ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Mesmo com recuo de varejo e serviços, IBC-Br registrou alta de 0,6% no mês 

MUNDO: Fed realizou pausa no processo de elevação de juros, mantendo a taxa em 5,25%

Eventos da semana

No cenário internacional, o destaque foi a decisão de política monetária dos Estados Unidos. O Fed, alinhado com as expectativas do mercado, interrompeu a sequência de alta de juros que teve início março de 2022 e acumula 500 pontos-base. No entanto, apesar da manutenção dos juros no intervalo de 5,00% a 5,25%, o Fed manteve um viés de elevação da taxa básica de juros para a reunião de julho, justificando a decisão de pausa como uma estratégia para avaliar os efeitos defasados do aperto monetário. Com isso, as moedas globais ganharam força na semana, com destaque para o real, que teve apreciação superior a 1% e passou a operar pela primeira vez no ano abaixo do nível de R$ 4,80. Por outro lado, no Brasil, o destaque foi a alteração da perspectiva de rating soberano. A agência de classificação de risco S&P Global Ratings alterou o rating de BB- de estável para positivo pela primeira vez desde 2019, justificando a mudança como devido aos sinais de redução da incerteza sobre a estabilidade fiscal e monetária do país. Essa alteração contribuiu para ganhos dos índices de ações, com o Ibovespa acumulando alta próxima de 10% em junho.

Indicadores de abril mostraram desaceleração da atividade no mês. O volume de vendas do varejo restrito avançou apenas 0,1% na margem, com as maiores contribuições positivas vindo de hiper e supermercados (3,2%), e artigos farmacêuticos (0,3%). Contrabalançando as altas, houve queda relevante de tecidos, vestuário e calçados (-3,7%) e combustíveis e lubrificantes (-1,9%). No entanto, as vendas do varejo ampliado, que inclui veículos, materiais de construção e atacado de alimentos,  registraram queda de 1,6% em abril. O recuo pode ser atribuído, principalmente, à queda acentuada do volume de vendas de veículos (-5,9%), após crescimento de 4,4% registrado no mês anterior. Em termos de desempenho trimestral, o dado de abril do comércio ampliado representa alta de 1,4% em relação à média do 1º trimestre do ano. Em resumo, o crescimento do comércio restrito no mês ficou concentrado em supermercados, não alterando a avaliação de arrefecimento das vendas. Nas próximas leituras, o comércio deverá exibir sinais mais claros de desaceleração, refletindo os efeitos da política monetária e o baixo crescimento da renda das famílias.

Na mesma direção, o volume total de serviços recuou 1,6% em abril. Na comparação interanual, houve alta de 2,7%, abaixo da nossa projeção e da mediana do mercado (4,7%). A queda na margem pode ser atribuída, em maior parte, ao desempenho negativo do setor de transportes (-4,4%), fruto da queda de transportes terrestre e de serviços auxiliares do transporte e correios, repercutindo o menor escoamento de cargas agrícolas. Ademais, também contribuíram para a retração os serviços de informação e comunicação (-1,0%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,6%) e outros serviços (-1,1%), que contempla atividades como serviços financeiros e seguros. Por sua vez, o segmento de serviços prestados às famílias, que abrange alojamento e alimentação, foi o único setor que registrou alta, de 1,2%. Em termos de carrego, o dado de abril representa queda de 0,5% em relação à média do 1º trimestre de 2023. Em linhas gerais, avaliamos que o desempenho negativo de serviços derivou, principalmente, da influência negativa do setor agropecuário sobre as atividades voltadas a empresas, sobretudo transportes, após alta expressiva exibida no 1º trimestre deste ano.

Por fim, mesmo com as quedas observadas da produção industrial, do comércio varejista e de serviços em abril, o índice de atividade do Banco Central registrou alta de 0,7% no mês. A divergência em relação aos principais indicadores mensais se deve ao desempenho do setor agropecuário. Ainda assim, após um primeiro trimestre forte, mantemos nossa expectativa de moderação do crescimento no restante deste ano, entendendo que os efeitos do aperto da política monetária ficarão mais evidentes a partir deste trimestre. Esperamos crescimento de 1,9% do PIB neste ano.

No cenário internacional, inflação nos EUA apresentou manutenção da tendência de desaceleração, mas permanece em nível elevado. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,12% na margem em maio, levemente acima das expectativas e abaixo do registrado em abril (0,37%). Na comparação interanual, a alta foi de 4,13%, inferior à marca de 4,96% do mês anterior. A principal contribuição para essa desaceleração veio do componente de energia, que registrou deflação de 11,32% em termos anuais. O núcleo da inflação (indicador que exclui energia e alimentação), por sua vez, subiu 0,44% em maio, registro superior ao de 0,41% em abril. O componente de serviços do núcleo subiu 0,40% em maio e 6,57% em termos anuais, com destaque para o avanço na margem de 0,56% no item de aluguel. Já o componente de bens do núcleo do CPI teve aumento de 0,55% em maio, acumulando alta de 2,0% em termos anuais. De modo geral, a inflação tem mostrado sinais de desaceleração. O núcleo da inflação que na média de três anualizada apresentava variação de 5,2% em fevereiro mostrou pequena variação, atualmente em 5,03%. Com isso, a inflação segue distante a meta de 2%, o que corrobora o cenário de juros em patamar contracionista por um período prolongado.

O Banco Central americano (Fed) interrompeu a sequência de alta da taxa de juros e a manteve no intervalo entre 5,00% e 5,25%, conforme a expectativa do mercado. Em relação ao cenário, o comitê de política monetária (FOMC) reafirmou a continuidade da expansão moderada da atividade, a condição apertada do mercado de trabalho e o nível elevado da inflação. Novamente, apesar de ressaltar a solidez do sistema bancário, o comitê chamou atenção para a possibilidade de condições de crédito mais apertadas e a incerteza dos efeitos desse panorama. Com viés de alta para a reunião de julho, o Fed justificou a opção por pausar a alta de juros como uma estratégia que possibilitará uma avaliação do efeito defasado do aperto monetário.

Em relação às projeções, houve alta para crescimento do PIB e inflação, e redução para a projeção da taxa de desemprego. A projeção para o núcleo da inflação de 2023 teve revisão altista, subindo de 3,6% nas projeções de março para 3,9%, enquanto no horizonte mais longo houve manutenção da previsão de 2,6% para 2024 e leve alta para 2025 (2,1% em março para 2,2%). No que tange ao mercado de trabalho, houve revisão para baixo nas estimativas de taxa de desemprego para 2023 (4,5% em março para 4,1% na última), e para 2024 e 2025 (4,6% para 4,5% em relação a ambos os anos). Essa redução foi acompanhada de uma forte reavaliação sobre o crescimento do PIB para 2023, que passou de 0,4% em março para 1%. Em decorrência desse cenário com mais crescimento e inflação, a mediana das projeções do Fed sobre a taxa básica de juros subiu nos três anos avaliados: de 5,1% no último relatório para 5,6% em 2023, de 4,3% para 4,6% em 2024 e de 3,1% para 3,4% em 2025.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a manutenção foi prudente para a obtenção de mais informações, embora tenha reforçado que novos aumentos de juros são prováveis. Em entrevista coletiva após o anúncio da decisão, Powell destacou que já é possível observar efeitos do aperto de juros nos setores mais sensíveis, como habitação e investimentos, mas que todo o impacto sobre a inflação ainda demandará tempo, ressaltando que o balanço de riscos para a inflação ainda é de alta. Com isso, Powell afastou qualquer possibilidade de discussão sobre corte de juros nesse ano. Avaliamos que o Fed elevará a taxa de juros em 25 pb na reunião de julho, mantendo o intervalo entre 5,25%-5,5% pelo restante do ano.

O Banco Central Europeu elevou a taxa de juros em 25 bp e sinalizou mais uma alta em julho. A inflação ainda pressionada, combinada com a desaceleração em curso da atividade e os efeitos defasados da política monetária, foi determinante para a decisão do Banco Central Europeu. Dentro do esperado pelo mercado, a taxa de juros aplicável às operações de refinanciamento e as taxas de juros aplicáveis às linhas permanentes de liquidez e de depósito subiram para 4,00%, 4,25% e 3,50%, respectivamente. Somado a isso, a instituição revisou suas projeções de curto e médio prazo, ajustando para cima suas expectativas para a inflação ao consumidor, que agora apontam altas de 5,0%, 3,0% e 2,2% em 2023, 24 e 25, nessa ordem. Além de reforçar que a inflação está e seguirá elevada por algum tempo, a presidente da instituição, Christine Lagarde, destacou, na coletiva de imprensa após a decisão, que os juros continuarão subindo, ao menos mais uma vez, dado que a política monetária não está em nível suficientemente restritivo para trazer o índice de preço de volta para a meta de 2%. Ainda assim, chamou atenção que a transmissão da alta de juros adotada até aqui – de 400 pb – já é percebida nas condições de crédito. Mesmo que a inflação já tenha feito pico e os preços de energia e alimentos sigam sua tendência de alívio, o nível elevado e o comportamento de serviços demandam atenção e devem manter o BCE com tom duro nos meses à frente. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de mais uma alta dos juros, de 25 pb, em julho, levando a taxa básica para 3,75%. No entanto, ainda que não seja nosso cenário central, uma alta final de 25 pb, na decisão em setembro, segue em aberta e dependente da evolução dos dados.

Rápida desaceleração da economia chinesa continua sustentando a expectativa de adoção de estímulos no curto prazo. Mantendo a tendência recente de enfraquecimento da economia, o desempenho dos indicadores de atividade de maio frustrou as expectativas do mercado. A produção industrial avançou 3,5% em maio na comparação com mesmo mês do ano passado, desacelerando ante a alta de 5,6% verificada em abril. As vendas do varejo registraram alta interanual de 12,7%, abaixo do esperado (13,7%) e de abril (18,4%). Os investimentos em ativos fixos, considerando a variação acumulada do ano, cederam de uma expansão de 4,7% para 4,0% entre abril e maio, com desempenho ainda muito fraco do setor imobiliário. De fato, esse tem sido um dos vetores baixistas para a economia deste ano, com vendas e lançamentos de imóveis residenciais recuando 5,2% e 23,2% em 2023. Diante desses sinais espalhados de perda de tração, cresceram as expectativas de que estímulos macroeconômicos e fiscais serão adotados. Nesta semana, houve redução de 0,10 p.p. das taxas de juros – de recompra, de 2,0% para 1,9% e de empréstimos de médio prazo, de 2,75% para 2,65%. Entendemos que o alívio necessário e capaz de estancar a desaceleração em curso deve ser mais amplo, envolvendo suporte aos governos locais e ao setor imobiliário – o que deve acontecer em breve.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a reunião do Copom, com a divulgação da decisão sobre a taxa Selic (Bradesco Asset: 13,75%). No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a publicação da prévia do PMI Composto dos Estados Unidos e da Zona do Euro e para a decisão de política monetária do Reino Unido.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui