ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

ENFOQUE MACRO | INFORME SEMANAL E PERSPECTIVAS

BRASIL: Banco Central reforçou sua estratégia para a política monetária

MUNDO: Rebalanceamento do consumo entre bens e serviços nos EUA segue em andamento

No cenário internacional, o destaque ficou para a continuação da sinalização dos bancos centrais sobre a necessidade de elevar as taxas de juros globais para um campo mais restritivo, de forma a assegurar a ancoragem da inflação. Nesse contexto o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, reforçou que a instituição enfrenta uma “situação econômica excepcional” e que está “comprometido a usar todas as ferramentas para que a economia supere esse período desafiador”. O pronunciamento corrobora nossa visão que o Fed deverá continuar a subir a taxa de juros (em direção a 4,75%), acentuando a tendência de fortalecimento do dólar perante a maioria das moedas. Na mesma linha, o banco central mexicano elevou a taxas de juros para 9,25%, com alta de 75 pb. Destaque também para as revisões das projeções para a inflação, reforçando a preocupação do banco central em relação à persistência inflacionária no México. Somado a isso, os preços dos ativos globais reagiram aos eventos no Reino Unido, onde a autoridade monetária interveio nos mercados, comprando títulos de longo prazo, para conter riscos sistêmicos, após a forte abertura de juros e depreciação da moeda, que refletiram a avaliação negativa do pacote fiscal anunciado na semana passada. No Brasil, o destaque ficou para a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação e dos dados de emprego referentes a agosto.

Em dois documentos divulgados nesta semana, o Banco Central revelou mais detalhes sobre sua estratégia para a política monetária. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a Selic foi mantida em 13,75%, os membros detalharam a indicação de que não hesitarão em retomar um ciclo de aperto monetário, caso o processo de inflação não transcorra como o esperado. Em primeiro lugar, o Comitê destacou que bancos centrais do mundo têm adotado uma postura mais restritiva. Com isso, essas medidas teriam impacto desinflacionário no médio prazo para o Brasil, dado pela abertura do hiato global, mesmo frente ao reapreçamento de ativos no curto prazo. Além disso, no ambiente externo, reconheceu que embora haja uma normalização nas cadeias de suprimento e nos preços de commodities, o baixo grau de ociosidade no mercado de trabalho dessas economias poderá postergar a queda da inflação no setor de serviços. Em seguida, para o cenário doméstico, o principal destaque da ata é sobre o cenário utilizado nos seus modelos e o grau de ociosidade da economia brasileira. O Comitê se mostrou ciente da percepção do mercado de um hiato do produto mais estreito que o adotado em suas projeções, entendendo que o crescimento observado pode estar mais próximo do potencial. Nesse sentido, o documento apresentou uma hipótese alternativa de hiato igual a zero para o terceiro trimestre de 2022. Sob essa hipótese, as projeções permanecem próximas ao cenário base: 4,9% (contra 4,6%) e 3,0% (contra 2,8%) para 2023 e 2024, respectivamente. Outro destaque foi a avaliação que não houve mudança substancial nos canais de transmissão de política monetária, e dessa forma, a maior parte do impacto da elevação de juros ainda deverá ser observada.

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o Banco Central revisou as projeções de IPCA e PIB para 2022 e 2023. A novidade do relatório ficou por conta da revisão do PIB para este ano. Para o ano de 2022, a projeção passou de 1,7% em junho para 2,7% em setembro, contando com um aumento da participação do consumo das famílias (3,9% ante 1,7%) e uma melhora significativa da formação bruta de capital fixo (-2,7% para -0,4%). Contrabalançando as revisões altistas, agropecuária ficou estável (ante 2,2%). Para 2023, o documento traz a projeção de 1,0%, com menor participação da demanda interna e com expectativa de desaceleração da atividade global. Para o ano, o setor de agropecuária deve ser destaque para o crescimento do PIB, com variação de 7,5%. Sobre a inflação, a projeção do Banco Central no seu cenário base também sofreu alterações. Para 2022, caiu de 8,8% em junho para 5,8% em setembro. Para 2023, recuou de 4,0% para 4,6% e para 2024, que ganha maior importância já no próximo relatório, passou de 2,7% para 2,8%. O relatório também incluiu o ano de 2025, com variação de inflação acumulada para o final do período em 2,8%. Vale destacar que para o Banco Central, as projeções de inflação dos anos de 2024 e 2025 se encontram abaixo da meta de 3% em função do elevado nível de juros real incorporado nas projeções do mercado que constam do Relatório Focus.

Em resumo, os dois documentos reforçam a intenção do Banco Central de manter o ciclo de juros em 13,75%, embora se mantenha vigilante em relação ao processo de desinflação. Os dois documentos convergem na percepção de uma atividade corrente ainda resiliente, mas que deve apresentar desaceleração ao longo dos próximos trimestres, tendo em vista a necessidade de manter o aperto monetário até que haja evidências de queda da inflação. Na nossa visão, o Copom deve manter a taxa de juros em 13,75% ao ano até o segundo trimestre do próximo ano, quando começará a reduzir a taxa em direção a 10,00%ao final do ano.

Em setembro, a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) mostrou queda de 0,37%, marcando o segundo mês de deflação. O resultado veio abaixo da nossa expectativa e da mediana do mercado (-0,18% e -0,20%, respectivamente). Com isso, a inflação acumulada em 12 meses desacelerou, de 9,60% no IPCA-15 de agosto para 7,96% em setembro. Os maiores desvios vieram dos grupos de comunicação (-2,74%), transportes (-2,35%) e alimentação e bebidas (-0,47%). Pelo lado altista, destaque para a aceleração de 1,66% em Vestuário. Em serviços, o principal destaque foi para passagem aérea de 8,2%, ante deflação de 12,22% no mês anterior. Mesmo assim, esse foi um dos itens que contribuiu para surpresa negativa, dado que a maior parte das coletas indicava uma variação mais elevada para esse item. O núcleo de serviços subjacentes desacelerou de 0,73% no resultado fechado de agosto para 0,65% na prévia de setembro. Vale destacar que para o grupo de preços monitorados, os últimos três resultados apresentaram desaceleração média de 2,53% por mês, grande parte puxada por combustíveis. No mês, os preços de gasolina e etanol recuaram 9,78% e 10,10%, respectivamente. Com relação aos núcleos, que são métricas que excluem ou suavizam itens voláteis, a média anualizada de três meses com ajuste sazonal voltou também a aliviar, de 9,84% para 8,71%, reforçando o processo de desaceleração da inflação, apesar dos núcleos ainda estarem em patamares elevados. Em 12 meses, a média dos núcleos alcançou 10,25%. Nossa expectativa é que o processo de desaceleração continue nos próximos meses, fazendo com que o IPCA alcance as variações de 5,3% e 4,9% para 2022 e 2023, nessa ordem.

Dados de agosto seguiram apontando evolução favorável do mercado de trabalho. A taxa de desemprego, medida pela PNAD, chegou a 8,9% no trimestre encerrado em agosto. Na série com ajuste sazonal, a taxa recuou de 9,0% para 8,9%. A menor taxa de desemprego na margem pode ser atribuída à alta de 0,1% da população ocupada, dado que a força de trabalho ficou estável. Houve elevação na margem de trabalhadores formais (0,7%), com maior influência de empregados no setor privado com carteira assinada e empregados no setor público, e recuo de informais (-0,3%), com maior contribuição de trabalhadores por conta própria sem CNPJ. Dentre os setores de atividade, as maiores contribuições positivas para o crescimento dos ocupados vieram de serviços prestados às empresas (1,1%), administração pública (0,7%) e outros serviços (2,3%). O rendimento médio real habitual teve alta de 0,8% na margem em agosto. Com isso, a massa de rendimento real avançou 0,3% no mês, aproximando-se do nível pré-crise.

Em linha com a evolução da ocupação registrada na PNAD, o Caged registrou a criação líquida de 278,6 mil vagas em agosto. Com ajuste sazonal, o saldo foi positivo em 198 mil postos de trabalho, após 178 mil em julho e média de 212 mil vagas no segundo trimestre. Na abertura por atividade, todos os setores registraram resultado positivo, com destaque para serviços (84 mil, ante 110 mil em julho), comércio (28 mil, ante 43 mil) e indústria de transformação (27 mil, ante 35 mil). Para o resultado líquido do mês passado, observa-se queda na margem de admissões (-6,1%) em ritmo inferior ao de demissões (-7,8%). Ainda assim, o patamar de admissões supera em 33% o nível pré-crise. Tanto os dados da PNAD quanto os do Caged evidenciam um mercado de trabalho firme em termos de ocupação e força de trabalho, que já superou o nível pré-crise. No entanto, permanecem incertezas a respeito da recuperação dos salários em termos reais em meio à queda de qualidade das ocupações no período recente.

O setor público consolidado apresentou déficit primário de R$ 30,3 bilhões em agosto de 2022, ante superávit de R$ 16,7 bilhões em agosto de 2021. O resultado veio em linha com a nossa expectativa (-R$ 31 bilhões) e abaixo do mercado (-R$ 26 bilhões). Em 12 meses, o déficit primário acumulado foi equivalente a 2,0% do PIB, enquanto o resultado nominal, que inclui o cálculo dos juros, também se encontra deficitário em R$ 392,0 bilhões (4,20% do PIB). A dívida bruta do governo geral atingiu R$ 7,2 trilhões, equivalente a 77,5% do PIB, com redução de 0,7 p.p. na margem. Para o ano, avaliamos que o resultado primário encerrará com superávit de R$ 131 bilhões (1,3% do PIB). Para a dívida bruta projetamos 77,5% do PIB.

Nos EUA, o Departamento de Comércio apontou que os gastos com consumo (PCE) avançaram 0,1% na margem em termos reais em agosto. O resultado ficou em linha com a expectativa do mercado. Na composição, o indicador mostrou avanço de 0,2% do consumo de serviços e recuo de 0,2% do consumo de bens. Em termos de preços, a inflação subiu 0,3% na margem, com avanço de 0,6% no núcleo da inflação (exclui alimentos e energia), acima das expectativas. A inflação de bens teve recuo de 0,3%, ante alta de 0,6% em serviços. Em termos anuais, a inflação acelerou de 4,7% para 4,9%. Os dados de agosto corroboraram a tendência de aprofundamento do rebalanceamento entre o consumo de serviços e bens, movimento que deverá ser aprofundado no último trimestre.

Na Zona do Euro, a inflação segue pressionada, para além dos preços de energia. Segundo resultado prévio para setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, o índice de preços ao consumidor acelerou, passando de uma alta de 9,1% em agosto para outra de 10,0% em setembro, com elevação de 1,2% ante agosto, superando as expectativas (de 9,7% e 0,9%, considerando as comparações interanual e na margem, respectivamente). Esse resultado é influenciado principalmente pelos preços de energia, que subiram 40,8%. Ainda assim, merece atenção o resultado do núcleo de inflação, métrica que exclui alimentos e combustíveis e costuma receber mais atenção por parte das autoridades monetárias, que acumulou alta de 4,8% nos últimos 12 meses ante elevação de 4,3% registrada em agosto. Com base na inflação já observada e nas perspectivas de que os preços de energia continuarão pressionados, esperamos alívio gradual da inflação nos trimestres à frente. Esse cenário, finalmente, sustenta nossa expectativa de que o Banco Central Europeu subirá a taxa de juros, hoje em 1,50%, em 75 pb na sua próxima reunião, no final de outubro, levando a taxa terminal para 3,5% em meados de 2023.

A economia chinesa tem mostrado sinais mais favoráveis, ainda em nível deprimido com divergências entre o desempenho do consumo e dos investimentos. Entre agosto e setembro, o índice PMI da Indústria avançou de 49,4 para 50,1 pontos, enquanto o indicador não ligado ao setor manufatureiro caiu de 52,6 para 50,6 pontos (com melhora do setor de construção e queda de serviços). No agregado, o índice composto recuou de 51,7 para 50,9 pontos, seguindo no campo expansionista. Com esses resultados, destacamos dinâmicas importantes: (i) o consumo das famílias continua bastante fraco, em grande medida influenciado pelas restrições ainda presentes ligadas à política de controle da pandemia; (ii) a indústria começa a ser impactada negativamente pela desaceleração das exportações; e, por outro lado (iii) a melhora de construção tem sido explicada pela aceleração das obras de infraestrutura e pela recente recuperação – em base fraca – do setor imobiliário. De fato, as vendas de imóveis residenciais avançaram de forma considerável em setembro e o governo vem lançando mão de diversas medidas de suporte ao setor. Com isso, entendemos que os riscos baixistas para a economia chinesa vêm se reduzindo, mesmo que muitas incertezas sigam no nosso radar e ainda não indiquem forte recuperação.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação dos dados de atividade. A Pesquisa Industrial Mensal será divulgada na quarta-feira, enquanto a Pesquisa Mensal do Comércio será na sexta-feira. No cenário internacional, destaque para o Relatório do Emprego nos Estados Unidos, na sexta-feira e o resultado dos índices PMI de diversos países ao longo da semana.

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