ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Copom manteve a indicação de estabilidade da taxa de juros
MUNDO: Fed elevou a taxa de juros para 5,25%, provavelmente encerrando o ciclo
Eventos da semana
Nessa semana, os destaques que mais movimentaram as atenções do mercado ficaram para as decisões de política monetária nos Estados Unidos, na Zona do Euro e no Brasil. O Fed elevou mais uma vez a taxa básica de juros em 25 pb, para entre 5,00 e 5,25%, e sinalizando uma possível pausa no ciclo de aperto de juros. Por outro lado, o ECB (Banco Central Europeu, sigla em inglês) elevou os juros em 25 pb, dentro das expectativas do mercado, porém com a promessa da manutenção do ciclo de aperto de juros nas próximas reuniões. No âmbito doméstico, a decisão da manutenção da taxa de juros pela quinta reunião consecutiva pelo Banco Central do Brasil veio em linha com as expectativas. No comunicado divulgado, o Copom avaliou que a manutenção da taxa de juros nesse patamar é compatível com o objetivo de consolidar tanto o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas de inflação. Ainda, o comunicado moderou o tom quando comentou que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado” ao mencionar que esse é um cenário menos provável.
O Banco Central manteve a taxa básica em 13,75%, em linha com as expectativas do mercado. Em seu comunicado, o pontuou a necessidade de monitoramento das condições financeira externas, mas reconheceu o impacto limitado, até o momento, na economia doméstica. No contexto interno, a desaceleração da atividade econômica segue em linha com a expectativa do Comitê, apesar de resiliência maior do que a esperada para o mercado de trabalho, enquanto o nível do IPCA segue acima do patamar compatível com a meta de inflação. Dentre os riscos de alta para o cenário, o destaca a maior persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza quanto ao desenho final do Arcabouço Fiscal a ser aprovado pelo Congresso e, por fim, a desancoragem maior das expectativas de inflação para prazos mais longos. Já entre os riscos de baixa, destacou a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, uma desaceleração mais acentuada da atividade global e um eventual aperto das condições de crédito acima do patamar compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
O Copom avalia que a manutenção da taxa de juros nesse patamar é compatível com o objetivo de consolidar tanto o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Ademais, o Comitê enfatizou a inexistência de uma relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do Arcabouço Fiscal. Por fim, o Comitê ainda moderou o tom quando comentou que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado” ao mencionar que esse é um cenário menos provável. Com isso, mantemos nosso cenário de cortes na taxa de juros a partir da reunião de setembro, encerrando o ano de 2023 em 12,50%.
A balança comercial registrou superávit de US$ 8,2 bilhões em abril. Por trás desse resultado, as exportações somaram US$ 27,4 bi, tendo recuado 5,5% na comparação interanual, enquanto as importações caíram 7,7%, alcançando US$ 19,1 bi. A maior contribuição positiva para o resultado das exportações veio de produtos agrícolas, em especial a soja, resultado do desempenho favorável da safra doméstica nos primeiros meses do ano. Na comparação interanual, também tiveram destaque as exportações de produtos da indústria extrativa, como óleos brutos de petróleo e minério de ferro. Com isso, no primeiro quadrimestre de 2023, a balança comercial exibiu superávit de US$ 24,1 bilhões, avançando 17,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao longo dos próximos meses, a balança comercial deverá seguir impactada positivamente tanto pela safra agrícola como pela continuidade da desaceleração doméstica, a qual deverá sustentar a trajetória de desaquecimento da quantidade importada.
O Banco Central americano (Fed) elevou a taxa básica de juros em 25 pb, levando a taxa para o intervalo entre 5,00% e 5,25%. No que tange ao cenário atual, o comitê de política monetária (FOMC) reconheceu a expansão modesta da atividade econômica, a continuidade da força no mercado de trabalho e a persistência da inflação em níveis elevados. Como na última reunião, apesar da afirmação de resiliência do sistema bancário, reconheceu que os episódios recentes envolvendo bancos americanos devem implicar em condições de crédito mais apertadas. Ao contrário do que foi dito na decisão de março, o Fed não antecipou novos aumentos. Ao mesmo tempo, a decisão ressaltou que novos ajustes na taxa de juros visando à convergência da inflação à meta de 2%, se dará mediante a observação dos novos indicadores, levando em conta o efeito defasagem das recentes elevações de juros na economia, sinalizando uma parada no ciclo de aperto.
O presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que os próximos passos dependerão dos dados divulgados até a próxima reunião, em junho. Em entrevista coletiva após a decisão, Powell citou a desaceleração do PIB norte-americano, mas também mencionou o alto nível da inflação e a condição apertada do mercado de trabalho. Dessa forma, o presidente do Fed julgou que o novo aumento na taxa de juros e a “mudança significativa” no comunicado foram o equilíbrio entre os riscos de não controlar a inflação e os de provocar uma retração na atividade muito acentuada. No entanto, vale ressaltar que o presidente do Fed também reforçou que o cenário de corte de juros em 2023 não é apropriado se as projeções atuais de desaceleração gradual dos preços na economia americana se confirmarem.
Os EUA registraram criação líquida de 253 mil vagas de emprego em fevereiro, ficando acima da expectativa do mercado de 185 mil vagas. Entre os setores, cabe destaque para a geração de 31 mil novas vagas no setor de lazer e 43 mil vagas no setor de serviços profissionais e empresariais. Além disso, vale destacar a retomada da abertura de vagas para os setores de varejo e construção civil, que após a destruição de vagas em março, apresentaram aberturas de 8 e 15 mil vagas, respectivamente. Os salários avançaram 0,5% na margem, acima da expectativa do mercado (0,3%). Além disso, na média móvel de três meses, os dados salariais voltaram a apresentar uma aceleração de 0,3% para 0,4%. Em 12 meses, os salários aceleraram de 4,2% em março para 4,4%. Já a taxa de desemprego voltou a mostrar queda na margem, de 3,5% para 3,4%. Em linhas gerais, o mercado de trabalho segue bastante apertado, sem sinais claros de enfraquecimento, com salários ainda em patamar desconfortável (4,4%), pressionando os indicadores de inflação. Diante da robustez do mercado de trabalho e dos salários elevados, mantemos a expectativa que o Fed não terá espaço para corte de juros em 2023, e a taxa básica de juros nos Estados Unidos terminará o ano no patamar atual.
O Banco Central Europeu desacelerou o ritmo e elevou a taxa de juros em 25 bp. A inflação ainda pressionada, combinada com o aperto em curso do mercado de crédito, foi determinante para a decisão do Banco Central Europeu, dentro do esperado pelo mercado e desacelerando em relação à alta de 50 bp das reuniões anteriores. Com isso, a taxa de juros aplicável às operações de refinanciamento e as taxas de juros aplicáveis às linhas permanentes de liquidez e de depósito subiram para 3,75%, 4,00% e 3,25%, respectivamente. Além de reforçar que a inflação está e seguirá elevada por algum tempo, a presidente da instituição Christine Lagarde destacou, na coletiva de imprensa após a decisão, que os juros continuarão subindo nas próximas reuniões, dado que a política monetária não está em nível suficientemente restritivo para trazer o índice de preço de volta para a meta de 2%. Ainda assim, chamou atenção que a transmissão da alta de juros adotada até aqui – de 375 bps – já é percebida nas condições de crédito, com queda da demanda e aperto das condições por parte dos bancos. Nesta semana ainda conhecemos o resultado prévio do índice de preços ao consumidor de abril, com alta interanual de 7,0% do índice cheio e de 5,6% do núcleo. Na passagem de março para abril, por sua vez, os preços avançaram 0,3% e 0,6%, nessa ordem. Mesmo que a inflação já tenha feito pico e os preços de energia e de bens sigam sua tendência de alívio, o nível elevado e o comportamento de serviços demandam atenção e devem manter o BCE com tom duro nos meses à frente. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de mais 2 altas dos juros, de 25 bps, em junho e julho, levando a taxa básica para 3,75%.
Consumo das famílias seguiu impulsionando a economia chinesa em abril, ao passo que a indústria e o setor de construção têm desacelerado. Após forte crescimento observado no primeiro trimestre, os sinais mais recentes são de alguma moderação. O índice PMI do setor de manufatura caiu de 51,9 para 49,2 pontos e o indicador dos setores não industriais recuou de 58,2 para 56,4 pontos, entre março e abril. Somado a isso, dados de alta frequência apontam para arrefecimento importante das vendas de imóveis nas últimas semanas, aumentando as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento. Entendemos que a demanda das famílias continuará em expansão, em resposta à reabertura da economia, com evidenciam os números fortes de turismo, por exemplo. Todavia, a moderação da indústria e a recuperação contida do setor imobiliário residencial justificam nossa cautela para o restante do ano, compatível com a projeção de alta do PIB de 5,7%.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA referente ao mês de abril (BRAM: 0,57%) na sexta-feira. No cenário internacional, as atenções da semana também estarão voltadas para dados de inflação, com a divulgação do índice de preços ao consumidor nos EUA na quinta-feira.