ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Ata do Copom reforça preocupação com as expectativas de inflação
MUNDO: Bancos Centrais sinalizam continuidade do aperto de juros
Eventos da semana
No mercado internacional, o destaque da semana ficou por conta das decisões de política monetária de alguns bancos centrais. Na esteira de dados melhores de atividade e resiliência da inflação de serviços ao redor do mundo, os bancos centrais da Austrália, da Suécia e do México mostraram um tom mais duro em seus comunicados, sinalizando a continuidade da política monetária restritiva nos próximos trimestres. No Brasil, a semana foi marcada pela divulgação do IPCA de janeiro e pelos dados de atividade, considerando as pesquisas de comércio e serviços. O índice de preços ao consumidor amplo, o IPCA, teve alta de 0,53% na margem, abaixo das expectativas do mercado (0,56%). O destaque negativo dessa leitura de janeiro ficou com serviços, que voltaram a mostrar uma aceleração na margem, na métrica da média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada. Por último, os resultados do consumo de bens e serviços foram divergentes em dezembro de 2022: o comércio restrito mostrou queda de 2,6% na margem, enquanto o faturamento do setor de serviços avançou 3,1%.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), houve atualização do cenário econômico. Desde a última reunião do Copom, os dados divulgados apontaram para desaceleração do crescimento. O Comitê destacou que a retração dos indicadores de confiança e produção industrial, comércio e serviços, além de um arrefecimento no mercado de trabalho. O número de admissões tem diminuído e a taxa de desemprego se manteve estável, devido à redução da população ocupada e da força de trabalho. Em relação à inflação, embora tenha havido uma moderação recente, os indicadores continuam em patamar acima do compatível com as metas.
No documento destaca-se também a preocupação com a deterioração das expectativas de inflação. Os membros debateram possíveis razões para esse processo, destacando três possibilidades: 1. possível leniência do Banco Central do Brasil com as metas; 2. uma política fiscal expansionista; 3. antecipação da possibilidade de alteração das metas de inflação. No primeiro caso, o Copom fez questão de destacar seu compromisso com as metas estabelecidas. Em relação ao segundo ponto, o Comitê destacou que a política monetária é a variável de ajuste macroeconômico utilizada para mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal. Por fim, o Copom reafirmou seu compromisso de garantir que a inflação convirja para meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Diante das projeções e dos riscos analisados, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a., avaliando que a manutenção da taxa de juros nesse patamar por um período mais prolongado que o cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação. Com isso, revisamos nossa expectativa para a Selic para o final de 2023, de 12,50% para 13,00% a.a., com início dos cortes a partir do quarto trimestre de 2023.
Em janeiro, a inflação ao consumidor (IPCA) apresentou alta de 0,53%. O resultado veio abaixo da mediana do mercado (0,56%) e em linha com nossa expectativa (0,54%). Com isso, a inflação atingiu variação de 5,8% no acumulado de 12 meses, estável na comparação com o mês anterior. O grupo com maior variação positiva foi Comunicação (2,09%), impactado por uma elevação significativa em TV por assinatura, enquanto o grupo Vestuário foi o que teve a menor variação (-0,27%), seguindo a sazonalidade esperada para o mês. O IPCA de janeiro também apresentou recuo em itens de Cuidados Pessoais (-1,3%), desacelerando em relação a dezembro (3,7%), quando os preços desses itens tendem a subir por conta dos festejos de fim de ano.
Os núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, permaneceram relativamente estáveis com elevação de 5,6%, levando em conta a média anualizada de três meses com ajuste sazonal. Esse resultado reforça o alívio em curso da inflação, mas indica certa estabilidade nas últimas leituras. Apesar de um recuo relevante em relação ao pico do processo inflacionário, quando essa mesma métrica superou 12% em meados de 2022, o patamar ainda não é compatível com a meta de inflação do Banco Central. Com isso, nossa leitura é de que o processo de desinflação em curso ainda requer manutenção do atual grau de aperto monetário nos próximos meses. Em 12 meses, a média dos núcleos mostrou elevação de 8,7% em janeiro, com o núcleo de Serviços e Bens industrializados subindo 7,8% e 8,4% nessa ordem. Diante desses resultados, mantemos nossa projeção para o IPCA deste ano, que deve subir 5,8%. Ao mesmo tempo, a elevação das expectativas de inflação no Focus e o debate sobre alteração da meta de inflação nos levaram a revisar a projeção de 2024 para 4,0%.
Em relação à atividade, as vendas no varejo restrito recuaram 2,6% na margem em dezembro. Na comparação interanual houve alta de 0,4%. Dentre os setores que compõem o varejo restrito, a única contribuição positiva na margem ocorreu no setor de livros, jornais, revistas e papelaria (0,1%). As maiores contribuições negativas vieram de tecidos, vestuário e calçados (-6,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,9%), que engloba o comércio de óticas, artigos esportivos, brinquedos, joalherias, e combustíveis e lubrificantes (-1,6%). O comércio ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção, por outro lado, registrou alta de 0,4% na margem, mas finalizou dezembro com queda de 0,6% na comparação anual. Houve elevação de 2,4% das vendas de veículos na margem, em linha com os indicadores da Fenabrave, e de 1,3% das vendas de materiais de construção, recuperando a queda observada em outubro de 2022. Com esse resultado, o volume de vendas no varejo ampliado está 1,3% abaixo do nível pré-crise. Para as próximas leituras, a tendência é de desaceleração das vendas no varejo, refletindo tanto o processo de substituição entre o consumo de bens e serviços como o menor volume de crédito concedido às famílias.
Por sua vez, o volume total de serviços avançou 3,1% na margem em dezembro. O resultado foi superior à nossa projeção (2,4%) e à mediana do mercado (1,3%). Na comparação anual, o setor teve alta de 6,0%. Com isso, o volume total de serviços encontra-se 14,5% acima do nível pré-crise. Em termos de carrego, a média do 4º trimestre representa alta de 1,0% em relação à média do 3º trimestre de 2022. Apenas um dos cinco grandes setores registrou queda na margem. A contribuição negativa veio de serviços de informação e comunicação (-2,2%), puxados por TI, embora o setor ainda se situe 13,3% acima do nível pré-crise. Por outro lado, as maiores contribuições positivas vieram de outros serviços, setor que contempla, dentre outros, serviços financeiros e seguros, com elevação de 10,3% na margem, situando-se agora 11,6% em relação ao período pré-crise. Para as próximas leituras, a expectativa é de desaceleração do setor de serviços em virtude da redução do crédito disponível e do arrefecimento da renda das famílias.
Sinalização da maioria dos bancos centrais é de que ciclo de elevação de juros se estenderá ainda nos meses à frente, dado o comportamento da inflação. Em diversas decisões de política monetária e discursos de autoridades, a mensagem é de que a desinflação, especialmente de serviços, ainda deve levar tempo, exigindo apertos adicionais dos juros. O Banco Central Europeu inclusive afirmou que a queda da inflação na região observada até agora foi explicada apenas pela redução dos preços de energia, reforçando nossa expectativa de elevação de juros em 0,50 p.p. em março e 0,25 p.p. em maio. Adicionalmente, os bancos centrais da Austrália e da Suécia anunciaram altas de 0,25 p.p. e 0,50 p.p. em reuniões nesta semana, chegando a 3,35% e 3,00% a.a., respectivamente, e sinalizando que ciclo de aperto ainda não acabou. Ainda nos desenvolvidos, os membros do Fed reforçaram a mensagem de necessidade de novas altas, com mais duas altas de 0,25 p.p como cenário base e, em caso de não desaceleração da inflação de serviços e enfraquecimento do mercado de trabalho, altas adicionais podem ser necessárias. Nos emergentes, destaque para o Banco Central do México que surpreendeu o mercado, em uma decisão unânime, com elevação de 0,50 p.p, ante expectativa de 0,25 p.p., levando os juros para 11,0% ao ano. No comunicado, o Banxico sinalizou que deverá manter o ciclo de aumento de juros, mas com redução do ritmo de alta.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para o indicador mensal de atividade (IBC-Br) compilado pelo Banco Central. No cenário internacional, destaque para a inflação nos EUA na terça-feira.