ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Inflação ao consumidor registrou alta de 0,23% no mês de maio 

MUNDO: Economia global exibiu melhora, com leve alta de no PMI Composto de maio

Eventos da semana

No cenário internacional, a resiliência da economia, a persistência da inflação em níveis elevados e os juros em alta seguem como temas centrais para os preços dos ativos. Destaca-se a surpresa com a decisão de juros do Banco Central do Canadá. Após iniciar o período de alta de juros entre janeiro de 2022 e o mesmo mês deste ano, a autoridade monetária parecia ter encerrado esse ciclo de aperto monetário, mantendo a taxa inalterada nas reuniões de março e abril. No entanto, nesta semana, o Banco Central surpreendeu o mercado com uma alta de 25 pb, levando a taxa de juros do país a 4,75%. Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para a decisão de política monetária do Fed, para a qual o mercado atribui probabilidade majoritária de estabilidade. No âmbito doméstico, as atenções se concentraram na divulgação do IPCA de maio, com avanço de 0,23% ante expectativa de 0,33%. O resultado acumulado nos últimos 12 meses,  de 3,94%, é o menor desde outubro de 2020. Com isso, os mercados ampliaram as quedas precificadas nas curvas de juros futuros, intensificando as expectativas de que o início do ciclo de queda de juros no Brasil se aproxima.

Alívio em alimentação explica boa parte da surpresa baixista com a inflação ao consumidor em maio. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,23% entre abril e o mês passado, ficando abaixo da expectativa do mercado (0,33%) e da nossa projeção (0,31%). Com isso, no acumulado em 12 meses, houve desaceleração de uma alta de 4,2% para outra de 3,9%. Para esse resultado, a maior contribuição negativa veio de transportes, com queda de 0,57% no mês, em função do recuo de 17,73% dos preços das passagens aéreas, somado ao resultado de combustíveis (-1,82%), que foi impactado pelas quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%). Contrabalançando essas quedas, destaque para a variação de 0,93% em saúde e cuidados pessoais, com avanço em itens de higiene pessoal (1,13%) e produtos farmacêuticos (0,89%). O grupo de alimentação e bebidas apresentou alta de 0,16% em maio, desacelerando em relação a abril (0,71%), refletindo a estabilidade no subgrupo alimentação no domicílio. Esse resultado surpreendeu a mediana das expectativas do mercado (0,3%), sendo a principal justificativa para a surpresa baixista em relação às projeções. O subgrupo apresentou reversão em relação ao observado no IPCA-15, em parte pela queda mais acentuada dos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%). Com isso, na variação acumulada em 12 meses o subgrupo de alimentação no domicílio seguiu desacelerando (de 5,1% para 4,7%), mantendo a tendência de preços mais baixos de alimentos em 2023. Considerando os preços de serviços, entre abril e maio, houve desaceleração de 7,5% para 6,5%, na variação acumulada em 12 meses. O grupo de bens industriais, por sua vez, também exibiu menor variação (de 6,0% para 5,2%), com arrefecimento tanto em bens duráveis (1,5%) como em semiduráveis (9,8%). Por fim, os preços administrados subiram 0,71% no mês, com contribuição da deflação em combustíveis. No acumulado em 12 meses, administrados continuam em deflação, ainda refletindo os cortes tributários de 2022.

Vale ainda destacar o desempenho mais favorável dos núcleos da inflação, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis. A média anualizada de três meses, com ajuste sazonal, avançou 5,7%, recuando em relação à leitura anterior (6,4%). Da mesma forma, a variação acumulada em doze meses seguiu desacelerando em comparação com o período anterior (de 7,3% para 6,7%). Diante desse comportamento mais benigno da inflação, revisamos nossa projeção para a elevação do IPCA deste ano, de 5,4% para 5,2%.

Incorporando essas surpresas baixistas com a inflação, houve revisão para baixo das expectativas do mercado para a inflação de 2023. Segundo o Relatório Focus, do Banco Central, a expectativa para a variação do IPCA deste ano passou de 6,02% no início de maio para 5,69% nesta semana, em meio a um cenário de descompressão dos preços no atacado. Para o horizonte de 2024, as projeções de mercado para a inflação continuaram acima da meta de 3,00% ao apontar para elevação de 4,12%. O mesmo ocorreu para 2025, com a projeção do IPCA em 4,00%. Com a surpresa positiva da atividade econômica no 1º trimestre deste ano, a mediana das projeções para o crescimento do PIB de 2023 também sofreu revisões relevantes, situando-se atualmente em 1,68%, ante 1,00% no começo de maio. Avaliamos que as revisões altistas seguirão nas próximas edições do relatório. Nossa projeção para o PIB, acima da mediana do mercado, indica crescimento de 1,9% para 2023. Por fim, as expectativas do mercado em relação à taxa Selic seguiram estáveis nos últimos relatórios, com a mediana da taxa em 12,50% para o final de 2023, 10,00% para 2024 e 9,00% para 2025. Nossa expectativa é de que o Banco Central inicie o ciclo de corte a partir do terceiro trimestre de 2023, com taxa terminal de 12,50% neste ano. Em nosso cenário, o início do ciclo de afrouxamento monetário se dará em função dos sinais mais claros de desaceleração da inflação, com ambiente fiscal do país relativamente estável e desaceleração da atividade doméstica e global mais evidente.

No cenário internacional, melhora da atividade econômica global em maio seguiu impulsionada por serviços, além da melhora do setor de manufatura. O índice PMI Composto global avançou 54,2 para 54,4 pontos entre abril e maio. Para tanto,  houve ligeira alta do setor de serviços (de 55,4 para 55,5). Ao mesmo tempo, destaca-se também a melhora da indústria, cujo componente de produção passou de 50,8 para 51,5 pontos. Destacamos o desempenho de algumas regiões: nos EUA, o índice composto caiu de 54,5 para 54,3 pontos, com queda registrada dos dois setores. Na Área do Euro, por sua vez, o índice recuou de 53,3 para 52,8 pontos, refletindo a retração em serviços e manufatura. Por fim, na China, houve elevação de 53,6 para 55,6 pontos, considerando o índice composto, apurado pelo Caixin, lembrando que o indicador calculado pelo escritório de estatísticas do país recuou nesse mesmo período.

Na China, dados de inflação e do setor externo reforçaram tendência de desaceleração do crescimento neste segundo trimestre. Em maio, as importações e exportações seguiram fracas, com quedas de 4,5% e 7,5%, respectivamente, na comparação com mesmo mês do ano passado e ante expectativas de retração de 8,0% e 1,8%. Com isso, mantemos nossa expectativa de que as exportações tendem a enfraquecer nos próximos meses, tendo em vista a desaceleração da economia mundial. Ademais, vale ressaltar que a queda das importações tem sido explicada, em grande medida, pelo recuo dos preços das commodities. De fato, os sinais de desinflação sustentam a perda de ritmo da economia. O índice de preços ao consumidor mostrou alta interanual de 0,2% em maio, após elevação de 0,1% em abril, em linha com as expectativas. Seguindo a tendência dos últimos meses e refletindo principalmente o comportamento dos preços dos insumos na cadeia extrativa, o índice de preços ao produtor registrou deflação de 4,6% em maio, vindo de uma variação negativa de 3,6% no mês anterior. Reconhecemos, portanto, que após forte desempenho no primeiro trimestre, a desaceleração da economia chinesa tem acentuado. Diante disso, para estancar essa tendência de enfraquecimento e ajudar a restaurar a confiança, crescem as expectativas de anúncio de novos estímulos, como corte da taxa de juros, além de medidas direcionadas especificamente para o setor imobiliário.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para os indicadores de atividade econômica, com a divulgação dos dados do PMC e PMS de abril. No cenário internacional, as atenções da semana estarão voltadas para a publicação dos dados de inflação dos Estados Unidos, além das decisões de juros nos EUA e na Área do Euro.

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