compatível com um processo de desaceleração que se dá de acordo com a política monetária em curso. Por fim, o Banco Central apresentou estudos sobre a taxa de juros real neutra no Brasil e em outros países.

Prévia da inflação mensal continuou a desacelerar em maio, com alta de 0,04% no mês. O IPCA-15 ficou acima da expectativa do mercado e da nossa projeção (ambas de 0,02%), chegando a uma variação acumulada em 12 meses inferior à de maio (3,4% ante 4,1%). A maior alta foi observada no setor de habitação (0,96%), influenciada pelo aumento de 3,64% na taxa de água e esgoto. Destaca-se a queda na margem de alimentação e bebidas (-0,51%) após uma alta de 0,94% no mês anterior, puxada pela deflação no subgrupo alimentação no domicílio (-0,81%), inferior às expectativas. Na comparação interanual, o subgrupo continuou a desacelerar (4,1% ante 5,1%), reflexo da tendência de arrefecimento na inflação de alimentos em 2023, exemplificada pelo recuo dos preços agropecuários no atacado. A maior variação negativa veio dos transportes, principalmente pela queda no preço dos combustíveis (-3,75%), observada em gasolina, etanol, diesel e gás veicular. Os bens industriais, por sua vez, tiveram desaceleração de 5,2% para 4,5% na variação em 12 meses, com recuo em bens duráveis (0,54%) e em bens semiduráveis (9,01%). Preços de bens duráveis deve ser um dos vetores importantes de queda de preços nas próximas leituras, devido ao programa de descontos para o setor automotivo promovido pelo governo. Os preços administrados, por sua vez, também reduziram o ritmo de aumento, com deflação na comparação interanual (-1,49%), que também ocorreu nos serviços (6,13%).

Com relação aos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal registrou recuo de 5,4% para 4,9%, em relação à leitura anterior. Em linha com esse resultado, a variação acumulada em doze meses seguiu desacelerando em comparação com o mês anterior (6,2% ante 6,8%). Dessa forma, mantemos nossa projeção de 2023 em 5,0%. Além disso, revisamos recentemente nossa projeção de 2024 de 3,6% para 3,5%, diante do recuo relevante das projeções de 2023 e da definição quanto a manutenção da meta oficializada pelo Conselho Monetário Nacional.

O crédito continuou sua trajetória de desaceleração em maio. Segundo os dados do Banco Central, a variação interanual do saldo de crédito passou de 11,3% em abril para 10,4% no mês, reflexo da desaceleração do crédito às famílias (de 15,8% para 14,6%) e às empresas (de 4,8% para 4,4%). Com isso, o crédito como percentual do PIB recuou para 52,4% no período. De acordo com nossos cálculos, houve queda real de 5,3% na margem da média diária das concessões de crédito livre para pessoas físicas na série com ajuste sazonal, puxada por modalidade rotativas. Em relação às empresas, os dados mostram alta de 0,8% na margem da média diária das concessões com recursos livres. Em relação à inadimplência total, houve aumento de 3,6%, com a carteira de recursos livres registrando taxa de 6,3% para pessoas físicas e de 3,0% para pessoas jurídicas. Desde junho de 2022, houve alta de 1,1 pp da inadimplência das famílias e de 1,3 pp da inadimplência das empresas no crédito livre. Esperamos continuidade da desaceleração do crédito nas próximas leituras.

Em maio, o mercado de trabalho doméstico permaneceu resiliente. Em relação ao mercado formal, o Caged registrou saldo de 155,3 mil vagas de emprego, correspondente a 136 mil vagas na série com ajuste sazonal, após 167 mil em março. Houve saldo positivo na maior parte dos setores, com aceleração da criação de vagas nos serviços (106 mil, ante 72 mil) e indústria de transformação (7,3 mil, ante -0,7 mil). O menor saldo de maio está associado à queda na margem de admissões em magnitude inferior à de demissões. Por sua vez, os dados mensalizados da PNAD Contínua no mês trouxeram uma leitura melhor da emprego, com alta de 0,3% dos ocupados em relação a abril puxada em maior parte por empregos informais. De acordo com nossos cálculos, a taxa de desemprego no mês caiu de 8,1% para 8,0% na série com ajuste sazonal. No entanto, parte do bom desempenho se deve ao nível reduzido da força de trabalho: se mantivéssemos a taxa de participação no nível pré-pandemia, a taxa de desemprego estaria em 10,7%. Ainda pela métrica mensal, o rendimento médio real teve queda de 1,1% em relação ao mês anterior com ajuste sazonal, passando a se situar 3,7% abaixo do nível pré-crise. Por sua vez, a massa de rendimento habitual real teve queda de 0,3% no período, situando-se 1,7% acima do nível pré-pandemia. Apesar da resiliência dos dados de ocupação no mês, esperamos nas próximas leituras desaceleração dos empregados e da massa de rendimento real, ainda que a taxa de desemprego possa permanecer baixa em função do patamar reduzido de pessoas na força de trabalho.

Resultado do setor público consolidado foi inferior às expectativas em maio. O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 50,2 bilhões em maio, ante déficit de R$ 33,0 bilhões no mesmo período de 2022. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado (-R$ 45,5 bilhões). Em termos de composição, os déficits foram de R$ 43,2 bilhões no governo central, de R$ 6,8 bilhões nos governos regionais e de R$ 168 milhões nas empresas estatais. No acumulado em 12 meses, o setor público consolidado teve superávit de R$ 39,0 bilhões, o que equivale a 0,4% do PIB. O resultado nominal, que inclui o pagamento dos juros nominais, foi deficitário em R$ 119,2 bilhões em maio, e o déficit nominal avançou de 5,9% para 6,4% do PIB no acumulado em 12 meses. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), composta por Governo Federal, INSS e governos estaduais e municipais, por sua vez, chegou a 73,6% do PIB (R$7,6 trilhões). Em nossa avaliação, o superávit de R$ 28,5 bilhões acumulado no ano deverá ser reduzido ao longo do ano com o desempenho mais fraco da arrecadação e aumento das despesas. Projetamos déficit de R$ 100 bilhões nesse ano.

O saldo de transações correntes foi positivo em US$ 649 milhões em maio, mas acumula déficit de 2,45% do PIB em 12 meses. O superávit da balança comercial no mês foi de US$ 9,7 bilhões, ante US$ 3,4 bilhões no mesmo período do ano passado, fruto de uma elevação de 11,2% das exportações e redução de 11,3% das importações na comparação interanual. O déficit na conta de serviços contabilizou US$ 3,1 bilhões, com destaque para menores despesas líquidas com transportes e viagens internacionais. A conta de renda primária, por sua vez, teve resultado negativo de US$ 6,0 bilhões em maio, influenciado pela elevação da despesa líquida com lucros e dividendos e com juros na comparação com o mesmo mês de 2022. Por fim, os investimentos diretos no país somaram US$ 5,4 bilhões no mês passado, acumulando 4,2% do PIB em 12 meses, enquanto foi observada saída líquida de US$ 4,0 bilhões dos investimentos em carteira. Os próximos meses deverão contar com desaceleração mais intensa de importações e melhor resultado da conta de serviços em virtude da expectativa de desaceleração econômica.

Relatório de gastos do consumidor (PCE) nos EUA de maio apontou arrefecimento no ritmo de consumo e continuidade da inflação em nível alto. O núcleo da inflação mensurado pelo PCE subiu 0,3% na margem em maio, conforme as expectativas e abaixo da medida de abril (0,4%). Na comparação interanual, o índice desacelerou levemente, atingindo 4,6%, abaixo das projeções e do registrado em abril (ambos de 4,7%), porém ainda distante da meta de 2%. Em termos reais, a consumo ficou estável na margem, com queda de 0,4% no consumo de bens e alta de 0,2% nos serviços. A poupança como proporção da renda disponível foi de 4,6% em maio, avanço em relação ao patamar de 4,3% de abril. Embora o consumo apresente sinais incipientes de perda de força, avaliamos que a inflação distante da meta de 2% ainda demanda a continuidade das condições de aperto monetário, incluindo uma nova alta de juros de 25 pb pelo Fed na reunião de julho.

Apesar do alívio da inflação ao consumidor, núcleos seguirão elevados nos meses à frente na Área do Euro. O resultado prévio do índice de preços ao consumidor apontou para alta interanual de 5,5% do índice cheio e de 5,4% do núcleo em junho, surpreendendo levemente as expectativas mais elevadas de 5,6% e 5,5%, respectivamente. Na passagem de maio para junho, por sua vez, o índice cheio e o núcleo avançaram 0,3%, considerando as séries com ajustes sazonais. Mesmo que a inflação já tenha feito pico e os preços de energia e de bens sigam sua tendência de alívio, o nível elevado e o comportamento de serviços ainda demandam atenção. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de pelo menos mais 1 alta dos juros, de 25 pb, em julho, levando a taxa básica para 3,75%.

Desaceleração da economia chinesa ainda não foi interrompida. Após forte crescimento observado no primeiro trimestre, os sinais de moderação da atividade têm se consolidado. Dentro do esperado, o índice PMI do setor de manufatura mostrou leve alta de 48,8 para 49,0 pontos e o indicador dos setores não industriais (que consideram serviços e construção) recuou de 54,5 para 53,2 pontos, entre maio e junho. Somado a isso, dados de alta frequência apontam que o arrefecimento das vendas de imóveis não foi interrompido, aumentando as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento. A moderação da indústria e a piora do setor imobiliário residencial justificam nossa expectativa mais cautelosa para o crescimento deste ano. Mesmo esperando medidas de estímulos, essas devem ser contidas e serão capazes apenas de estancar a desaceleração em curso.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação da produção industrial de maio e da balança comercial de junho. No cenário internacional, as atenção estarão voltadas para a ata do FOMC e para os PMIs de Área do Euro e EUA.

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