ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS
BRASIL: Prévia da inflação registra 6,18% no acumulado de doze meses até novembro
MUNDO: Ata do FOMC reforça o cenário de desaceleração no ritmo de aperto de juros
No âmbito local, o destaque foram os dados do IPCA-15. A prévia da inflação ao consumidor do mês de novembro apresentou alta de 0,53%, surpreendendo favoravelmente as expectativas do mercado. Além disso, a semana foi novamente marcada pela discussão no âmbito fiscal em relação à formulação da PEC da Transição, assim como o futuro do teto de gastos e o novo arcabouço fiscal. Já no âmbito internacional, o destaque ficou para a divulgação das atas de política monetária dos Estados Unidos e da Zona do Euro. Na ata da reunião de novembro divulgada pelo Fed, o banco central norte-americano revelou que uma possível desaceleração do processo de alta dos juros é adequada para a próxima reunião. Por outro lado, o Banco Central Europeu divulgou que a definição das decisões de altas nas taxas de juros irão depender dos dados de cada encontro, com as decisões baseadas na evolução da inflação e da atividade econômica, sem prover uma indicação mais clara sobre os próximos passos.
Em novembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) apresentou alta de 0,53%. O resultado veio abaixo da nossa expectativa (0,57%) e da mediana do mercado (0,55%). Com isso, a inflação acumulada em 12 meses desacelerou, de 6,85% no IPCA-15 de outubro para 6,18% em novembro. O grupo com maior variação positiva continua sendo o de Vestuário (1,48%), sendo esse o item que mais está pressionado a inflação de bens industrializados. Ao mesmo tempo, o alívio deflacionário que vinha de Combustíveis até o mês passado ficou para trás, saindo de -6,14% para 2,04%. Mesmo assim, essa foi uma das supressas baixistas, uma vez que era esperado uma aceleração mais forte para esse grupo. Outra surpresa baixista foi em alimentação no domicílio (0,60%), que desacelerou em relação ao dado observado no IPCA de outubro (0,80%), mas deve voltar subir no fim de novembro, diante das paralisações ocorridas em algumas rodovias do país que pressionaram os preços de alimentos in natura. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal também apresentou queda, de 6,9% para 6,3%, reforçando o processo de arrefecimento da inflação, apesar do núcleo de serviços e bens semiduráveis ainda pressionados e distantes das metas de inflação. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 9,4% na prévia de novembro. Na margem, o núcleo de serviços subjacentes acelerou de 0,36% no resultado fechado de outubro para 0,56% na prévia de novembro, enquanto bens semiduráveis voltou a acelerar de 0,73% para 1,03%. Nossa expectativa é que o processo de desinflação continue nos próximos meses, fazendo com que o IPCA alcance 6,0% e 5,2% em 2022 e 2023, respectivamente.
Em relação aos dados do balanço de pagamentos, o saldo em conta corrente registrou déficit de US$ 4,6 bilhões em outubro, acumulando déficit de US$ 60,3 bilhões nos últimos 12 meses, equivalente a 3,3% do PIB. As séries sofreram revisão relevante pelo Banco Central, decorrentes tanto da incorporação do dados anuais de 2021 como da revisão extraordinária na conta de transportes. Para 2021, a revisão resultou em aumento do déficit em transações correntes de US$27,9 bi (1,74% do PIB) para US$46,4 bi (2,88% do PIB), decorrente de mudanças nas contas de renda primária e de serviços. Em relação ao período de janeiro e setembro de 2022, o déficit em transações correntes foi revisto de US$29,6 bi para US$39,4 bi, principalmente pela revisão dos dados de transportes. O saldo de IDP foi revisto de US$70,7 bi para US$68,4 bi por conta de informações retroativas quanto a amortizações de operações intercompanhia por meio de exportação de mercadorias. Em outubro de 2021, o déficit havia alcançado US$ 6 bilhões. A melhora interanual refletiu o menor déficit na conta de renda primária ( US$ -4,1 bi, ante US$ -5,23 bi), mesmo com piora na conta de serviços (US$ -3,4 bi, ante US$ -2,5 bi) . Por outro lado, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$5,5 bilhões em outubro de 2022, ante US$3,4 bilhões em outubro de 2021.
No cenário internacional, foram divulgadas as atas dos dois principais bancos centrais. Nos EUA, a ata da reunião de novembro — na qual o Fed elevou a taxa de juros para o intervalo entre 3,75% e 4,00% — revelou que a maioria dos membros defende uma desaceleração do ritmo de alta dos juros em breve. Nas quatro últimas reuniões, o Fed elevou a taxa de juros em 75 pb. O mercado de trabalho, na visão do comitê, permanece muito forte, mesmo frente ao processo de elevação de juros. Sobre a inflação, os membros mantêm a visão de um patamar inaceitavelmente alto, embora reconheçam que as pressões de curto prazo apresentem algum arrefecimento com a queda dos preços de commodities e melhora da condições de oferta de bens. Ainda assim, os riscos de alta prevalecem para a inflação. Os membros do comitê avaliam que o mercado de trabalho segue muito apertado, com a taxa de desemprego próxima do menor patamar da história. A respeito da evolução da atividade, a expectativa é de crescimento abaixo do potencial, com viés de baixa em relação ao cenário base. Em resumo, a ata do FOMC reforça o cenário de desaceleração no ritmo de aperto de juros. A nosso ver, na reunião de dezembro o Fed realizará um aumento de 50 pb e chegará ao final do ciclo com uma taxa terminal de 5,00%.
Na Zona do Euro, a ata da última decisão do Banco Central Europeu reforçou a leitura que os riscos de inflação são predominantemente de alta, ao mesmo tempo em que o viés para a atividade é para baixo. Mesmo assim, o documento destacou que alguns setores da atividade econômica têm surpreendido para cima, sugerindo que os riscos de uma recessão seguem presentes, mas são menores do que o considerado anteriormente. Além disso, dada a incerteza olhando à frente, os resultados correntes da inflação continuam decisivos para os próximos passos da política monetária. Somado a isso, alguns membros do comitê discutiram a possibilidade de elevar a taxa de juros em 50 pb, ainda que a maioria tenha optado por uma alta de 75 pb naquele momento. Para a próxima decisão, em dezembro, acreditamos que o cenário mais provável é de desaceleração do ritmo de ajuste, para 50 pb e a discussão relacionada à redução dos estímulos quantitativos também deve ganhar força. Mesmo que o alívio dos preços de energia reduza as preocupações com a inflação à frente, o desempenho ligeiramente mais favorável da economia e o elevado nível da inflação corrente ainda sustentam nossa visão de que o Banco Central Europeu levará a taxa de juros para níveis próximos a 3,00% em 2023.
Reforçando a visão dos bancos centrais sobre o desempenho da economia, sondagens indicam desaceleração nos Estados Unidos e ligeira melhora na Zona do Euro. O resultado prévio do índice PMI Composto da Zona do Euro, que incorpora indústria e serviços, apontou avanço de 47,3 para 47,8 pontos entre outubro e novembro. Ainda que tenhamos observado uma elevação que surpreendeu positivamente as expectativas, o indicador permanece em um nível de atividade em contração (abaixo de 50 pontos). A composição revelou melhora da indústria, de 46,4 para 47,3 pontos no mês, enquanto o setor de serviços permaneceu estável na margem, em 48,6 pontos. Em direção oposta, nos EUA, houve queda do indicador. O índice composto caiu de 48,2 para 46,3 pontos em novembro. O resultado refletiu a piora da confiança tanto no setor de serviços (46,1 ante 47,8 pontos) como na indústria (47,6 ante 50,4 pontos).
Somado a isso merece destaque o importante alívio dos indicadores de custo, mesmo que persistam as expectativas de menor crescimento econômico. Nos EUA, indústria e serviços indicam menor demanda à frente, refletindo em grande medida as condições financeiras mais apertadas. Ao mesmo tempo, há melhora nos gargalos de oferta derivados da pandemia, impactando diretamente os preços de insumos. Na Zona do Euro, houve redução dos riscos associados à oferta de energia diante da aproximação do inverno, dada a formação de estoques de gás natural e às temperaturas amenas até o momento (o que, por sua vez, levaram a um recuo dos preços de gás natural e eletricidade). Com esses resultados, a recessão esperada para a região deve ser de menor intensidade.
Na próxima semana
Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do PIB do 3° trimestre na quinta-feira e para dados de produção industrial, na sexta-feira. Ainda, serão publicados os dados do mercado de trabalho na terça e quarta-feira. No cenário internacional, os destaques também são voltados para o mercado de trabalho, tanto na Zona do Euro como nos Estados Unidos, na quinta e sexta-feira, respectivamente.